A parte mais difícil foi convencer a diretoria da escola de que eu estaria apta para pular o ano que eu não tinha terminado e continuar na minha antiga turma. O acidente tinha acontecido em setembro, o que significava que eu não tinha realizado as provas finais do 1º ano.
De acordo com as normas do colégio eu teria que repetir todo o ano novamente se voltasse. Mas com um pouco de insistência e provando que não tinha parado completamente os estudos - junto a minha comovente história de vida – consegui barganhar uma prova na qual precisaria acertar mais de oitenta porcento.
Não preciso dizer que não foi nenhum sacrifício fazer o exame e muito menos passar. Fui matriculada de novo e já poderia retomar as aulas no dia seguinte.
Comprar uniformes nunca foi algo que eu gostava de fazer, agora não é diferente. Tirar e colocar várias vezes a mesma peça de roupa em uma cabine na qual não consegue nem esticar o braço todo era algo que me irritava muito facilmente.
Debati esse assunto diversas vezes com meus pais, já tinha o uniforme em casa, comprar mais era gastar dinheiro desnecessário. Não me importava se a blusa estava larga demais, nunca gostei dela colada no corpo. Ou se a saia estava caindo, um cinto resolvia tudo.
Nenhum dos meus argumentos os convenceram, então me arrastaram contra minha vontade para dentro da loja. Ah como estava arrependida de ter falado que queria voltar.
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Nenhum sentimento toma conta de mim enquanto me arrumo, não estou ansiosa e ne animada com a possibilidade de encarar um primeiro dia de aula. Estranhamente todo o processo de vestir o uniforme ainda parecia fazer parte de minha insignificante rotina, era como se eu nunca tivesse deixado de fazê-lo.
Olhando meu reflexo no espelho tive que segurar o ímpeto de arrancar aquela roupa e jogar o mais fundo que conseguisse dentro do armário e esquecer completamente da sua existência. Eu parecia uma garotinha idiota.
O uniforme que em outra vida eu tinha orgulho de vestir agora pende esquisito no meu corpo sem curvas. Ajeito a postura e levanto o queixo. Vou entrar naquela escola de cabeça erguida e provar para todo mundo o quanto seus pensamentos estavam errados sobre mim. Reviro os olhos para a outra eu do outro lado do espelho e faço um gesto vulgar com a mão.
Solto meu cabelo, deixando que caia em um emaranhado de cachos até a cintura. Finalizo com uma boa quantidade de creme para dar um falso aspecto de um cabelo brilhoso e sedoso. Por último passo uma camada fina, quase imperceptível, de blush nas minhas bochechas marcadas.
Pego o batom de sara e passo um pouco nos lábios - tento dar a impressão de que estou saudável, embora saiba que o meu corpo magro me trairá, rachando a frágil máscara que pretendo usar.
Inspiro fundo, exasperada, o forte e doce cheiro de morango invade a minhas narinas, me faz ficar tonta por alguns segundos.
Com apenas uma alça da mochila nas costas saio de casa e entro no carro. Confiro o horário no relógio do painel e calculo o tempo, se tudo correr como o planejado chego lá cinco minutos antes do portão abrir, o momento exato de se estar na escola e não parecer desesperada demais por chegar cedo ou relaxada demais por chegar tarde.
Minha mãe tagarela o caminho todo, parando de falar apenas para prestar mais atenção no trânsito ao seu redor.
- Então, o que você planejou para semana que vem?
- Não tenho feito muitos planos para minha vida ultimamente – murmuro em resposta.
Ela franziu a testa em estranheza e se remexeu no banco, olhou algumas vezes para mim como se estivesse tendo uma luta consigo mesma se terminava de falar ou não. Por fim ela soltou um suspiro.
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Arcanjo
FantasyRebeca está em um conflito interno depois que um acidente levou sua irmã. Além de passar pela dor interminável do luto a jovem precisa lidar com a maldição na qual acredita que carrega, mas está disposta a mudar de opinião quando conhece um garoto...