Sintonia - BL

Capítulo VI - Rotina

Depois de voltarmos para casa tudo o que precisávamos era dormir. Umas boas 20 horas de sono nos faria novos outra vez. Não consegui essa façanha no entanto, acordei por volta das 20hs sentindo um vazio, apertei minha barriga tentando entender que sentimento era aquele, uma necessidade de ser preenchido.

Ha!

Era fome.

Rolei de barriga para baixo na esperança de que se eu a pressionasse contra o colchão o vazio reduziria, após algum tempo ficou evidente que não funcionária, rolei de um lado para outro na grande cama tentando me convencer que o que sentia era psicológico, não havia necessidade de levantar, tudo o que eu não queria era ter que levantar.

Suprimi o buraco negro que tentava ganhar espaço em meu estômago, contudo surgiu outra emergência. Minha bexiga soltou um alerta de capacidade de armazenamento esgotado.  Soltei um gemido externando minha frustração em perceber que tinha sido vencido pelo meu corpo e suas necessidades, ele não se importava com minha necessidade de se manter deitado e imóvel por um período mais longo.

Resmungando eu sacudi as cobertas de minhas pernas e me sentei na cama, me arrastei até a beira e preparei mentalmente para me erguer.  Me arrastei lentamente até o banheiro, todo o processo desde de abrir a porta, levantar a tampa do vaso e lavar as mãos foram feitos letárgicamente. Parei por um segundo para apreciar minha imagem no espelho. Meu rosto tinha finalmente adquirido tons de roxo na região dos olhos e da boca, eu já havia arrancado meu braço da tipóia e fiquei apenas com alguns curativos na mão.  Eu estava perfeito, parecia um personagem de mangá, mas acredito que um personagem de uma história de ação não teria sido nocauteado tão facilmente. Eu definitivamente deveria melhorar minhas habilidades de combate, talvez começar a me exercitar com mais frequência, até tomar alguma aulas.

Parei de divagar quando minha barriga me lembrou com um claro sinal sonoro que precisava de minha atenção para saciar sua fome.  Me arrastei até a cozinha.

Me esforcei para circular pela cozinha sem fazer  barulho, não queria acordar meu colega que dormia o sono dos justos, e não havia sido acordado por seu corpo impaciente como eu.

Liam ainda dormia, e eu queria que ele se mantivesse assim. Depois de passar várias horas no hospital comigo e ao chegar em casa ter se mantido acordado por um longo tempo a fim de observar minha reações, mesmo depois de eu insistentemente o mandar para cama e garantir que estava perfeitamente bem. Eu suspirei ao me lembrar da sua expressão de preocupação e desamparo, gostaria que ele parasse de se sentir dessa forma, mas acho que vai precisar de mais  tempo para superar toda essa situação por qual ele passou.

Agora tudo estava bem. Ele estava seguro e aquela pessoa estava respondendo a justiça por seus atos lunáticos.

Estaríamos bem agora.

Circulei pelo cômodo abrindo armários e geladeira decidindo o que faria. Havia frango e algumas batatas, eu decidi usá-los. Rapidamente limpei e temperei a quantidade de frango que usaria e acrescentei as batatas e coloquei no forno elétrico. Comecei o preparo dos acompanhamentos, fiz o arroz e voltei a procurar na geladeira por algo que funcionasse em uma salada de folhas.

Após lavar as folhas procurava por um recipiente para deixa-las secar um pouco, estiquei meu braço para a prateleira mais alta no armário, porém ainda não o alcançava, o movimento no meu braço ferido me fez contrai-lo, quando estava preste a tentar novamente senti um corpo se pressionar sobre o meu, seu peito e abdômen estavam sendo apertados contra minhas costas enquanto uma de suas mãos estavam sobre as minhas no balcão onde nos equilibrávamos. Meu sobressalto não pareceu ser registrado por aquela presença mais alta e forte, seu corpo me cobriu completamente, deixando-me imóvel sobre ele. Eu prendi minha respiração sentindo sua temperatura  se chocar com o meu corpo quente, um sentimento de segurança me percorreu e eu me senti confuso. Não lembrava como respirar,  o tempo pareceu correr mais lentamente enquanto eu olhava para cima e o via. Um queixo ânguloso sustentado por um pescoço esguio de pele bonita e sedosa que descia até os ombros largos com músculos marcados e desaparecia por dentro da regata folgada.