Capítulo 7

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Poly


A única coisa que Peter falou antes de sair foi:
— Lembre-se Poly, eles não se preocupam com você como eu!

Essa única frase me fez pensar. Meus pais nunca estavam em casa, os raros momentos que estavam eram para me mandar estudar afirmando que só assim eu poderia ser feliz no futuro. Brigavam comigo e entre eles, não tínhamos paz.

Apesar de amá-los, eu não...

Na verdade, apesar de tudo, Peter foi a única pessoa que me demonstrou carinho e proteção. Ele é louco, eu sei, mas todos somos um pouco loucos, acho! Agora, aqui, eu me sinto segura, sei que ele não deixaria ninguém me ferir. Peter matou... Meus amigos, mas foi para me proteger. Ele disse... Então seria ruim pensar em perdoá-lo?

Subi os degraus entrando em seu quarto, ele guardava nossas fotos na parede, as fotos de sangue ficaram muito expostas e eram perigosas. Se alguém as visse? Poderiam não entender!
Eu agora podia entender! Peter me explicou, que o sangue é a vida, é ele que nos move, é belo, uma arte por nossas veias!

Porém, algo tirou meu sorriso, uma foto. Uma pequena foto de uma mulher de olhos claros com crachá semelhante ao que Peter usava para trabalhar. Senti meu sangue ferver. Como ele pode? Será?

Eu estava solta, ele confiava em mim, mas ela?

Desci as escadas e tentei abrir a porta. Trancada! O mesmo com as janelas, mas isso não iria me impedir! Depois de uns quase dez minutos consegui quebrar uma das janelas grande o bastante para eu passar por entre as grades. Os quilos que perdi ajudaram no processo. Pulei para fora. Eu estava livre! Iria fugir?

Então corri, com o sangue gelado em minhas veias. Eu corri apenas com a blusa social preta de Peter e descalça parecendo louca!

Parei quando não havia mais ar em meus pulmões, meu corpo tremia com a adrenalina, tudo parecia diferente, as ruas, os prédios, os cheiros no ar...

— Oi? — Ta tudo bem, precisa de ajuda? — Me virei assustada com a luz do farol em meu rosto. Um menino rechonchudo falava pelo vidro aberto. Ajuda? Aquela simples palavra me trouxe uma grande confusão, sem saber o que responder, acenei e ele desceu abrindo a porta.

Peter

Com o expediente chegando ao fim, meu celular vibrou com o sms de Rita. Um sorriso surgiu em meus lábios. Era tão fácil enganar as pessoas, chegava a ser trágico a forma que os seres humanos confiam tão rapidamente uns nos outros.
Saindo do trabalho segui até o café onde Rita me esperava com um vestido horripilante vermelho curto, parei antes de entrar notando que o carro prata, continuava a me seguir. Será que eu estava delirando, com os últimos acontecimentos, eu vinha duvidando do meu próprio juízo!

Rita me viu na calçada e correu para fora, sem nem me dar a chance de realmente entrar na lanchonete, o vento soprou sua franja, trazendo o cheiro de rosas até mim.
Sorri, pegando minha câmera e tirando uma foto antes dela me envolver em um abraço apertado, totalmente diferente dos de Poly... Balancei a cabeça sorrindo, não havia motivos para pensar nela agora!

— Boa noite! Porque não entrou? — Ela perguntou sem se afastar com seus seios pressionados em meu corpo.
— Eu já estava entrando! — Deu meu melhor sorriso e me afastei de seu grude. — Lhe trouxe isso! — Lhe entreguei uma sacola da cacau show.
— Oh, você é um doce, não precisava! — Sorrindo ela pegou a sacola.


Após comermos, insiste em levá la para casa, então a guiei até um quarteirão onde disse que deixei meu carro, ela sorria tagarelando sem notar a rua cada vez mais deserta, o favou iluminou a rua é o maldito carro prata estava ali novamente, sorri para o carro, segurei o rosto de Rita e a beijei, escutei o carro acelerar. Isto seria divertido! Não me movi continuei a beijar, aumentando a intensidade até sentir o impacto que acertou primeiro o corpo dela e logo fui arremessado caindo no asfalto frio. Todo o meu corpo doía, sorri abrindo os olhos tentando não sucumbir a dor!

Oh! Doce é louca Poly. Eu não estava sangado! Pelo contrário eu estava excitado.
O que você faz aqui, porque me seguiu? Era tantas perguntas...

Ela apareceu em meu campo de visão com os pés descalços, uma linda expressão dançava em seu rosto enquanto segurava uma barra de ferro.
Poly gritou e desceu a barra de ferro com toda a sua força, uma, duas, três vezes, fazendo o sangue jorrar da cabeça de Rita.

— Poly, está presa era minha! — Falei ao me sentar sentindo dores em lugares estranhos. — Que desperdício! — Me coloquei de pé e senti o chão girar.
Poly xingou batendo com a barra em meu estômago, me curvei perdendo o ar e notei que meu braço direito estava quebrado. Ótimo!
Sorri para ela é logo ele sumiu de minha face, levantei minha mão boa tocando em seu rosto, afastando seu cabelo.
— O que foi isso? — Perguntei revoltado, eu conhecia cada marca em seu corpo é aquela, não era para estar ali!

Poly apenas apontou para o carro, sentado no banco de trás, havia um garoto rechonchudo que devia ter entre seus dezessete ou dezoito anos, com os pulsos enfaixados e os olhos vermelhos pelo uso de drogas.

Um drogado suicida sério Poly?

— Cara, tua namorada é uma gostosa bem louca! — Sentir o sangue ferver, o rapaz mal se mantinha de olhos abertos, mas isso não importava, tirei o canivete do bolso que antes seria para Rita, agora eu cortava o pescoço do jovem atrevido.
Manquei até Rita que fazia bolhas de sangue ao tentar respirar e aliviou sua agonia com meu canivete.
— Tu me desobedeceu e saiu! — Falei sem olhar para Poly.
— Estava me traindo com essa vadia! — Me virei passando a mão suja de sangue no rosto de Poly.
— Meu amor tu me desobedeceu é me feriu! — Ela sorriu e me beijou.

Ela era insana, aprendeu rápido, estava até me surpreendendo, Poly me ajudou a pôr o corpo de Rita no porta mala e entrou no lado do motorista já que eu era incapaz de dirigir naquele momento. Deixamos o menino na pista, ele não valia o esforço.
Poly sorriu e me deu um último beijo antes de dirigir. Como eu havia pensado, ela era tão insana quanto eu, fazíamos um belo casal no fim das contas!

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