Eu estou com sede...

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- Eu estou com sede. – Foi só o que eu consegui pronunciar ao acordar, logo após o meu despertar.

Ainda me sentia um pouco tonta e confusa, e haviam sensações que eu sequer imaginava que pudessem existir, como aquela sede implacável que me atormentava... Não era como a sede que eu sentia antes, não era uma sede que podia ser saciada com água, chá ou qualquer liquido simplório... Era sede de sangue.

Ayato foi o primeiro rosto que vislumbrei ao abrir meus olhos, e após pronunciar aquelas poucas palavras com muita dificuldade, instintivamente fitei o pescoço daquele que se intitulava o meu dono. Eu podia sentir o cheiro de sangue vindo dele, podia sentir cada veia e artéria daquele corpo apetitoso pulsando bem ali na minha frente, ao meu alcance... Ayato não parecia nem um pouco surpreso com a atitude que tomei a seguir, movida apenas pelo meu instinto e desejo de sangue fresco.

Lancei-me sobre ele, fazendo com que tombasse para trás acima daquele luxuoso sofá e ficasse deitado sob o meu corpo. "Tão vulnerável...". Aproximei-me de seu peitoral – na altura onde provavelmente ficava o seu coração – e fui subindo lentamente até alcançar o seu pescoço, e aspirei profundamente o cheiro que exalava daquele ser... "O que me disseram certa vez é verdade, dá pra sentir o cheiro do sangue correndo por debaixo da pele". Sem mais delongas, finquei minhas presas naquela carne macia a fim de saciar aquela sede descomunal. Não sou capaz de expressar a minha surpresa ao sentir o gosto daquele sangue... Se tivesse que descrevê-lo, diria que seu sabor se assemelhava a chá de camomila. O quanto isso era irônico? Ayato, que provavelmente era o irmão mais impulsivo, possuía um sangue que acalentava. O prazer de sentir pela primeira vez as minhas presas se aprofundando no corpo de alguém era indescritível... "Agora eu sou igual a eles."

Enquanto me saciava, cerrei os olhos na tentativa de ver o que os outros cinco estariam fazendo, constatando que eles estavam do mesmo modo de quando despertei... Não haviam movido um musculo sequer. "Será que já esperavam por isso?". Foquei a minha atenção novamente em Ayato, que agora deslizava uma de suas mãos por meus cabelos, me fazendo uma espécie de cafuné. "Ele está gostando?". Deixei escapar um gemido abafado diante da possibilidade de estar proporcionando prazer para aquele infeliz que a pouco me tratava como sua escrava, me fazendo completamente submissa a ele. Como resposta ao meu tímido gemido, ele tencionou levemente a mão como se pretendesse puxar meu cabelo que estava entrelaçado em seus dedos... Eu estremeci, mas ele não o fez.

Impaciente, Kanato se aproximou lentamente e parou ao nosso lado, se pondo a nos observar por alguns segundos... Não sei dizer se ele estava curioso ou furioso com aquela situação, provavelmente um pouco dos dois.

- Não seja tão egoísta, eu não lhe pareço mais apetitoso que o meu irmão? – Repousou Ted (seu ursinho) no chão, ao lado do sofá enquanto franzia o cenho forçando uma expressão que pudesse me comover.

- Já que deseja tanto assim, não o farei esperar mais... – Me desvencilhei de Ayato, convidando seu irmão invejoso a se sentar entre nós e ao meu alcance. – Sente-se aqui.

Repousei minhas mãos nas laterais de seu rosto e acariciei gentilmente suas bochechas, em seguida deslizando as pontas dos meus dedos ao longo de seu pescoço até enfim alcançar os seus ombros... Aproximei meu rosto de sua nuca desnuda e desferi uma lambida antes de perfurar sua pele com meus novos caninos. Senti a pele dele se arrepiar com minha ação e não posso negar que aquilo deveras me excitava. "O que exatamente mudou em mim? Esses instintos, esses desejos... Isso não sou eu! No entanto, sinto que não sou capaz de resistir a tudo isso, resistir a eles!"

O sangue de Kanato não era tão suave quanto o de seu irmão gêmeo, mas igualmente delicioso. Seu sabor se assemelhava mais a morangos não muito maduros, sendo doces e um tanto azedos ao mesmo tempo... "Será que isso tem alguma relação com a obsessão dele por doces?". Enquanto degustava o que Kanato tinha a me oferecer, decidi fitar Ayato que nos olhava de um jeito um tanto quanto assustador... "Ele está com ciúmes? Patético!".

Por um breve instante fiquei tão concentrada naqueles dois que me esqueci completamente que haviam mais quatro deles naquele recinto, sendo surpreendida por Laito que se aproximara sorrateiramente e se colocara em pé atrás de mim. "Devo ter mais cuidado, não posso baixar a minha guarda novamente!".

- Vadia, acha justo se divertir apenas com esses dois? Não percebe que todos desejamos sentir as suas presas em nossas peles? – Sussurrou enquanto roçava suas presas em minha nuca, causando arrepios por todo o meu corpo.

- Continua me chamando de vadia? Até quando pretende continuar com isso seu desgraçado? – "Como fui capaz de lhe dirigir tais palavras? Eu perdi mesmo a noção, ou apenas não sentia mais medo? Por céus, o que está acontecendo comigo?" . Me desvencilhei de Kanato e o fitei com a expressão mais séria que era capaz de esboçar. – Tem a audácia de me pedir algo enquanto me ofende?

- Ofender? Desde quando a verdade ofende? Sabe que não posso chama-la de nada além disso, afinal você não passa mesmo de uma vadia. – O sorriso que se projetou em sua face fez com que todo o meu corpo ardesse. Aquele desgraçado mexia mesmo comigo, e não posso negar que neste ponto muito me excitava ouvi-lo se referir a mim daquele modo. "Eu só posso estar louca! Será que o meu despertar fez com que os meus desejos mais sombrios viessem à tona?"

- Saibam que estou tão sedenta que nem mesmo todos vocês juntos poderiam saciar-me. – Girei minha cabeça, fitando os olhos de cada um daqueles irmãos que há dias se deliciavam do meu sangue, e agora pareciam completamente sujeitos as minhas vontades... "Como as coisas podem mudar num piscar de olhos, bem se diz que um dia é da caça e o outro do caçador."

Red Moon - Depois do Despertar (Versão sem Censura)Onde histórias criam vida. Descubra agora