Twenty

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Domingo - 01 de Dezembro de 2019

Estou sentada na varanda lateral do casarão que tem naquele enorme sítio. Uma xícara de chocolate quente em minhas mãos enquanto observo Carolina e Louis brincar de jogar gravetos para Paola, eles insistiram em trazer aquela dalmata para cá. Não me juntei a eles porque estou cansada, e também porque mentalmente falando, depois do que vi naquela casa da árvore, eu não me sinto totalmente sóbria.

— Cuidado, Lou! - Carolina grita para o pequeno, que está correndo o mais rápido que pode enquanto Paola corre atrás dele, acho que ela quer o graveto na mão de Louis. Observando aquele momento é impossível não sorrir, quer dizer, é a minha família. E talvez não faça tanto sentido, mas ali está a imagem do meu presente e futuro. Eu gosto disso, acho que não poderia pedir por pessoas melhores na minha vida. Minha família.

Eu cresci ouvindo as pessoas dizerem que existe amor à primeira vista, meus pais sempre diziam que existe paixão à primeira vista, o amor surge com o tempo e a convivência. Quando eu conheci Carolina eu descobri um novo sentimento à primeira vista, antipatia. E o ódio surgiu com o tempo e a convivência. Eu me lembro bem, como se fosse ontem de como nos conhecemos. Eu estava atrasada para a primeira aula, vinha andando pelos corredores de forma apressada. Eu carregava três malditos trabalhos na mão, um de história, de química e física. Estava surpresa ainda que tinha conseguido fazer o de química e física já que sempre fui péssima nessas duas matérias. Lembro que fui cruzar o último corredor e então colidi com alguém, sabe quando você bate de frente com a pessoa com tanta força que é arremessada para trás? Foi o que aconteceu, os trabalhos voaram da minha mão. Eu grunhia de dor, quando abri os olhos e vi que todas, todas sem exceção das
folhas estavam completamente molhadas por um liquido azul. Eu levantei desesperada, e enquanto eu surtava eu ouvia aquela voz irritante "Calma aí, gatinha, fica calma". Lembro também que comecei a gritar com Carolina, mas tudo piorou mesmo quando ela tentou "consertar" as coisas me dando um beijo. Minha vontade foi de cuspir na cara dela, eu estava fumegando de raiva e a criatura tentando me beijar. Desse dia em diante ela não parava de me perseguir, nos primeiros dias até tentou se desculpar, mas com o passar do tempo as desculpas evoluíram para pegadinhas, cantadas e mãos bobas. Eu odiava Carolina Voltan mais do que qualquer outra coisa na face da terra. Mas agora eu te digo, sabe aquele ódio todo? Aquela ânsia? A antipatia? Está sendo convertida em carinho, admiração e.... Outra coisa. Eu ainda não quero nomear, tenho medo de me precipitar e acabar dando errado.

Mas uma coisa é certa, gosto de Carolina, e cada dia gosto mais dela. Sem contar que ela me deixa segura, nenhuma pessoa no mundo além dos meus pais me passa a segurança que Carolina passa. Ela é especial, nós temos uma conexão forte.

— Alice. - Sou desperta de meus pensamentos por Carolina, pisco algumas vezes para focar minha visão e me deparou com seus olhos verdes fixos em meu rosto. Carolina sorri, suas mãos em meus joelhos. - Voltou para o mundo real?

— Estava lembrando de algumas coisas. - Sorrio sem jeito, sinto ela acariciar meus joelhos com seus polegares e então sela nossos lábios. Solto o ar por meu nariz ao sentir o toque suave da boca dela na minha, era possível sentir meus lábios formigando. Seguro a xícara firme com uma mão só, a outra levo até os cabelos da nuca de Carolina, puxando-os levemente para logo em seguida acariciar seu couro cabeludo com as pontas dos dedos.

— Quer conversar sobre essas lembranças? - Pergunta ao quebrarmos nosso beijo, demoro um pouco a raciocinar, pois ainda estou meio aérea pelo beijo. O beijo dela é tão calmo e relaxante, deve ser melhor que um orgasmo. Zeus! Porque eu comparei o beijo dela com a sensação de gozar? Eu preciso aprender a me controlar perto dela.

— Estava lembrando do dia em que nos conhecemos, lembra?

Solto uma risadinha e Carolina me acompanha, ao longe posso ouvir a voz de Louis chamando por Paola, em seguida seus latidos. O tempo está fresco, e ainda temos algum tempo para ficarmos por aqui antes de irmos embora. Eu não queria ir embora, me sinto bem aqui nesse sitio. Me sinto em casa.

Stupid Wife - BabitanOnde histórias criam vida. Descubra agora