Entorpecida

1.1K 175 23
                                    

O mundo girava. Mas eu sentia sua mão pousar sobre meu rosto, leve e sugestiva.

-- Posso dividir ela um pouquinho? - perguntou Vitor ao se aproximar de nós.

Meus olhos involuntariamente se reviraram.

-- Voce não devia perguntar isso pra mim? - levantei o queixo, me sentindo ameaçadora. Ameacei avançar pra cima dele, mas o braço de Adam me impediu

-- Shh... calma, flor. Acho que já deu por hoje, não acha?- ele fala levemente. Sua voz parecia algodão doce. Fechei os olhos ao saboreá-lo.

Mas meu deleite não durou muito tempo. Ao abrir os olhos a visão infernal daquele ser na minha frente me enfureceu.
Eu me sentia forte como se o mundo fosse apenas uma bola de gude. Que pudesse vencer tudo que viesse a minha frente. Um fervor cresce no meu sangue e novamente eu sinto aquele frio subir a espinha.

Christopher.

Ele insite em aparecer na minha cabeça. Eu olhei para Adam. O unico momento que não pensei nele foi quando beijei Adam.
Eu tinha achado minha fuga.

Seus olhos travessos entregavam o tanto que me queria. E eu o queria.

Antes que eu pudesse beijá-lo novamente eu ouço a voz estridente de Caroline se aproximando.

-- É você, Madeleine?!- ela, imediatamente, põe a tela do celular perto do meu rosto. A luminosidade me cega por alguns segundos. Demora até que eu perceba o que estava vendo.

A foto da minha familia estampada num site de notícias famoso. Eu engoli em seco. Sabia do que se tratava. Hesitante, olhei para Caroline, que me olhava incrédula.

Uma onda de desespero assola meu corpo.

"Massacre de Bosque Livre ganha novo desfecho. Desaparecidos são na verdade, também, vítimas de homicídio.

lembre o que aconteceu nessa cidade isolada e como a única sobrevivente vive nos dias de hoje."

Palvras sujas. Pretenciosas. Desrespeitosas.

Eu sentia ânsia do que lia. Tratavam a minha dor como show, palco para um espetáculo horrendo de sofrimento. Mas o pior de tudo aquilo era que
Todos sabiam agora. Eu não era mais tão anonima, não era apenas eu e a minha dor. Agora demos espaço para a piedade.

-- Não acredito nisso... Filhos da puta! AHGR!- eu surtei e joguei o celular encima de Caroline.

Uma música frenética soava atrás de mim. Eu estava novamente em fuga.Corria entre as pessoas suadas, envolvidas no álcool, nos sentimentos ávidos. Assim como eu.

O ar frio daquela noite entrou pelas minhas narinas. Eu finalmente tinha conseguido sair de lá.
Me sufocava todos os olhares, a piedade, surpresa e até tristeza.

Fechei os olhos com força.

Christopher, faz isso parar.

Eu estava ficando louca. A única coisa que eu queria naquele momento era ele. Precisava descontar toda a minha raiva, angústia que tinha no meu peito.

Cambaleei para o lado. Estava absurdamente tonta e confusa.

Não havia ninguém na rua. A não ser o segurança do pub em frente a porta. Não havia taxis, muito menos estação de metro.

--Dane-se.- eu resmunguei e sai caminhando pela rua.

Não conseguia me concentrar num ponto a minha frente, as linhas da calçada não ficavam paradas. Isso me irritava.

-- Parem! Parem de se mexer suas malditas!- e lágrimas esquisitas começaram a brotar no meu rosto. Eu sentia raiva da calçada.

Novamente ameacei cair para o lado. Mas senti um braço me envolver e me impedir de cair.

Vou Até Você - (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora