A lenda de Drogon

Capítulo 3

Conforme as horas iam passando o salão se enchia de várias outras mulheres, essas por sua vez pareciam fazer parte da elite de Ilíria, carregam com si joias exorbitantes e vestidos tão grandes que Ikel se cansava apenas de as observar andando com tanto pano, contudo apesar de todo o ouro e brilho ela mantinha seus olhos presos em sua irmã, que usava um vestido azul longo e simples sem muitos detalhes apenas com os broches prateados em suas alças contrastando com o resto, todas as meninas da vila usavam o mesmo vestido variando apenas em suas cores, o cabelo de Akassia estava preso em uma trança que descia sobre seu ombro.

Ela se mantinha ereta com a cabeça erguida, apesar de parecer segura Ikel podia ver a preocupação e nervosismo em seus olhos, o modo como percorriam inquietos o salão deduravam o estado da irmã. Ikel não conseguia se concentrar no piano a sua frente ou nos colegas musicistas ao seu redor, nem mesmo nas mulheres chique que passavam diante de seus olhos sem ao menos olhar em sua direção ignorando totalmente a existência dos músicos. Seus sentimentos internos estavam todos embaralhados, certamente o medo havia crescido dentro de si, e se sua irmã a reconhecesse, ou talvez ela errasse uma nota agora que o nervosismo fazia suas mãos tremerem.

— Ikel acorda!— chamou Josh em um tom ríspido mas baixo o suficiente para que apenas ela escutasse— Sua vez, não erre.

Os olhos do homem ao seu lado demonstravam exatamente a raiva que ele sentia enquanto olhava para ela, sabia que ele estava apenas preocupado que ela acabasse com a reputação de sua pequena orquestra, ainda mais em uma apresentação tão importante. Sua primeira apresentação ocorreria durante a entrada dos reis e seus filhos e seguiria durante a noite junto com os demais. Não saberia dizer o que mais a preocupava em toda a situação, apenas tinha certeza de que seus dedos estavam travados e suas pernas inquietas.

Juntou o máximo de ar que conseguia em seus pulmões os soltando lentamente enquanto alongava sua coluna e posicionava seus dedos em cima das teclas, fechou os olhos sentindo o toque frio na ponta de seus dedos. Logo começou a tocar, sentindo um calor dentro do seu peito, sentindo a música saindo através do seu toque, não ouvia mais nada ao seu redor, fechava suas pálpebras com tanta força que podia senti uma dor surgindo ao redor de sua cabeça, naquele instante não importava quem estava ao seu redor ou quem entraria por aquelas portas, Ikel apenas queria entender o que estava sentindo, contudo ela não tinha tempo para isso, precisava se dedicar, prestar atenção e ser perfeita. Quando a música chegou ao fim podia sentir as juntas de seu dedos doloridas devido a força que usou, abriu os olhos lentamente sentindo eles arderem por causa da luz forte do ambiente. Notou que a família real estava em frente aos seus assentos e todos ao redor faziam reverência, inclusive os músicos, ela se levantou percebendo que o olhar do príncipe estava cravado em sua direção e logo em seguida se juntou aos demais em uma reverência demorada demais em sua opinião.

— Bem vindos filhos de Ilíria, a nossa centésima seleção— falou calmamente a rainha enquanto se sentava em seu trono

— A seleção acontece anualmente, dando a várias meninas a oportunidade de crescimento, de serem alguém de valor em nossa sociedade— Continuou o rei.

Ikel sentiu algo subindo em sua garganta após ouvir a fala do rei, não conseguia acreditar que alguém de fato acreditava que a seleção trazia algum benefício. Olhou por um instante para Akassia, sua irmã tinha um pequeno e discreto sorriso em seus lábios, sentiu uma pontada em seu coração, sentia pena da vida que a irmã poderia levar assim que tudo isso acabasse e ela fosse para o seu destino final, sem sua família.

— As moças aqui hoje, acompanhadas pela senhora Farah da casa Tharf, foram escolhidas para uma oportunidade que poucas chegaram a ter um dia e algumas sequer imaginaram. Estão aqui porque nós, os pais de Ilíria acreditamos que cada uma e especial de sua maneira. Que cada uma tem algo de valor a agregar ao nosso reino, cada uma tem um dom— A voz da rainha saia doce de sua boca, como a voz de uma mãe tentando convencer os filhos de que eles são de fato especiais.