A ameaça que veio do Norte

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No vilarejo do reino do Leste, em um local um pouco retirado, fica o lar de Ágata. Desde que perdera os pais, a jovem tem vivido com sua avó aquém apesar da idade avançada ainda é muito lúcida, e embora tenha a audição um tanto comprometida sempre está disposta a dar a máxima atenção para a neta amada.

- Chorando de novo, Ágata?! – indaga a senhora Tânia, ao perceber que, mais uma vez, a neta encontra-se a sofrer por um motivo já conhecido, o homem que escolhera a rainha a ela.

- Não é nada, Vó! – diz a moça no susto, enquanto tenta esconder as lágrimas. Percebe que já não está mais sozinha na sala e que seu choro inexprimível acabara por despertar sua avó que até então repousava em seu quarto.

Parecendo compreender a situação da neta, a idosa vai até a cozinha e depois de algum tempo, volta lhe trazendo uma caneca de chá bem forte e quente, na tentativa de reanimá-la.

- Não precisa tentar agir como se tudo estivesse bem, querida! – diz a senhora enquanto sua neta toma o chá com as mãos visivelmente tremulas. – Posso perceber o quanto o amor que você ainda sente por aquele homem lhe tem corroído o coração e...!

- Não. Você está enganada, vó! – retruca a moça cujos lábios também tremulam. – Eu não gosto mais do Abner!

- Querida não faça isso a você mesma. Sei o quanto você tem sofrido desde o dia em que descobrira que ele estava vivo e nos braços da rainha Heloise. Vejo que seus olhos revelam exatamente o contrário do que sua boca insiste em dizer!

Diante dos argumentos da avó, Ágata se cala por algum tempo, e até tenta se segurar para não revelar complemente o que seu coração de fato sente.

- O Abner é um idiota que jamais soube o que é amar de verdade! – Afirma Ágata com um tom endurecido na voz. – Eu... Eu... Odeio ele...!

Logo, a moça que já não pode se conter cai em um profundo pranto:

- Por que o Abner fez isso comigo, vó? Eu o amava e tinha tantos planos para com...!

Notando que a neta já não consegue mais falar, Tânia, rapidamente, lhe toma nos braços, assim como sempre o fez em seus momentos de tristeza e dor. Busca sossegar seu aflito coração - o qual já se expressa através um pranto sentido. Por um tempo ficam ali, e a senhora de idade avançada tenta passar um pouco de sua, já escassa, energia para sua neta que ainda tem toda a vida pela frente.

Assim que recupera a consciência, Ágata fita a avó, aquém sente sua dor e lhe pergunta:

- Esse sentimento árduo que tenho sentido não é mesmo algo do qual a gente tem o controle que gostaria, não é vó?

- De fato, minha amada Neta...! – responde a senhora de rosto marcado pelo tempo, e que cujas vestes agora se encontram úmidas pelas lágrimas daquela aquém cuidara e déra todo o amor e carinho que pudera dar. – ...Nada nesta vida machuca e deixa feridas mais profundas do que um amor defeituoso!

- Em algum momento de sua vida, você já amou alguém assim, vó? – indaga a moça de surpresa para aquela que a fita com olhar fraternal.

Nesse momento, Ágata nota que a face da avó passa por repentinas e notáveis mudanças. Logo, essa abaixa a cabeça pensativa - como se revisasse a própria vida em segundos. As primeiras lágrimas começam a se manifestar naqueles olhos cansados, os quais presenciara de um tudo em sua longa vida - coisas que a neta que agora lhé fita, não faz idéia.

-Sim, minha neta. Eu amei sim...! – balbucia a avó da moça aquém, ao notar o que se passa, corre para lhe abraçar. Juntas choram como se não houvesse o amanhã.

A irmandade Secreta dos Reinos SilenciososOnde histórias criam vida. Descubra agora