99| Aquele em que fugimos da tempestade.

60 5 18
                                    

"Am I asleep, am I awake, or somewhere in between?

I can't believe that you are here and lying next to me

Or did I dream that we were perfectly entwined? (...)"

Truly, Madly, Deeply - One Direction

Este é o Diário de Bordo de Kim Namjoon.


Voo 1252, Aeroporto de Gwangju, Coréia do Sul, com destino à Birmingham, Alabama - EUA.

____ ✒ ____

10 de abril de 1999.

Faziam 19 horas que estávamos dentro daquele avião, sobrevoando o oceano, rumo à América. Hobi cochilava de boca aberta na poltrona ao lado e, por mais que eu quisesse, não consegui dormir mais que algumas poucas horas intercaladas. Levantei uma centena de vezes pra ir ao banheiro, conhecia as comissárias de bordo pelos nomes, e sabia a quantidade exata de horas e minutos que faltavam até pousarmos em Birmingham, e os anúncios do copiloto em nada tinham a ver com isso.

Há um ano, Núbia noonim e eu começamos a trocar e-mails esporádicos. Não lembro ao certo como tudo começou, mas, foi tão natural, como se nunca tivéssemos deixado de nos falar durante anos. Miyeon me incentivou a entrar em contato, ao menos pra tentar preencher as lacunas sobre as quais lhe falei, a respeito da minha amizade com Núbia, ou a ausência dela. Eu não esperava que minha namorada e minha melhor amiga fossem tornar-se amigas tão rapidamente, embora, não me surpreenda. Miyeon tinha esse dom de cativar as pessoas ao redor.

À medida que o aniversário de Jimin se aproximava, mais me sentia compelido a aceitar a ideia de Hobi, de ir visita-lo nos Estados Unidos. Não era uma ideia inteiramente ruim, porém, Mi não ia conseguir uma folga no trabalho, e eu queria muito que ela pudesse ir e conhecer a noonim pessoalmente. Todavia, acho que seria injusto, uma vez que esse desejo nasceu da necessidade de tê-la ao meu lado, me impedindo de ser desastroso com assuntos que vão além da minha compreensão, e eu a usaria como ancora pro meu botezinho perdido no oceano.

Evidentemente, o fato não foi empecilho algum pra minha namorada, que se juntou ao grupo das garotas com quem Jimin tinha amizade no Alabama, incluindo sua não-namorada, e juntas organizaram uma festa surpresa na Dynamite, reservando mesas para todos nós e mais algumas pessoas de seu atual ciclo de amigos.

Mas eu precisava enfrentar aquele medo, o medo da tempestade!

Juntei cada frustração de aniversários e feriados esquisitos, cada memória perdida no meio dessa bagunça, como gotas de uma intensa tempestade, aprisionadas numa represa. Sei que construí muros fortes, contudo, tenho completa ciência que eles têm falhas, furos minúsculos pelos quais escorrem sentimentos esporadicamente e, sei também, que meu instinto de auto sabotagem, fará questão de martelar exatamente nesses pontos, até que a represa se rompa e eu me veja obrigado a lidar com tudo o que ignorei por anos.

Uma coisa, era estar à quilômetros de distância, do outro lado do continente, encarando mensagens por uma tela luminosa, onde as letras frias jamais me atingiriam. Outra coisa, era poder sentir a temperatura das palavras ditas oralmente, muito provavelmente, me culpando por ter sido um idiota, impulsivo, que estragou tudo. Não estou pronto pra ouvir de sua boca, que fui o culpado.

De uma forma ou de outra, estou disposto a encarar a verdade de peito aberto, decidido a assumir meus erros, e não mais me esconder deles, ou evita-los. Estou pronto pra seguir essa jornada, mesmo que comece de forma confusa, como agora, parado em frente à esteira, em busca da minha mala perdida.

Anos IncríveisOnde histórias criam vida. Descubra agora