—Pode fechar?— perguntou Gisel se referindo ao zíper em suas costas.
Ikel concordou com a cabeça caminhando em direção a mesma. Quando Gisel olhou para ela demonstrou uma surpresa em seu olhar, parou de fazer suas tranças ficando agora de frente para a mesma.
— Você está incrível— Declarou passando seus olhos por todo o vestido de Ikel.
— Você também está— Falou com um sorriso tímido nos lábios.
— Eu não entendo— continuou ignorando o elogio da menina— Porque está com este vestido?— ela encarava os olhos de Ikel esperando uma resposta.
— Foi o que me entregaram, porque? há algo de errado?
— Não!— respondeu Gisel apressadamente enquanto segurava os braços da garota a sua frente — e que haviam me falado que todos os músicos do palácio tocavam com vestes pretas, e apenas com essa cor, fiquei surpresa ao vê-la assim.
— Talvez tenham se enganado, ou as coisas mudaram— ela agora estava parada diante de um grande espelho encarando a própria imagem sem acreditar no que estava vendo.
Poderia até dizer que estava parecida como uma filha das grandes famílias.
—E talvez— Gisel deu de ombros voltando a terminar de se arrumar— quer fazer uma trança?
— Não, gosto do meu cabelo solto.
As duas se olharam e voltaram a ficar em silêncio, alguns segundos depois Gisel se ofereceu para passar algo no rosto de Ikel e após uma longa olhada no espelho onde notou uma grande quantidade de olheiras e como seu rosto parecia feio dentro daquele ambiente ela acabou cedendo. A mulher passou algumas coisas em seu rosto inclusive um batom avermelhado que ao final deixou Ikel parecendo realmente alguém de importância, nem poderia acreditar que aquela era ela mesma, nunca havia se visto tão bem arrumada.
Pensou por um instante no que sua mãe diria se a visse deste modo, Mark provavelmente tiraria sarro de sua cara mas no final admitiria que ela estava incrível.
— Pronta?— perguntou Gisel lhe entregando uma máscara dourada que ornou bem com o vestido.
Ikel pegou a máscara e logo colocou em seu rosto se sentindo um pouco melhor por saber que estaria escondida diante de todas as pessoas. Caminharam durante alguns segundos que pareceram décadas em cima daqueles saltos, pararam assim que chegaram em uma sala ao lado do que poderia imaginar que seria a cozinha.
— Dez pras seis!— Gritou uma mulher de dentro do local.
Alguns instantes depois eles voltaram a andar, Ikel não aguentava mais estar em cima de algo tão alto e desconfortável, começava a sentir saudades de suas botas que lhe apertavam os dedos. Pararam segundos depois em uma enorme porta com o brasão da família esculpido em dourado com pequenos detalhes vermelhos. O guarda que os acompanhava cumprimentou rapidamente os outros dois que ficavam de prontidão, logo as grandes portas foram abertas e Ikel se impressionou com a imensidão do salão a sua frente.
Apesar de lindo Ikel não podia deixar de notar todas as pessoas que corriam de um lado para o outro apressadamente, cuidando para que tudo estivesse milimetricamente em seu lugar e ao final perfeito.
Chão brilhando, lustres acesos, passos ecoando por todo o salão. Os pequenos saltos das serventes ecoavam pelo recinto avisando a todos de seus serviços, entra uma mulher no salão e leva os pratos, logo entra outra e leva os talheres em seguida uma posiciona as taças e assim vai, Todas vindo e indo com maestria, não pareciam cansadas nem tão pouco irritadas mantinham uma expressão séria em seus rostos enquanto andavam perfeitamente por todo o local.
— Vamos menina—Josh segurou o braço da menina a puxando para seu devido lugar.
Havia alguns instrumentos posicionados em um canto estratégico do salão, ali eles tinham visão de todos os lugares logo poderiam ver todas as pessoas, cada um se posicionou em seu lugar com seus instrumentos em mãos. Ikel se sentou lentamente em seu banco impressionada com a beleza do piano na sua frente, sorriu passando os dedos sobre as teclas do objeto. Segurou o pingente de dragão que a mãe havia lhe dado quando nasceu, queria que ela se sentisse orgulhosa do que estava fazendo, do que estava prestes a fazer.
— Se lembra do que vamos tocar?— Josh a encarava com seu violoncelo já posicionado— Pelo amor dos ancestrais não estrague tudo garota— falou em um tom ríspido .
Ikel se contentou em voltar seu olhar para o salão, sabia o que precisava fazer e apesar de sentir o suor em suas mãos estava confiante, ou pelo menos imaginava que estava. Enquanto a sua hora não chegava ela observava os serventes trabalharem, um rosto em meio a todos chamou sua atenção. O garoto da capital, aquele que havia lhe oferecido carona, estava ali, vestindo um traje branco de Elenite que Ikel nunca havia visto, a jaqueta de escama de dragão branca contrastava com o brasão real bordado em vermelho sangue em suas costas e com a calça preta que usava.
—Agora sim parece um deles—Pensou sem tirar os olhos do menino, ele carregava uma espada em sua cintura e suas mãos eram cobertas com luvas de treino, ele caminhava analisando a todos os detalhes quase como se estivesse inspecionando, de vez enquanto uma servente passava ao seu lado abaixando a cabeça e ele parecia não se importar. Em um instante seus olhos se encontraram com os de Ikel, e apesar de estar coberta com a máscara desviou o olhar com medo que ele a reconhecesse. Não que lhe devesse algo, mas simplesmente o fato de haver um rosto conhecido no local tornava tudo mais desagradável, quando levantou o olhar percebeu que ele havia sumido, soltou uma leve respiração aliviada tentando voltar a se concentrar no que era realmente importante.
Ela iria tocar no castelo, para as pessoas mais importantes de toda a Iliria, quem sabe até os próprios reis não dariam o ar de sua graça, e ela não iria estragar tudo, seria perfeita como Kass era com seus bordados e suas etiquetas, como Mark era fazendo esculturas e móveis e como sua mãe era fazendo exatamente o mesmo que ela faria agora. Não importava mais o que ela pensava, ou o que estava sentindo iria se concentrar no toque das teclas sobre seus dedos, na melodia invadindo seus ouvidos indo até seu coração, iria se concentrar em ser boa e nada poderia estragar aquilo.
As servente já haviam acabado os seus afazeres a um longo tempo, Ikel não sabia com exatidão que horas eram mas sabia que já havia se passado das sete, o céu escurecia através das grandes janelas de vidro do salão, devido o fato de ter saído tão cedo de casa e por estar a tanto tempo sem fazer nada podia sentir seu estômago se contorcendo devido a grande fome que sentia, pensou em roubar uma maçã de uma das mesas mas logo se repreendeu, se lhe pegassem provavelmente seria morta. Furto dentro do palácio seria considerado até uma blasfêmia, se contentou em ficar de costas para o salão e de frente para uma das janelas olhando as estrelas brilharem diante de si.
Sentiu um arrepio subir pela sua espinha e logo notou a presença de um dragão sobrevoando o céu, este parecia menor do que o anterior, contudo não poderia identificar com exatidão estava longe de mais e mesmo que estivesse perto não saberia dizer a cor de nenhum deles.
— Está na hora— Pronunciou Felipe para os outros
Todos se arrumaram em seus lugares, erguendo suas colunas e levantando seus olhares, logo um grande barulho ecoou sobre o recinto quando as grandes portas foram abertas. Uma mulher em um vestido verde adentrou o salão seguida por uma fileira de meninas mais novas, o barulho de seus saltas eram quase como uma sinfonia sincronizada, não havia uma dando um passo fora de hora. Elas pararam em uma fileira do lado oposto de onde Ikel estava deixando os assentos dos reis ao meio.
Ikel passou o olhar por cada uma, notando a diferença entre todas, os detalhes de seus vestidos, como todas elas carregavam o mesmo broche que Gisel, o que a fez pensar se não havia deixado o seu cair dentro do banheiro enquanto estava se trocando, já que não possuía nada que remetesse a família real em seu vestido, isso a fez se sentir especial, deu um leve sorriso, poderia estar servindo a eles mas não seria um deles.
Continuou fitando a todas até que um certo par de olhos azuis encontraram os seus, na mesma hora o estômago de Ikel se embrulhou e ela sentiu dificuldade em respirar, fechou suas mãos sentindo as unhas afundarem em suas palmas, podia sentir sua boca se secando enquanto tinha certeza de que ali estavam todas as meninas da pré-seleção, que ali estava Akassia.
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A lenda de Drogon
FantasyAte onde vai sua lealdade quando a pessoa a quem jurou já esta morta? Em Illiria vive uma sociedade separa pelo poder dos mortos. Ikel vivia sua vida razoavelmente estável em sua casa, com suas janelas minúscula e sua família, nunca pensou que pode...