Meia hora. Meia hora. Daqui a meia hora ela estaria atravessando o portão de embarque. Meia hora. Como eu disse, estou cursando jornalismo. Todo jornalista gosta de escrever, não é? Peguei meu caderno na mochila e o folheei. Abri na primeira página, e comecei a ler alto o que eu tinha escrito quando cheguei a casa no dia em que ela embarcou. Eu estava disposto a mostrar esse caderno à ela. Tudo que estava escrito aqui foi para ela. Pensando apenas nela.
"Eu queria que você soubesse que eu jamais desistiria de algo relacionado a nós. Uma mensagem sua repentina, ou um telefonema inesperado seu é o que espero a qualquer momento. E queria que você soubesse dos meus medos, de não saber o que fazer, de não saber ser suficiente, de não ser amado. E eu gostaria que você fosse do tipo frágil para nos reconfortarmos juntamente. E você, talvez, pudesse me enxergar mais do que aparento ser, mais do que eu tento ser, e que preferia um paradoxo infinito de brigas e xingamentos constantes que mais parecem elogios do que jogar tudo pro alto sem saber o porquê. Mas aí que está: Não dá! É impossível eu querer algo se o que você quis foi ir e fugir dessa bagunça toda. E ríamos ao som de alguma banda antiga, mas não dá pra voltarmos nisso. Se a sua decisão é essa, se o nosso destino é ficarmos cada um em um canto, então, dessa vez, é o nosso último adeus. Parece que dessa vez quem perdeu foi a gente, fui eu, um pouco você, cada um se perdendo um pouco. Mesmo que o nosso destino seja o fim, quero que saiba: eu vou continuar lhe aguardando voltar."
— Eu te amo, minha Teca. — Falei para mim mesmo, mas acho que soou alto demais, porque mais alguém ouviu.
— Ed?! — Era ela.
— Teca? Você estava aí há quanto tempo? — Falei com uma expressão surpresa.
— Er... Desde quando você começou a ler o texto. É... É lindo. — Ela abaixou a cabeça envergonhada. — Também ouvi o que você falou depois que o leu.
— Sério? Er... Não sei se você entendeu certo.
— Eu entendi sim, Ed. — Me levantei abruptamente.
— Teca, ó. Eu não sei o que você vai achar disso tudo, mas... É a verdade.
— Eu sei, Ed. Eu já sabia disso.
— Você não sente o mesmo... É como eu esperava. Mas, sei lá, ainda quero acreditar que as coisas podem dar certo, não é bom criar expectativas nas pessoas, mas de alguma forma ainda quero crer que nem tudo está perdido. — Abaixei minha cabeça.
— Faria alguma diferença se eu dissesse que ninguém poderia amar alguém tanto quanto eu amo você? — Ela falou, e abriu um grande sorriso, o que me fez sorrir também.
— É que, se eu falo com você, sinto vontade de nunca mais parar. Se estou contigo, sinto vontade de nunca mais te largar. E é isso que é impressionante. Porque você me ganha, e não perde nunca mais. Sinto isso há muito tempo Teca, desde aquele dia no churrasco. Eu não sei como controlar. Parece que você mora mais na minha mente do que na tua própria casa.
— Ed, não posso te dizer que gosto de você desde aquele dia, mas com o tempo, eu fui sentindo uma coisa diferente por você. Eu achava que era apenas um sentimento de amizade, mas, com o tempo, eu fui descobrindo que era... Amor. Lembra daquele dia antes da gente sair de casa? Na nossa formatura. Pois é. Eu queria sim te beijar, mas eu tinha medo. Medo de que você só queria ficar comigo, e depois fingiria que nada tivesse acontecido.
— Por que você pensou isso Teca? A gente poderia ter conversado, mas você simplesmente resolveu fugir. Fugir da cidade, fugir de nós. Eu guardo esse sentimento a mais ou menos uns seis anos. Seis anos, Teca.
— Ed, me desculpa, eu não queria te magoar. A última coisa que eu quero ver é você sofrer, porque eu te amo muito para aguentar tudo isso. — Uma lágrima escorreu do seu rosto.
— Não chora. — Enxuguei as lágrimas do seu rosto com meu polegar direito. — Agora podemos tentar.
— Mas agora eu moro na Itália. Ficaria tudo mais difícil, Ed.
— Eu vou pedir transferência para Itália, por nós.
Nos beijamos ali mesmo. Um beijo de saudade, de apreensão, de carinho, de amor. Agora eu pertencia a ela, e ela a mim. Nunca desista fácil de um amor, um dia, ele pode dar certo.
"Eu te vi e já te quis
Me vi tão feliz
Um amor que pra mim era sonho
Surpreendente provar
Do que eu só ouvi falar
E você resolveu me mostrar
Logo eu que nem pensava
Eu não imaginava te merecer
E agora sou o dono desse amor
Eu nem quero saber por quê
Eu só preciso viver
O resto desta vida com você."FIM.
Foi bom contar para vocês esta história. Espero que tenham gostado! Até a próxima ❤ (Obs: Carta não é de minha autoria)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Novata
Short Story"Manhã chuvosa na maior cidade do Brasil. Hoje faz dois anos que deixei minha menina ir à busca do seu maior sonho, terminar seu curso de design na bela Itália. Meu nome é Eduardo Herms, moro em um dos melhores bairros de São Paulo, tenho 20 anos de...