O barulho da chave girando na porta fez Patrícia saltar de cima do sofá e esconder seus seios e seu sexo com almofadas. A morena ao seu lado fez exatamente a mesma coisa, no entanto, Brunna ainda assim foi capaz de ver algo antes do total cobrimento dos corpos.
-- Patrícia, de novo? -- Brunna reclamou chateada.
-- Eu pensei que você não viria mais, já viu que horas são? Quase oito da manhã. Achei que finalmente tivesse aceitado sair com a Chloe e que dormiria com ela lá.
-- O quê? -- Brunna perguntou inconformada. -- Eu nem vi aquela garota. Onde estão os garotos, afinal?
-- Ricardo já foi para a faculdade e o Diego foi fumar maconha com alguma garota que não me lembro o nome. -- Brunna assentiu e coçou os olhos.
-- Certo. Podem continuar então, vou subir, tomar um banho e dormir umas duas horas. -- Ela disse, indo rumo às escadas de madeira invernizada.
-- Onde estava, afinal, se não estava com a Chloe? -- Larissa perguntou não se aguentando de curiosidade.
-- Aconteceu algo bizarro ontem e por alguma razão uma garota que estava em coma havia quatorze anos respondeu à minha voz.
-- Quatorze anos? Ela está bem? Fala ou anda? Tudo isso de tempo não era para ter comprometido seu cérebro? -- Patrícia perguntou surpresa.
-- Como chegou a encontrar um caso assim? Pensei que fosse da fisioterapia. -- Larissa concluiu.
-- E sou. -- Brunna respondeu. -- E sobre as perguntas de Patrícia... Bem, ela fala normalmente, o resto ainda não sabemos. Ela deve passar por uma bateria de exames exaustivos, coitada. -- Brunna disse em um suspiro. -- De qualquer forma, vou sair uns trinta minutos mais cedo para ir visitá-la. -- Disse, dando de ombros. -- Bom sexo para vocês.
-- Obrigada. -- Disseram em uníssono e Brunna subiu as escadas correndo.
Tomou um banho não tão demorado, pois sentia suas pálpebras pesarem, no entanto, quando finalmente se deitou em sua cama seus olhos não se fecharam. Seu cérebro não permitia; ele ficava enviando imagens do sorriso de Ludmilla e lembranças do elogio sobre os olhos de Brunna.
Ela não fez muita coisa após aquele elogio, pois o médico insistiu que ela saísse da sala junto com Silvana, pois precisava realizar uma série de exames. Antes de sair, Silvana ouviu o "Mamãe?" E caiu em um choro intenso antes de abraçar sua filha e prometer voltar logo.
Brunna se remexeu na cama e fechou os olhos forçadamente, porém aquele sorriso voltou a invadir seus pensamentos. Brunna bufou irritada e se cobriu, mas, segundos antes de dormir, a rouquidão da voz de Ludmilla voltou a pronunciar:
"Os seus olhos também são lindos."
Esse era o maldito problema em nunca receber elogios de mulheres tão lindas: Quando recebia não era fácil esquecer. Tentou evitar, mas um sorrisinho bobo enfeitou seus lábios antes de finalmente conseguir pregar os olhos.
[...]
O corpo da garota estava quebrado; ela não deveria sequer ter dormido, pensou, pois se sentia muito pior. Nos olhos havia pingado colirio, já que ardiam intensamente. Seus pés correram o mais depressa possível para dar tempo de visitar Ludmilla.
Assim que chegou na porta a qual tanto ansiava, deixou três batidas suaves na mesma, que logo foi aberta por Silvana. A mulher avançou em Brunna assim que a viu, envolvendo suas mãos ao redor do pescoço da garota e a abraçando forte.
-- Eu jamais serei capaz de agradecer o suficiente, querida. -- Silvana disse emocionada, fazendo Brunna sorrir.
-- Não me agradeça, senhora Oliveira, eu não fiz nada. Foi tudo mérito única e exclusivamente de Ludmilla. -- Brunna disse sentindo a mulher lhe soltar e enxugar uma lágrima solitária. -- Como ela está?
-- Perfeita. -- A mulher disse, dando espaço para Brunna entrar no quarto. -- O médico disse que ela terá que ficar uns dias em observação e terá que passar por fisioterapia, pois ela está há muito tempo em desuso dos músculos e dos ossos. -- Silvana explicou, vendo Brunna sorrir e acenar para Ludmilla, que sorriu de volta. -- O cérebro dela também é acostumado a carregar um corpo de seis anos, então ele mesmo pregará peças nela até entender que seu corpo já é adulto.
-- Mamãe... -- Ludmilla chamou, fazendo a mulher se calar e pôr atenção em sua filha. -- Ela voltou mesmo. -- Ludmilla disse sorrindo e se ajeitando mais na cama.
-- Sim, querida. Eu disse que ela voltaria. -- Silvana disse rindo de uma forma calorosa.
-- Olá, Ludmilla, sabe quem eu sou? -- Brunna perguntou, se aproximando da cama e, consequentemente, de Ludmilla.
-- A moça dos olhos de chocolate. -- Brunna enrubesceu ante ao elogio. -- Eu gosto de chocolate.
-- Bem, eu te trouxe caramelos, mas eu conversei com seu médico antes de entrar aqui e, infelizmente, ele disse que você terá que passar por uma dieta rigorosa por alguns dias, sinto muito. -- Ludmilla fez uma careta antes de olhar seriamente para Brunna.
-- Nem escondido? -- Ela sussurrou após tampar sua boca com uma das mãos para sua mãe não ver, fazendo Brunna rir a plenos pulmões.
-- Não seja assim, mocinha. Não é legal trapacear nas regras quando se trata de nossa saúde, tudo bem? -- Brunna disse e Ludmilla assentiu um pouco contrariada.
-- Brunna, posso aproveitar que está aqui para ir ao banheiro? -- Silvana perguntou, vendo a moça assentir. Pobre Silvana, deve estar exausta, pensou Brunna. Se ela não tivesse que ir para suas aulas práticas ela ficaria com Ludmilla para a mulher tirar algumas horas para descansar.
-- Mamãe me disse que eu não sou neném. Que agora eu já tenho vinte anos. -- Ludmilla disse fitando com atenção as expressões de Brunna.
-- Ela disse isso?
-- Disse também que eu sempre serei o neném dela, mas me explicou o que aconteceu. -- Ludmilla disse. -- Parece o desenho do jacaré que queria comer o pica-pau.
-- Ah, sim? -- Brunna perguntou rindo. Ela adorava aquele desenho em sua infância.
-- Sim, só que ao invés de dormir por todo o inverno eu dormi por vários. -- Brunna assentiu, orgulhosa por Ludmilla ter entendido.
-- E suponho que sua fome esteja igual ao do jacaré, hm? -- Brunna perguntou rindo ao ouvir o estômago de Ludmilla roncar. A maior acenou um pouco envergonhada e Brunna sorriu. -- Já está quase na hora de sua refeição. Vai comer tudo?
-- Siiiiim. -- Ludmilla disse animada e Brunna riu.
-- Voltei, crianças. -- Silvana disse, sorrindo abertamente. Rápida! Pensou Brunna. A garota se permitiu fitá-la: Ainda aparentava cansada, porém aquela grande tristeza e falta de brilho em seus olhos já não existiam.
-- Eu adoraria ficar mais, mas o dever me chama. -- Brunna disse entortando a boca e Ludmilla cruzou os braços.
-- Ah não! -- Protestou emburrada.
-- Brunna tem coisas para fazer, meu amor. Lembra-se do que conversamos? -- Ludmilla assentiu ainda emburrada.
-- No meu intervalo eu prometo passar aqui, tudo bem?
-- Falta muito para isso? -- Ludmilla perguntou.
-- Umas quatro horas. -- Brunna informou.
-- Mamãe, quanto é isso? -- Silvana entortou a boca, como explicaria isso?
-- São o mesmo que dois filmes da Disney, mais ou menos. -- Brunna se apressou em dizer.
-- Jura que vem?
-- Juro. -- Brunna respondeu.
-- De dedinho? -- Ludmilla questionou, esticando seu dedo mindinho. Brunna o olhou e sorriu genuinamente.
-- De dedinho.
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Em um Piscar de Olhos (Brumilla)
FanfictionLudmilla Oliveira tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o...