Mark não estava pronto para acordar todas as manhãs e não vê-la na cozinha se preparando para escola, Ikel não estava pronta para olhar para o lado a noite e não ver a irmã dormindo ao seu lado. Não estavam prontos para sabe se lá o que aconteceria com ela.
—Não, ela não pode ir, ela ainda tem dezesseis anos, eles não podem levar ela mãe não vamos deixar— o garoto se levantou e agora andava em direção a mãe.
Ikel estava atônita em seu lugar, não podia acreditar que iria acontecer tão cedo.
—Mark!— gritou a caçula chamando a atenção de todos- eles não vão me "levar"— declarou fazendo pouco caso da última palavra— é um convite, para poucas meninas, apenas as que tem capacidade para serem as melhores recebem.
Ikel riu do modo convencido com que a irmã falava, chamando a atenção de todos para si.
—Capacidade para o que exatamente Akassia? ser vendida sem se importar nem um pouco com o direito tomado do seu corpo?— o tom ácido na voz de Ikel fez a mãe lhe repreender com o olhar— ou de não sentir nem um pingo de tristeza por sair de casa? ou compaixão pelos sentimentos da mãe?
—Ikel já chega!— o modo duro na voz de sua mãe a fez virar o rosto, estava se segurando para não chorar.
Queria abraçar a irmã e lhe dizer que tudo ficaria bem, que se ela quisesse fugir ela ajudaria, mas sabia que essa era a última coisa que ela queria.
—Sua irmã recebeu uma chance de ouro, poucas garotas recebem, devemos ficar gratas por nos escolherem— a mãe falava tentando parecer satisfeita com a situação- esta seleção levará sua irmã ao caminho certo, será escolhida para um bom destino e devemos ficar felizes com isso.
Ikel não acreditava em uma palavra que saia da boca da mãe, sabia que eram falsas, que o sentimento verdadeiro estava sendo escondido mais uma vez. Mamãe sabia que não havia como impedir que levassem Kass, por mais que sua filha mais velha tenha lhe dado muitas ideias.
— Ela e obrigada a ir?— Mark estava agora parado olhando para a rua, em pé na única janela do pequeno cômodo.
—Não querido- a mãe tentava falar em um tom doce, fazendo esforços para reconfortar os filhos, com a iminente perda de sua irmã caçula.
—Então e só ela não ir— a obviedade na voz de Ikel fez sua irmã soltar uma pequena risada de desaforo.
—E lógico que eu vou— a raiva em seu olhar era clara— e uma oportunidade única de me preparar para o que eu sempre quis. Eu finalmente fui escolhida para algo grande, que pode ajudar a mamãe no futuro. Vocês são idiotas ou o que?
O clima outrora de tristeza pela perda precoce da irmã, agora dava lugar a raiva, a falta de entendimento dos irmão fazia Akassia perder a paciência rapidamente, algo que sempre lhe acontecia.
—Não finja que está fazendo isso para ajudar a mamãe— ikel agora caminhava em direção a irmã com os punhos cerrados.
Kass lhe lançou um pequeno sorriso, o que fez com que ficasse com mais raiva.
—Talvez sim, talvez não, o que importa e que de um jeito ou de outro todos saem ganhando—rebateu com frieza no seu tom— mamãe recebe uma bela grana por mim, grana essa que você e Mark nunca foram capazes de por dentro de casa.
—Agora já chega Akassia!— Gritou a mãe batendo na parede atrás dela, fazendo um som que ecoou chamando a atenção de seus filhos.
—Só quer fazer isso porque e uma garotinha fútil e mimada, que tem um sonho tolo de ser rica, não importa o que isso lhe custe— rebateu Mark para a surpresa de todos.
Geralmente as brigas dentro de casa aconteciam entre as meninas, uma hora por uma roupa, ou uma escova de cabelo, quase sempre sobre as aulas que a irmã mais nova fazia e a outra odiava. Porém Mark nunca participava, era claro que uma vez ou outra ele dava um jeito de implicar com as garotas mas nada muito grande e que se arrastasse por dias como acontecia com elas. Ele nunca era duro de mais, ou rude demais, procurava ficar em paz pelo bem da mãe que já tinha muita dor de cabeça. Por isso o pronunciamento repentino fez com que as três mulheres paradas na sua frente o olharassem assustadas, especialmente Akassia que tinha uma dor nova em seu olhar.
— Eu quero ser rica sim- diz a menina olhando diretamente para o irmão- eu quero sair desse fim de mundo e ser alguém- tentava segurar as lágrimas que estavam presas em seus olhos- eu quero ter um ar-condicionado ao invés de um ventilador enferrujado, eu quero uma casa grande com mais de uma janela. E querem saber?— ela agora olhava cada um nos olhos— Eu vou sim ser a mulher de algum homem rico, eu vou ser da elite, e eu vou ser muito boa nisso, e sabem porque?
Ela olhou um a um antes de proferir suas últimas palavras.
— Porque eu sempre fui melhor que vocês, eu nasci para isso, para a grandeza. Eu não vou ficar nesse fim de mundo apodrecendo como uma maçã ao lado de vocês— ergueu a cabeça enquanto virava as costas e ia em direção ao seu quarto.
Os outros três ficaram atônitos na sala até ouvirem o barulho da porta batendo. Não podiam acreditar no que acabaram de ouvir, não se parecia com algo que Kass falaria, era evidente as vontades da menina desde nova, mas ela nunca havia falado daquela maneira, tão rude e dura.
— Aquela filha da...
— Ikel— repreendeu o irmão antes que pudesse terminar a frase.
Olhou para trás e pode perceber o olhar perdido da mãe em direção ao piso. Os irmãos poderiam não se importar muito com o que acabaram de ouvir, e lógico que doía para eles, mas era algo que poderiam deixar passar depois de três semanas, mas a mãe parecia destruída. Os dois andaram até ela passando seus braços ao seu redor e deitando suas cabeças em seus ombros. Mark a conduziu até o sofá para que sentasse.
— Mamãe, sabe que ela não estava falando de você né? ela só queria implicar com a gente, aquela pirralha sempre foi assim— falou Ikel em um tom baixo enquanto acariciava as mãos calejadas de sua mãe.
— Ela ama a senhora, só ficou um pouco estressada pelas coisas que ouviu. Falou da boca pra fora— complementou Mark
— Está tudo bem, vamos deitar que amanhã as coisas iram se resolver.
Apesar do sorriso em seu rosto, até um cego poderia reconhecer a dor que saia junto daquelas palavras. Tentaram sorrir de volta mas estavam perdidos demais para qualquer ação rápida. Mark acompanhou a mãe até o quarto e depois não voltou mais. Ikel ficou na sala com a companhia do som do ventilador e seus pensamentos.
Em uma coisa Kass tinha razão, o dinheiro que receberiam por ela seria mil vezes mais do que o salário que Mark ganhava, ou o dinheiro das quinquilharias que Ikel roubava. Não achava justo a irmã ter que passar por isso, apesar de todas as falas duras e de todas as brigas ela a amava com todo o seu coração. Sua pequena princesinha loira. Se lembrava de quando eram pequenas e ficava fazendo tranças no cabelo da irmã, essas que a mesma usa até hoje. Achava que a irmã era nova demais para entender o que tudo isso significava, o que iria acontecer com sua vida, ela vivia em um sonho, que encontraria seu príncipe encantando em um reino mágico. Mas a realidade não era essa, os príncipes de Iliria não eram como os dos contos e a vida nos castelos poderia ser muito mais dura do que a pequena poderia imaginar.
— Espero que tenha sorte— sussurrou no escuro sentindo as lágrimas descerem por suas bochechas.
A preocupação foi se tornando pensamentos turvos e logo o sono tomou conta da garota lhe permitindo descansar de todo o estresse do dia. Desejou sonhar com uma vida diferente, onde seu pai ainda estava vivo ensinando Mark a fazer os móveis na serralheria, onde não levariam sua irmã e as duas fariam tranças no cabelo para subirem nas árvores de maçã dos vizinhos, onde sua mãe nunca deixou de dar aula e ainda era feliz. Abriu os olhos por um instante apenas para ter certeza que a realidade era outra, muito mais dura e dolorosa.
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Gostaria de agradecer a todas as pessoas que votaram e deixaram comentários no meu livro, isso me incentiva a continuar postando e me deixa muito feliz. De coração na moralzinha muito obrigada a todos, espero que estejam gostando.
xoxo

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A lenda de Drogon
FantasyAte onde vai sua lealdade quando a pessoa a quem jurou já esta morta? Em Illiria vive uma sociedade separa pelo poder dos mortos. Ikel vivia sua vida razoavelmente estável em sua casa, com suas janelas minúscula e sua família, nunca pensou que pode...