Você me curou de você mesmo

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— Eu tenho boas e más notícias.

— Diga. — disse Meredith, fechando seu livro.

— Bom, eu encontrei um lugar fantástico, vista para o mar, varanda, silencioso se você quiser escrever, tem até uma escrivaninha, e está vago pelos próximos cinco dias, ou mais.

— E a má notícia?

— Só tem uma cama. – mordeu levemente o lábio.

— É mesmo? — perguntou, desconfiada. — Só um quarto nessa ilha inteira? – arqueou uma das sobrancelhas.

— Nós estamos na alta estação, Mer! Eu tentei em toda parte! Mas se você quiser que eu continue procurando... — Com um ar cansado, fez menção de levantar da cadeira.

Meredith o segurou.

— Cama de solteiro ou de casal?

— De casal e grande.

— Bem, teria de ser uma cama bem grande, não é? Para estar de acordo com as regras.

— Eu não me importo se você não se importar.

— Sim, eu sei que você não se importa...

— Mas se você realmente acha que não pode manter as mãos longe de mim...

— Ah, eu consigo, é com você que eu me preocupo.


Os dois saíram na hora do almoço, caminhando até a praia que havia ali perto. Um calor infernal, daqueles que você só tem vontade de ficar deitado em frente ao ventilador o dia inteiro, sem mexer um músculo sequer. Após tirar o vestido e ficar de maiô, juntou-se a Derek sobre a toalha. Ele vestia uma bermuda e a observava atentamente.

— Com licença, — disse ele — você não é a Garota de Ipanema?

— Não, sou a tia dela. — Sentou-se, tentando passar o protetor solar nas pernas.

— Que negócio é esse? — ele perguntou.

— Fator trinta.

— Seria melhor ficar debaixo de um cobertor.

— Não quero exagerar no segundo dia.

— É como um revestimento de pintura externa.

— Eu não estou acostumada ao sol. Não sou como você, homem do mundo. Quer um pouco?

— Eu sou contra protetor solar.

Meredith revirou levemente os olhos, sorrindo.

Ele sorriu e continuou a observá-la por trás dos óculos escuros, notando a zona da pele clara e macia perto do pescoço. Havia algo em seus gestos também, a inclinação da cabeça e o cabelo jogado para trás quando passava a loção na nuca, e sentiu aquela agradável vertigem que costuma acompanhar o desejo. "Meu Deus", pensou, "mais oito dias disso". O maiô era bem decotado na parte de trás, e ela não conseguia alcançar o ponto mais baixo.

— Quer que eu passe nas suas costas? — Oferecer-se para passar bronzeador numa garota era uma artimanha velha e cafona, muito abaixo do nível dele, por isso fez questão que aquilo parecesse uma precaução médica. — Você não vai querer se queimar.

— Tudo bem, pode passar.

Meredith se ajeitou e sentou entre as pernas dele, a cabeça descansando sobre os próprios joelhos. Derek começou a aplicar o protetor, o rosto tão próximo que ela sentia sua respiração no pescoço, e ele sentia o calor refletido da pele dela, com ambos fazendo de tudo para dar a impressão de que aquilo era um comportamento trivial e de forma alguma representava uma quebra das regras dois e quatro, a que proibia o flerte e a do recato físico.

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