Curativos do Tempo

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A primeira coisa que sinto é o cheiro forte de lavanda
E álcool hospitalar

Alguém segura minha mão.
Não consigo sentir meu corpo. Tento mexer meus dedos, minhas pernas, mas elas não se movem.

O barulho da máquina vascular soa no quarto branco.
Meu pai dormia ao meu lado, sentado, segurando a minha mão

—Pa-a-ai.- a minha voz sai falhada

Ele levanta a cabeça, com os olhos arregalados.

—Filha...? Você acordou? Eu não tô sonhando? - ele fala, quase chorando

Eu aceno que sim

—Meu Deus! Isso é um milagre.- ele ri e corre fora do quarto. Ouço ele gritar

—Minha filha acordou!!! Ela acordou doutor!

Que merda tinha acontecido? Por que eu não morri?

O médico entra no quarto, sorrindo
Atrás dele,outros enfermeiros aparecem
Pareciam maravilhados

—Quant-o tem-po-o eu dor-mi?

Eles se entreolham

—Seis meses , filha.- diz, meu pai

Meu deus, seis meses em coma. A última coisa que me lembro foi de ser arrastada pela estrada. As lembranças me invadem com violência. Meu coração dispara.

—Ei, ei, ei. Fique calma. Você não pode ficar nervosa. Você acabou de acordar, não podemos correr o risco de você apagar de novo,.- o médico se aproxima

Com muito esforço eu consigo mexer minhas mãos

—É assim mesmo. Você passou muito tempo nessa cama, mesmo com a fisioterapia, você vai ter dificuldade pra recuperar totalmente os movimentos. Mas isso é reversível, logo logo você vai estar em casa.

Eu olho para o meu pai. Com dor no coração.

—Pai, com-o-o me acha-a-ram?

Ele suspira, negando

—Nao, não posso. Isso vai te fazer mal.

—Eu vo-u ficar-r pi-o-or se não fa-la-r! - eu tento falar mais alto, mas minha garganta não deixa

Ele olha para o médico.

—Qualquer problema, me chame.- diz o médico e sai do quarto.

Ele volta a sentar ao meu lado, segura minha mão.

—A inspetora botou um rastreador no seu celular. Ela já sabia que você estava em Bosque livre. Ela foi até a minha casa e partimos quando amanheceu naquele dia. Porque sabíamos que algo errado tinha acontecido. Você nunca pisaria lá...- ele parece engolir o choro.- Quando a gente chegou...aí Madeleine, era uma cena horrenda. Pessoas mortas pra todos os lados e aquilo me desesperou porque você estava lá! Porque o meu filh...- ele interrompe.- O Erick estava lá.

Ele me olha quando menciona Erick. Eu não podia imaginar a dor que meu pai estava sentindo. O próprio filho fazer o que fez. Isso devia tá maltratando muito o coração de um pai.

—Eu sinto muito minha filha, eu...aquele homem não era o meu filho. Eu não aceito, não aceito isso! Os policiais prenderam ele, junto de um monte deles. A inspetora me disse que alguns conseguiram fugir. Mas era uma organização absurda. Um deles disse que o Erick encontrou essas pessoas na internet, prometendo uma caçada humana, mas era um pretexto pra machucar você. - ele aperta minha mão

—Eu perguntei por você e ele sorriu. Aquilo me destruiu quando eu soube o que ele tinha feito com você. Eu corri, corri atrás de você...- ele começa a chorar.- Você tava a quilômetros do hotel, você foi arrastada por quilômetros! - ele grita, com raiva.- O seu estado Madeleine, eu jurava que nunca mais escutaria a tua voz...eu acho que o motorista do carro escutou as sirenes da polícia e fugiu. Foi o que te salvou.

Vou Até Você - (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora