Capítulo 4

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Quando Ikel e Akassia tinham 10 e 7 anos respectivamente, presenciaram uma das primeiras brigas de seus pais, naquele ano as coisas estavam mais apertadas do que de costume por isso Jonathan o provedor da família passava grande parte dos seus dias, tardes e noites em sua marcenaria, criando e confeccionando móveis para famílias que não eram a sua, passava cada minuto de seu tempo tornando mais agradável a experiência de outras famílias.

O motivo era sempre o mesmo—as coisas estão caras, precisamos colocar comida na mesa— sua mulher Kalisse afirmava que ele não precisava se esforçar tanto, que ele não podia perder tanto tempo da vida dos filhos fazendo coisas para a vida dos outros. Naquela idade apenas Ikel e Mark sabiam o que estava acontecendo— ou achavam— Nas noites de briga Kass costumava pedir para se deitar com Ikel e que ela lhe fizesse tranças de princesa em seu fios dourados, nas raras vezes que Mark lhes fazia companhia ela pedia que ele lhe contasse uma história ou lesse um livro da antiga era, a voz doce do Mark e as graças que Ikel fazia no meio faziam com que toda a discussão ficasse do lado de fora, que fosse totalmente abafada por um muro mágico que eles mesmos criavam, cheio de amor, magia e diversão.

Mas naquele dia foi diferente, Mark não se juntou a elas no quarto, Ikel não tinha vontade de fazer tranças e Akassia estava mais assustada que de costume, algumas meninas haviam lhe falado que se seus pais se divorciarem, sua mãe, ela e seus irmão seriam exilados, porque em Iliria e totalmente inadmissível uma mulher perder um casamento. Mulheres solteiras só são aceitas em iliria quando tem menos de dezessete ou são viúvas e até mesmo as viúvas têm um prazo final de cinco anos para sua solteirice.

Os olhinhos assustados e cheios de lágrimas da irmã faziam seu coração murchar totalmente por dentro, até mais que a briga insistente e alta de seus pais. Decidiu então que algo deveria ser feito, se não poderiam fazer seu incrível muro mágico sobre as paredes do seu pequenino palácio procurariam outro local para se proteger dos monstros maus que ecoavam pela casa. Andaram na ponta dos pés passando despercebidamente pelos monstros que tentavam invadir sua torre, abriram o portão e então correram. Correram em direção ao seu novo mundo, onde poderiam comer quanto bolo quisessem, onde teriam muitas balas de jujuba e poderiam ler quantos livros tivessem vontade.

Infelizmente o mundo é vasto demais quando se sai pela porta com os olhos fechados, e por mais que a imaginação das irmãs fossem indestrutíveis a realidade poderia se mostrar totalmente diferente. Acabaram em uma floresta afastada e desconhecida, a noite que antes brilhava cheia de fadas guiando seus caminhos, agora tinha apenas um enorme olho branco lhes observando atentamente a cada passo. O vento frio passava pelo tecido fino de suas roupas de dormir e seus pés descalços faziam barulho na grama seca e nos galhos caídos do caminho.

Ikel não sabia onde estava, e nem como haviam chegado ali, mas tentou parecer o mais confiante possível para não assustar a irmã, para que ela não voltasse a ficar triste.

— E se tiver ursos?— perguntou um pouco amedrontada

— Não existem ursos em Chulan Kass— ela disse segurando forte o braço da irmã

— E lobos? existem lobos ne? e os monstros de Kratus?

Ikel parou enfrente a irmã que tinha os cabelos desgrenhados tapando parcialmente seu rosto.

— Não há lobos nessa floresta em específico— não saberia dizer se isso era verdade ou não— essa é a floresta das fadas, e as fadas são dos Kratus, eles não podem ser maus se eles tem fadas, não e?

A irmã a encarou por alguns instantes com a cabeça levemente inclinada e seus olhos cerrados, analisando o que a irmã mais velha havia acabado de lhe contar.

— É verdade— ela disse por fim docemente pegando a mão de Ikel— mas tá muito escuro Ikel, e tá frio— sua voz saia doce e sonolenta— eu não gosto do escuro, eu quero a mamãe.

A lenda de DrogonOnde histórias criam vida. Descubra agora