Simplesmente, amor.

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Sasuke:

Encarava o rosto dela, era como se naquele momento eu tomasse consciência de tudo. Nosso primeiro contato quando crianças antes da acadêmia, nosso contato dentro da escola, suas revelações claríssimas sobre o que sentia, as vezes em que a deixei. O dia que me surpreendi ao revê-la no cativeiro de Orochimaru. O dia que disse a Karin que ela me lembrava alguém (Sakura), o dia que fui rude demais colocando-a em um genjutsu. O dia em que a deixei sozinha em Konoha de novo. O abraço que ela me deu quando voltei. Os dias que ela dormiu comigo e me acolheu, o dia que ela disse "sim".

Tudo aquilo me vinha à cabeça porque não fazia sentido me segurar ou me esconder perto dela. Eu era fechado, era complicado falar de mim. Era difícil fazer amizade e ser receptivo. Era difícil carregar meus traumas e meus pesos, era exaustivo. Mas com Sakura eu não era julgado sem humanidade. Com ela eu não tinha que segurar nada. Com ela eu tinha paz porque as minhas sombras não eram uma vergonha. Minhas sombras não eram um erro. Meus braços rondaram o seu corpo miúdo, sentia suas mãos em meus cabelos os acariciando. Me perdia no seu cheiro fresco, na sua temperatura quente e acolhedora mesmo no calor.

-É que eu... Eu sinto muita falta dele. Não é fácil carregar o fardo de sempre fazer parte dos planos dele. -Disse por fim.

Sakura:

Encarava seu rosto, seu rosto estava vermelho em baixo dos olhos e na ponta do nariz pelo choro. Eu não ousei interrompê-lo, Sasuke carregava tantas coisas que era bom que ele pudesse extravazá-las. Seu choro era sempre silencioso.

-Ele me fez ver a morte dos meus pais muitas vezes. Depois me deixou no escuro cultivando ódio. Fiz o que fiz para matá-lo e no fim... Ele foi uma peça da péssima gestão de Konoha. Eu queria tanto odiá-lo ainda ao mesmo tempo que... Não me conformo com tudo o que ele aguentou sozinho. E todos os nossos contatos depois da verdade... Foram ínfimos. -Disse sua voz abafada em meu peito. Lhe beijei a testa. Sasuke porém encarou o chão.

-A sensação de que não mereço redenção... E não mereço seu amor, não ser mais digno de afeto nenhum me assombra. -Ouvi-lo dizer aquilo era doloroso. Era estranho que Sasuke conseguisse dizer o que via e sentia agora, porque por muito tempo ele fora terrivelmente reservado e introvertido. Me sentei ao lado dele.

Sasuke:

-Sasuke... Você notou o novo hospital em Konoha quando retornou. Não notou? -Foi tudo o que ela disse, eu notei sua súbita mudança de assunto.

-Hn. -Suas delicadas mãos encontraram meu rosto. Me permiti fechar os olhos.

-É um tipo de hospital voltado para o estudo da mente. Entrevistamos diversas pessoas depois da guerra, Ino e eu fomos atrás de muitos estudiosos da mente. Acredito que tudo o que passou na vida, lhe provocou dores muito grandes que explicam tudo sobre você. Inclusive... Se meu diagnóstico não esta errado. Acredito que sofra de estresse pós traumático. -Encarava atentamente seu rosto.

- Acredito que você guarda também uma sensação de querer se provar ao mundo, mostrar que é forte e digno e que este sentimento se choca com o quanto você ama figuras como Itachi, Naruto. Você vê muito dele em Naruto. Por causa do estresse você teve suas relações interpessoais lesadas. Você se tornou retraído e por isso nos repelia tanto. Mesmo agora... Mesmo me querendo ao seu lado você ainda me repele. Por acreditar que é menos merecedor porque sua autoestima também esta quebrada. -Disse Sakura por fim me dando todas as cartadas e pontos clínicos  sobre mim que eu evitava pensar. A ouvir lançar todas as verdades em mim... Doeu. Encarei o chão tentando digerir seu resumo médico incisivo da minha existência. Suas mãos delicadas ergueram meu rosto fazendo-me a encarar. Seus olhos verdes e convictos me encaravam.

All the things she said. Onde histórias criam vida. Descubra agora