Ultrapassando todos os limites

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Jisoo estava irritantemente bonita naquele dia. Ela tinha um jeito simples de ser bonita, não era algo complicado, exótico ou difícil de descrever. Era como o entardecer, com o céu em uma mistura de rosa e azul escuro e o horizonte se transformando em uma sombra escura. Acho que preciso me atentar mais a pôr do sol, a Jisoo e ao caminho que estávamos seguindo, senão cairia de cara no chão.

— Por que tudo aqui é tão longe?

Jisoo segurou a aba do chapéu de palha e me olhou, cansada. A blusa larga que usava esvoaçava pelo vento fresco.

As casas quadradinhas e coloridas se estendiam pelas laterais da rua feita de pedra. A cidade era histórica, igual a todas as outras cidades históricas. Se você visitava uma sabia exatamente como todas as outras eram. A nossa frente, havia uma igreja barroca e o redor dela o movimentado de feirantes, em um barulho constante. Aparentemente, teria uma feira de leguminosas mais tarde. Tão interessante que até bocejei.

— Não é que seja longe. — Me aproximei de Jisoo e, com o mindinho, toquei sua mão livre. Era quase como andar de mãos dadas. — É que para você tudo é longe. Um passo de muleta é equivalente a cinco passos normais.

— Hahaha... — Ela parou para tomar fôlego. — Obrigada por me lembrar, e você não respondeu a minha pergunta.

— Estamos chegando, amor. Daqui dá pra ver a casa do meu pai. — Apontei com o indicador para o horizonte, para a última casa logo após a igreja, seguindo a rua íngreme de pedras até o fim. — A cachoeira fica depois dela.

O queixo de Jisoo foi se desprendendo do maxilar, ela olhava para a casa e para mim, alternadamente.

— Rosé? — Ela arfou, incrédula. — Você é... rica?

— O quê? Não! Okay, um pouco. Talvez meu pai. Ele é prefeito, mas não sei muito bem o que prefeitos de cidade pequena fazem a não ser ver a novela das seis e montar a cavalo.

— Eu não acredito nisso... — Ela repousou a muleta no muro, ao lado. — OLHA AQUELE CASARÃO! Parece que a cidade inteira foi construída em volta dele!

Senti um fio de suor descer pela minha testa.

— Meio que foi isso... quer dizer, foi o que eu ouvi na escola, mas... sabe, pode não ter nada a ver e...

Ela ainda me olhava, chocada, como se eu tivesse mentido sobre um assunto muito importante, como se tivesse falado: "oi, amorzinho, esses são meus dois filhos, esqueci de contar!" Mas não foi esse o caso, eu só tinha omitido uma informação irrelevante.

— Que vergonha, Rosé... — Jisoo estreitou os olhos. — Na faculdade você se faz de passa-fome quando na verdade é uma herdeira!

— Eu não sou uma passa-fome! — gritei. Algumas pessoas na rua nos encararam.

— Toda vez que você vê o Sehun você o faz comprar um enrolado de salsicha, você só come no prato da Lisa, como chamam isso aqui? Eu chamo de passa-fome...

— Comida não se recusa, esse é o meu lema. — Voltei a andar e Jisoo precisou se apressar para me alcançar.

— E como eu vou agir na frente do seu pai!?

— Normalmente. — Parei na frente dela e enrolei uma mecha dos seus cabelos nos dedos. — Vamos ver o meu pai e seguimos para a cachoeira, simples assim, só nós duas, sem Jennie, Lisa ou planos, sem nada a não ser nós, que tal?

Ela me fitou por alguns segundos com um biquinho fofo nos lábios. Depois de ter certeza que ninguém estava olhando, me inclinei e a beijei.

— A cachoeira fica longe? — ela perguntou, manhosa.

O Plano JOnde histórias criam vida. Descubra agora