Os dois dias seguintes passaram relativamente rápido demais, o clima da casa tendia do melancólico ao fúnebre como se outro membro da família tivesse morrido. Kalise cozinhou os pratos favoritos da caçula e Mark chegava mais cedo em casa para contar sobre o dia no jantar. Ikel às vezes chegava cedo e ficava na sala, podia ouvir os risos ecoarem da cozinha, sabiam que os três estavam fazendo o possível para evitar o grande elefante que havia entre eles, uma coisa a menina deveria admitir elas estavam tentando fazer o possível para continuarem juntos esses últimos dias.
Quando o dia chegou acordou alguns minutos antes da irmã, apesar de haver um sentimento de raiva deixou uma flor e um par de brincos com contas azuis ao lado do travesseiro da irmã, não importava o que havia acontecido tudo o que podia desejar era que ela estivesse segura onde quer que estaria daquele dia em diante. Pegou sua velha mochila e suas botas surradas, caminhou na ponta dos pés tentando amenizar os ruídos do piso, não queria acordar ninguém pois sabiam que tentariam lhe convencer a ficar para se despedir e isso estava totalmente fora de cogitação. Assim que saiu ficou feliz ao perceber que o clima abafado tinha dado lugar a um dia perfeito de verão, o sol iluminava as ruas do vilarejo passando sobre as frestas das árvores, o vento fresco mantinha o clima agradável e o horário fazia com que as ruas estiveram vazias, havia apenas algumas poucas pessoas indo em direção a seus trabalhos.
Ikel chegou em frente a grande agencia da rua quatro, sabia que estava muito adiantada por isso procurou uma árvore na calçada e se sentou observando o ir e vir das pessoas, quando chegou o horário ela notou que uma pequena van prateada se aproximando no caminho, de dentro dela desceu um Elenite com suas vestes pretas o que significava que ele era um guarda de proteção da cidade, Ikel se levantou e caminhou até o mesmo um pouco insegura segurando forte as alças de sua mochila, quando se aproximou notou que haviam mais algumas pessoas formando uma fila na porta de trás do veículo.
— Você deve ser a pianista — falou uma mulher um pouco mais velha que a menina— eu sou Gisel— declarou lhe estendendo a mão— violino— ela disse mostrando o objeto.
Ikel lhe apertou a mão e seguiu se apresentando aos outros colegas, eram em todo cinco contando com ela, todos vestiam roupas simples e pareciam ser da mesma classe que a menina o que a fez se sentir mais à vontade enquanto entrava na van e se sentava ao lado de um cara barbudo.
— Parece jovem demais para ser realmente boa— declarou Josh o homem de baixa estatura que tocava violoncelo.
— Tive uma excelente professora— retrucou Ikel lhe dando um sorriso.
— Espero que tenha tido mesmo, afinal não e todo dia que temos a oportunidade de tocar no castelo— continuou josh parecendo orgulhoso.
Ikel sentiu um nó se formando em sua garganta, podia sentir seus olhos expressaram claramente a surpresa que ela sentia no momento. Não podia acreditar, estava indo tocar no castelo, nunca imaginou que um dia colocaria suas velhas botas sujas dentro do palácio, nem ao menos cogitou a possibilidade de se apresentar dentro dos grandes salões para toda a família real e as poderosas famílias de Ilíria, sentiu algo embrulhar em seu estômago e notou que suas mãos começavam a suar, passou o caminho inteiro até o grande palácio tremendo sua perna direita, sentia que sua boca estava seca e queria pular do veículo toda vez que ele desacelerava.
Quando chegou aos grandes portões ficou impressionada com a magnitude do local, podia jurar que apenas os jardins da frente eram maiores que Chulan seu vilarejo, as folhas pareciam mais verdes e mais bonitas e até o clima naquele pedaço de terra parecia melhor do que na cidade. A van tomou um caminho pela lateral do palácio e Ikel fixou seus olhos na grande construção, nunca havia visto algo com tamanha magnitude e deveria admitir que era lindo, se pegou pensando que o local deveria ser bastante iluminado por conta da quantidade de janelas, e se lembrou por um momento de sua casa. Como era pequena e mal iluminada.
Assim que desceram do veículo em frente a uma pequena porta de madeira, com um dragão formando um semicírculo sentiu uma grande sombra paira sobre o local. Olhou lentamente para o céu com medo do que seus olhos poderiam ver, instintivamente ela segurou o braço de Gisel assim que viu a enorme criatura que sobrevoava o local. Ela sabia que a família Dragomir possuía dragões, eram os únicos capazes de deter a lealdade de tal criatura e de poder falar com eles, porém como nunca havia visto de fato nenhum dragão em toda a sua vida chegava a achar que eram apenas histórias contadas para assustar aqueles que pensassem em atacar a família real. Contudo com a criatura agora diante de seus olhos, Ikel deu um leve beliscão em seu braço apenas para ter certeza de que não estava sonhando, o sol impedia que ela obtivesse uma visão clara, mas a pouca visão que tinha era o suficiente para que ficasse encantada.
— Nunca tinha visto não e?— Perguntou Gisel dando um leve aperto na mão da menina que estava ao redor de seu braço.
Ikel a soltou um pouco constrangida.
— Cheguei a achar que não passam de lendas e fantasias— respondeu sem tirar os olhos da criatura.
— São mais reais e mais mortais do que pode imaginar— rebateu o homem barbudo se inclinando sobre a orelha de Ikel.
Ela podia sentir algo queimando dentro dela, um sentimento que nunca havia tido em toda a sua vida, não saberia ao certo descrever o que era, parecia que algo estava acordando dentro de si, imaginou que poderia ser a ansiedade voltando novamente, decidiu direcionar seu olhar para o guarda que estava agora na pequena porta. Tentou pensar em outras coisas enquanto esperava contudo ela ainda podia sentir o grande dragão logo acima.
Assim que finalmente entrou se sentiu agradecida por não estar mais sobre o olhar da grande criatura. Passaram por alguns corredores apressadamente, não dando tempo para que pudesse admirar cada detalhe do palácio, pararam em frente a duas portas douradas, com alguns entalhes de flores por suas bordas, as paredes brancas faziam o corredor ser mais largo do que de fato ele era.
Foi entregue a ela uma muda de roupas, recebeu ordens para colocá-las e esperar ao lado de fora assim que terminasse. Logo percebeu que o ambiente em que havia entrado se tratava de um banheiro, nunca imaginou que este tipo de cômodo poderia ser tão elegante, o local era maior que sua cozinha, as paredes brancas tinham continuidade com o chão da mesma cor, os móveis e detalhes em dourado se ressaltavão aos olhos de Ikel, o ambiente era fresco de modo que se tornava agradável estar ali. Ela passou seus dedos sentindo o mármore frio das pias, logo sentiu o metal das torneiras e quando a primeira gota de água tocou sua pele se surpreendeu, jamais havia imaginado que uma água poderia ser tão agradável, sentiu vontade de banhar-se ali mesmo.
— Vamos Ikel— chamou Gisel dentro de uma das cabines — ainda temos que passar o som.
Ikel acordou de seus devaneios e seguiu em direção a uma das portas douradas do local. Tirou cada peça de roupa que vestia, se sentiu um pouco invadida por estar trocando de roupa em um local que não conhecia, com uma mulher que não conhecia bem ao seu lado, apesar de haver uma paredes as separando ela ainda podia sentir vergonha por estar tão amostra. Procurou vestir as roupas que lhe foram entregues o mais rápido possível, mas logo notou que não seria uma tarefa tão simples.
Ouvi leves batidas na porta e instantaneamente cobriu o corpo com suas roupas.
— Pode me ajudar?— Perguntou Gisel suavemente do outro lado da porta.
— Só um instante— sussurrou Ikel ainda desconfortável com a situação.
Observou o tecido que lhe haviam entregado por um instante, não era o tipo de roupa que estava acostumada a usar, sentiu o toque macio do pano sobre suas mãos. Colocou o vestido sentindo se desenrolar pelo seu corpo, ele era longo e parecia ter feito sobre medida para ela, o tecido esvoaçante dava a ele um ar leve, a parte de cima tinha os ombros transparentes com pequenos detalhes em dourado, o corselete era coberto com detalhes em faixa que iam até a cintura de Ikel onde haviam mais detalhes em dourados feitos com um tipo de metal, o vestido tinha um tom leve de bege o que fez a menina se sentir mais confortável.
Não sabia ao certo descrever o que estava sentindo, eram muitas emoções para descrever, desconforto, surpresa, ansiedade e ainda havia aquela sensação quente em seu peito que sentia desde que chegaram no castelo. Dobrou suas roupas e respirou fundo antes de sair do lavabo, viu Gisel parada em frente a uma das pias fazendo uma trança em seus cabelos castanhos, ela usava um vestido preto que realçava bem suas curvas, Ikel notou que haviam brochuras de dragões nos ombros da menina, sabia que o dragão em semicírculo era o brasão da família real, achou bonito o modo como o prata brilhava diante de toda a escuridão do vestido.

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A lenda de Drogon
FantasyAte onde vai sua lealdade quando a pessoa a quem jurou já esta morta? Em Illiria vive uma sociedade separa pelo poder dos mortos. Ikel vivia sua vida razoavelmente estável em sua casa, com suas janelas minúscula e sua família, nunca pensou que pode...