12- Naufragando em lágrimas

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Nota: Esse capítulo pode conter gatilho, caso a leitura te faça mal, evite-a. 

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POV Luck

A primeira coisa fiz ao acordar foi me perguntar porque minha cabeça doía tanto. Depois de me revirar várias e várias vezes na cama como se eu fosse a cortina escandalosa do quarto, que mais parecia uma alva bandeira tremulante, enfim me levantei. Meu primeiro movimento foi fechar a porta de vidraça e ficar ali ao lado estático como um poste só ouvindo as rajadas de vento que antes fazia as cortinas estremecerem, agora, ruidosamente, se chocarem contra o vidro lá fora. Apesar de não ter mais ventos estupidamente frios circulando aqui dentro do quarto, continuei me sentindo um filhote de pinguim perdido no ártico de tanto frio.

Espera, existem pinguins no ártico? Ri comigo mesmo.

Me agachei diante das malas para pegar um casaco qualquer. Enquanto subia o fechecler do moletom cinza que estava vestindo e mirava o pé da cama de madeira, algumas das lembranças do dia anterior me atingiram como um raio, me fazendo abrir a boca incrédulo. Havia ficado bêbado, dançado com a succubus, beijado o pescoço dela e, como se já não bastasse, de alguma forma inexplicável beijei até mesmo a coxa dela. Não tinha como ficar pior, mas me lembrei perfeitamente de um diálogo constrangedor da noite anterior que me fez sentir um misto de vergonha alheia e vontade de me jogar de um penhasco:

" – Eu sonhei com você antes de te conhecer. – confessei com o rosto colado na perna direita dela, que gargalhava provavelmente da minha cara de idiota e trouxa.

– Que tipo de cantada é essa?! – me respondeu. Provavelmente por estar bêbado, eu olhei para ela com uma perfeita cara de imbecil. Minha expressão estava séria e dura o suficiente pra saber que na resposta seguinte obviamente eu iria passar vergonha, como sempre.

– Não é cantada."

Me joguei na cama como se eu fosse um nadador olímpico e afundei o rosto no travesseiro prendendo a respiração, quem sabe assim a vergonha alheia passaria mais rápido. E, repentinamente, me veio um desejo colossal de poder extrair o meu eu bêbado de ontem para fora de mim. Assim eu iria poder bater um papo muito franco com esse idiota e dar alguns chutes nessa minha versão imbecil pela vergonha que eu mesmo me fiz passar.

Você é um idiota. Por que não aproveita e conta logo de uma vez que a chama de succubus também? Imbecil. Discutia comigo mesmo em pensamentos

Como até mesmo pinguins necessitam de oxigênio, eu levantei meu rosto do travesseiro e deitei com a cabeça virada para o lado encarando a porta de vidro da varanda, mas meus olhos se desviaram para o meu lado vazio na cama. Só agora percebi que estava vazio alí, mesmo depois de rolar várias vezes no colchão e andar pelo quarto igual um idiota.

Me perguntei mentalmente onde a succubus estava e minha mente, como se fosse um jogo, me ofereceu três opções:

1) Banheiro. Olhei para a porta em frente à cama, mas estava aberta com a luz do cômodo apagada sem ninguém dentro.

2) Debaixo da cama. Me levantei e me agachei mais uma vez naquela manhã, mas concluí que foi uma péssima (e idiota) ideia quando além de não ver nada ali embaixo (além da poeira), o contato direto com o chão congelou minha bochecha e eu quase quebrei minha coluna de sênior ao me levantar.

Me deitei de novo na cama de braços cruzados, mas estranhamente eu não estava com a testa franzida e nem bufando como o senhor de idade que sou. Estava sorrindo. De alguma forma milagrosa, não acordei com mau humor hoje, parece até que alguma coisa muito boa aconteceu ontem, mesmo que eu tenha cavado minha própria cova. Ou então não sei, sinto que algo muito bom vai acontecer hoje.

Doce Sorte [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora