Tava ruim, mas agora parece que piorou

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O carro de Lisa tinha morrido de vez, pelo menos era o que Miyeon disse. Na teoria, a solução foi até simples: prender a caminhonete de Lisa no guincho da caminhonete de Miyeon.

Ela não tinha mudado muita coisa, parecia gostar de morar ali. Os cabelos continuavam castanhos e o rosto assimétrico e bonito, mas agora mais maduro. Ela ainda abusava das blusas xadrez, chapéu de cowboy e fivela e disse que tivemos sorte de não termos esbarrado na ida, quando levava dois bezerros na caçamba da caminhonete. Miyeon não parecia nutrir um ódio contra mim tão grande quanto achei que teria (acho que somente Jennie possuía essa habilidade para guardar tanto rancor assim).

Miyeon sempre foi minha vizinha, mas nossas casas eram distantes e eu nunca estive disposta a me misturar com alguém que assistia o canal de venda de suínos o dia todo. Nossos pais eram amigos e estudávamos juntas, só que depois que ela descobriu sobre o "deslize" de Lisa comigo, acabou-se toda a mínima possibilidade de um dia sermos amigas.

Eu me preocupava com isso, sabe? Com o fato de as pessoas não gostarem de mim. Já fiz coisas vergonhosas para não ser desgostada, como votar no meu primo Jackson para vereador mesmo com ele zoando o tamanho das minhas bochechas e não saber falar nada sem completar com "tá ligado?" Ou quando sai do meu próprio quarto para Momo e Sana passarem uma noite de quinta feira antecedente a uma prova importante, que acabei tirando zero porque, bem, fiquei sem lugar para dormir.

Mas com Miyeon eu não poderia fazer nada para mudar a ideia de trairá que ela tinha de mim, na verdade, eu passei boa parte do ensino médio fugindo dela (com medo que jogasse uma nota de cinquenta reais na minha cara e começasse a cantar Naiara Azevedo). Mas éramos adultas agora, eu era a única preocupada com isso. Adultas, Rosé, adultas. Daqui a pouco chegaríamos à casa de Jennie, a carona seria agradecida e eu só a veria amanhã ou segunda, quando fosse visitar meu pai.

— Em resumo, você só queria alugar o meu ouvido.

— Eu... — bufei. — Eu ainda estou preocupada, Sehun!

— Você definitivamente é a única preocupada com isso, Rosé... Aliás, a única preocupada o bastante para me ligar em plena madrugada...

— São 10h da manhã...

— MADRUGADA, ROSÉ! Madrugada! Hoje é sexta! Antes do Meio Dia em uma sexta feira é automaticamente madrugada! — Ele gritou, do outro lado da linha. — Eu pensei que não tivesse sinal de celular aí, cheguei a suspirar e pensar: "Oh Glória! Um fim de semana inteiro não sofrendo consequência de nenhum plano maluco da Rosé..."

— Meus planos não são malucos!

Bati os pés no chão, emburrada, e a poeira vermelha do acostamento subiu. Meus lábios precisavam de um gloss, uma manteiga de cacau de 2 reais, qualquer coisa, já puxei todas as pelinhas soltas. Meus cabelos estavam um pouco ressecados — talvez muito — e o clima os deixou ainda mais rebeldes, meu Deus, me lembrei tardiamente que preciso respirar. Inspirar e Respirar...

— Tudo vai dar errado... eu tô sentindo... Miyeon aqui... — arfei. — Não era para ela estar aqui... Eu vou ter uma síncope!

Atrás de mim, Lisa e Miyeon prendiam a Furiosa no guincho da outra caminhonete, enquanto Jennie olhava tudo com os braços cruzados e uma cara emburrada. Jisoo estava sentada no meio fio, ao meu lado.

— E eu com isso, Rosé? Tô a quilômetros de distância do seu possível ataque de pelanca. — Sehun bocejou. — Na verdade, eu ainda não sei o que eu estou fazendo nessa história... era pra eu ser tipo, um coadjuvante, um figurante, algo assim, sabe?

Comecei a morder minha cutícula. Miyeon e Lisa estavam acabando o serviço, mas Jennie colocou um pé na frente e Lisa caiu no chão como uma manga madura. Agora elas estavam discutindo, me virei novamente.

O Plano JOnde histórias criam vida. Descubra agora