-- Posso saber por que chegou tão cedo? -- Mateus perguntou rispidamente, vendo Brunna arrumar as coisas necessárias para o dia.
Sua primeira pessoa a atender seria Ludmilla e isso melhoraria consideravelmente seu dia, levando em conta que não a via desde o dia anterior e que seu dia estava sendo horrível, pois a madrugada havia sido repleta de gemidos de Larissa e Patrícia, vindos do banheiro. Comemoram mais um mês juntas e tal festejo fez Brunna mal pregar os olhos.
-- Ainda não estou em meu horário, não preciso te dar satisfações. -- Brunna respondeu com a rispidez igualada a dele. Ela sempre fora gentil, por tal razão Mateus estranhou sua resposta.
-- Exatamente. Você não tem autorização para mexer em nada aqui fora do seu horário. Desfaça tudo e deixe como encontrou. -- Exigiu.
-- Não. -- Ela respondeu secamente, bocejando logo em seguida.
-- Brunna, não me faça tomar medidas drásticas.
-- Simon, eu entro em quatro minutos. Para que desarrumar tudo, sendo que terei que reorganizar as coisas exatamente assim?
-- Porque eu estou dizendo para fazer. -- Exigiu, trincando seu maxilar.
-- Não pode tratar as pessoas como se fossem meros pedaços de lixo. -- Brunna disse, vendo o homem se aproximar com a expressão rígida em seu rosto.
-- Eu as trato como eu quiser. -- Falou a encarando. -- Agora faça o que eu mandei ou tornarei seus próximos meses aqui um inferno. -- Brunna respirou fundo.
-- Tudo porque eu disse que não precisava te dar satisfações?
-- Assim aprende a ser menos rude com as pessoas. -- Avisou ele.
-- Rude? -- Ela perguntou. -- Jura, Mateus? -- Ela indagou sentindo-se cansada e derrotada. -- O que eu te fiz?
-- Como?
-- O que eu te fiz? -- Repetiu com veemência. -- De todos os dez alunos que estão sob sua responsabilidade eu sou a única que você trata assim. -- Disse. -- Eu sou a única que fica até mais tarde para te ajudar a organizar tudo, mesmo sem precisar, e não faço isso para puxar seu saco e sim porque imagino o quão cansado deva estar. -- Falou umedecendo seus lábios. -- Então o que eu te fiz para me tratar todos os dias como um pedaço de lixo? Como se eu estivesse abaixo do subsolo? -- Mateus riu e negou com a cabeça.
-- Tudo bem, Brunna. Então além de arrumar isso tudo você terá que ir buscar café para mim. -- Ele disse, se encostando tranquilamente na pilastra dali. A menina apenas se sentou no chão e apoiou o rosto sobre suas pernas, puxando fortemente o ar para seus pulmões. -- Não me ouviu?
-- Quem não ouviu foi você. Não estou em meu maldito horário; cheguei mais cedo porque me voluntariei para tornar o ambiente melhor para Ludmilla, então se você quiser seu bendito café mexa essa bunda preguiçosa e vá buscar você mesmo. -- Ela disse irritada, só não sabia com o quê, exatamente.
Brunna sempre fora pacífica; sempre acatara tudo o que Simon dizia sem problemas, mas talvez o cansaço, o mau-humor, a solidão e a TPM estivessem um pouco reunidas demais. A ligação de sua mãe naquela manhã a deixou sensível, não era para menos, sentia saudade de sua família e isso a fez pensar sobre toda a sua vida: Ela era uma tremenda solitária. Sempre fora.
Seus amigos eram como uma pequena segunda família, porém mal se viam, tendo em vista que os horários eram todos incompatíveis. Ela não tinha mais ninguém além deles, Silvana e Ludmilla agora se incluíam nisso, exatamente por isso ela acordou com o propósito de fazer o dia mais legal para aquelas duas, haviam passado por um bocado de coisas, mereciam ser felizes.
-- O que está havendo com você? -- Mateus perguntou, se sentando ao seu lado. -- Nunca me respondeu assim antes. -- Brunna enxugou uma lágrima solitária com sua camisa sem que Mateus percebesse e levantou o rosto, suspirando.
-- Desculpe, acho que não dormi direito. -- Se recompôs, fazendo um enorme silêncio pairar sobre ambos.
-- Acho que você está tornando pessoal demais isso com a garota. -- Mateus se pronunciou. -- Não deveria deixar isso acontecer. Onde está seu profissionalismo? -- Aquilo foi a gota que fez seu copo transbordar.
-- E onde estava o seu quando se supõe que deveria me ensinar algo? Eu passei os últimos meses me ferrando, estudando em dobro para conseguir aprovar, porque você nunca me ensina nada. Apenas me manda buscar café, café e mais café. -- Ela disse se levantando, olhando em seu relógio de pulso.
-- Eu...
-- Saia daqui! -- Brunna exigiu, fazendo o homem abrir a boca irritado para dizer algo, porém ela não o deixou. -- Agora são oficialmente uma da tarde, onde meu horário começa e, por conseguinte, a sessão com Ludmilla. Eu sou a responsável por ela, não sou? Então eu não quero você como ajudante mais. -- Avisou. -- Você vai tornar minha vida um inferno por isso? Oh, claro que vai, mas adivinha só? Você já tem feito isso desde que pisei neste bendito hospital, então eu realmente não me importo.
-- Não vou sair.
-- Oh, você vai sim. -- Ela disse. -- Saia! -- Disse com veemência, apontando na direção da porta. -- Eu não quero você e sua áurea podre e negativa perto de alguém tão doce quanto Ludmilla.
-- O que está havendo aqui? -- A voz de Silvana ecoou no recinto, fazendo Brunna olhar em sua direção. Ela empurrava a cadeira de rodas de Ludmilla, que olhava sorrindo para Brunna.
-- Olá, meus amores. -- Brunna respondeu docemente, sentindo seu coração instantaneamente mais calmo. -- Nada demais, Mateus não ficará mais conosco. -- Informou se aproximando. -- Como estão?
-- Ontem eu estudei um montão, Bu. -- Brunna sorriu e se abaixou na frente da garota.
-- Estou tão orgulhosa. -- Brunna informou, pincelando seu dedo indicador pela vértice do nariz de Ludmilla. -- Me diz uma coisa, Ludmilla, você gosta de bolas?
-- Depende. Eu não gosto de futebol. -- Ela disse. -- Por quê?
-- Porque hoje vamos usar uma bola suiça em nossas sessões.
-- Ela veio de tão longe assim? -- Ludmilla indagou, fazendo Brunna rir.
-- Bola Suíça é como chamamos as bolas iguais as do Kiko, porém mais consistentes.
-- Vamos brincar com aquelas bolas grandonas? -- Os olhos de Ludmilla se iluminaram.
-- Sim, só estamos esperando o senhor Mateus se retirar. -- Brunna disse olhando para o homem no momento seguinte. -- Esta é uma sessão privada.
Sem dizer nada o homem saiu bufando sem sequer olhar para trás.
-- O que foi isso? -- Silvana indagou, rindo.
-- Jamais permitirei que vocês fiquem perto de pessoas tóxicas. -- Brunna disse, voltando a fitar Ludmilla. -- Vocês são valiosas demais para ter que aguentar isso. -- A mão de Ludmilla lentamente tocou o rosto de Brunna, iniciando uma carícia suave.
-- Aquele homem é mau, não é? -- Perguntou.
-- Não sei dizer, Lud, mas sua alma talvez seja um pouco perdida.
-- E ele machucou seu coração, não foi? -- Ludmilla perguntou, continuando suas carícias.
-- Por que acha isso? -- Brunna perguntou curiosamente.
-- Porque seus olhos não brilham tanto quando ele está por perto. -- Ela disse, subindo uma mecha de cabelo de Brunna até atrás de sua orelha. -- Não quero mais ele aqui. Nunca mais. -- Ludmilla disse seriamente.
-- Ah sim? -- Brunna perguntou sorrindo.
-- Sim. -- Lauren afirmou. -- Você pediu para eu cuidar da florzinha. -- Ludmilla disse calmamente. -- E se eu sou capaz de cuidar dela também sou capaz de cuidar de você, Bu. Meu coração dói se te ver triste. -- Brunna suspirou, sentindo seu coração saltitar em seu peito.
-- Então eu não vou mais ficar triste, tudo bem? -- Ludmilla assentiu, sorrindo genuinamente.
Ah! Como Brunna queria poder ignorar a forma como seu coração se inundava de alegria em ter aquele ser humano incrível em sua frente, porém era inegável tal fato, restava aceitar: Ela sorriria feito idiota a cada meia frase que Ludmilla soltasse.
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Em um Piscar de Olhos (Brumilla)
FanfictionLudmilla Oliveira tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o...