Os olhos Brilhantes estavam há quase um minuto presos nos ferros a sua frente, tentando assimilar o que Brunna dissera para que ela fizesse. Confiava em Brunna, contudo, seu verdadeiro medo estapeou-lhe bem na cara: E se não conseguisse?
-- Que tal se tentarmos depois? -- Ludmilla perguntou e Brunna riu suavemente.
-- O que combinamos na virada de ano, hm? -- Perguntou, erguendo uma sobrancelha, mas jamais perdendo o sorriso.
-- Que este ano eu andaria antes da primavera chegar. -- Ludmilla disse e Brunna aquiesceu.
-- Exatamente. -- Afirmou. -- E para isso você precisa começar a treinar na barra paralela. -- Ludmilla umedeceu os lábios pensativa antes de olhar para Brunna temerosa.
-- E se eu não conseguir?
-- Você vai. -- Disse veemente. -- Seus braços já estão fortes para sustentar o seu peso, agora precisamos trabalhar mais suas pernas.
-- Por que meus braços estão bons e minhas pernas ainda não? -- Perguntou.
-- Nossas pernas exigem mais força de nós, você vai chegar lá. -- Brunna insistiu pacientemente. -- Para irmos à piscina da sua casa em alguns meses quero que esteja boa, se não, eu não irei. -- Impôs. Ludmilla entortou a boca e olhou para a barra antes de voltar a olhar para Brunna.
-- Sem Bu de maiô ou biquini? -- Perguntou e Brunna segurou o riso.
-- Sem Bu de maiô ou biquini. -- Disse irredutivelmente, o que causou um longo suspiro em Ludmilla.
-- Você vai me ensinar a nadar? -- Ludmilla era esperta, queria negociar.
-- Sim, mas precisa testar a barra.
-- Se eu cair você não ri? -- Pediu envergonhada.
-- Você não irá cair. Eu estarei bem atrás de você, pronta para te segurar. -- Brunna informou e Ludmilla tomou fôlego antes de assentir.
-- Tudo bem, me leve até ela. -- Pediu. Queria, a todo custo, voltar a andar novamente; queria os passeios que Brunna lhe prometeu; queria poder ter a liberdade de tomar um banho sozinha; de poder subir a bendita escada sozinha; de poder se deitar por conta própria, pois apesar de isso ser algo que ela podia, sua mãe sempre a colocava para dormir.
Não que ela reclamasse, mas havia dias onde ela realmente queria estar sozinha. Aquele era um sentimento novo nos últimos dias, afinal sempre odiara ficar sozinha, porém ter as pessoas em cima dela o tempo inteiro estava começando a incomodar um pouco a menina, mas ela não diria nada a ninguém, não queria ser uma ingrata.
Brunna ajeitou a cadeira de rodas em frente à barra e estendeu os dois braços a ela, fazendo a maior segurar suas mãos. Aquele, de longe, era seu toque preferido: O de Brunna. Havia se passado três semanas após o natal, porém já sentia falta de Brunna dormindo ao seu lado, porque a verdade era que Brunna contava as melhores estórias, todavia, o que prendia a atenção de Ludmilla era a voz eloquente de Brunna, cheia de vida, fazendo cada personagem ser compreendido perfeitamente.
-- Pronta? -- Brunna perguntou e Ludmilla engoliu em seco, mas mesmo assim assentiu. -- No três você vai fazer o que eu te disse, certo? -- Novamente Ludmilla aquiesceu.
-- Certo. -- Ludmilla disse se preparando.
-- Um... -- Brunna começou a contagem, tentando transpassar segurança, porém seu interior estava aflito e ansioso. -- Dois... -- Silvana se aproximou um pouco mais, mal podia esperar por aquilo. -- Três. -- Disse por fim, vendo Ludmilla tomar impulso e, com a ajuda do leve puxão de Brunna, a garota ficou em pé.
Ludmilla olhou para as próprias pernas sentindo-se diferente, bem distinta do que algum dia já se sentiu. Seus olhos umedeceram e um enorme sorriso preencheu-lhe o rosto, fazendo Brunna acompanhar a expressão.
-- Eu estou em pé, Bu... -- Ludmilla disse ainda incrédula. Sabia que não sairia andando por aí, que ainda tinha um longo caminho a percorrer. Claro que sabia! Brunna já havia lhe explicado, mas o fato de conseguir se sustentar sobre seu próprio peso era magnífico e ela não podia medir a amplitude de seus sentimentos.
Brunna sorria diante da emoção no rosto de Ludmilla e Silvana, mas as borboletas em seu estômago vieram lhe visitar assim que Ludmilla apertou mais suas mãos e a puxou para mais perto. Seu rosto se levantou alguns centímetros e seus olhos subiram, acompanhando seus cílios, apenas para encontrar as orbes Brilhantes fixadas em si, tão cintilantes quanto nunca. Brunna estava em uma espécie de transe, até ouvir Ludmilla dizer algo novamente:
-- Eu sou mais alta do que você. -- Ludmilla disse sorrindo singelamente, fazendo Brunna engolir em seco devido à proximidade das duas.
Claro que ela não beijaria Ludmilla ou vice-versa, não ainda sequer trocado outro selinho depois do primeiro e, mesmo que tivessem, ela tinha a plena ciência de Silvy as vigiando. O que fazia Brunna sentir sua pressão baixar foi a sensação de Ludmilla em pé tão perto; uma real e clara melhoria; uma sinal de que as coisas não estavam estacadas.
-- Sim, não é muito difícil ser mais alta do que eu, sabe? Levando em conta que não sou alta. -- Brunna disse rindo suavemente, sentindo Ludmilla se agarrar mais em si como apoio.
-- Eu sempre imaginei se eu seria mais alta. -- Ludmilla disse sorrindo. -- Você continua linda daqui de cima.
Certo, ainda havia momentos onde Brunna enrubescia fortemente ante aos elogios de Ludmilla. Eram elogios inocentes, mas que faziam seu coração flutuar mesmo assim. Um pigarro de Silvana fez Brunna corar ainda mais, focando no que realmente devia.
-- Certo, vou para trás de você e te guiar. -- Brunna disse, segurando a cintura de Ludmilla e indo para trás dela. A menor empurrou um pouco a cadeira para trás e se ajeitou no corpo da maior, tendo suas mãos segurando firmemente na pele de sua cintura. -- Segure nas barras, Lud. -- E assim a menina fez, levando suas mãos brancas até as barras.
-- Eu realmente sustento meu próprio corpo com os braços. -- Ludmilla disse entusiasmada, vendo que Brunna não era nada mais que um apoio.
-- Agora quero ande. -- Brunna pediu. -- Aplique todo o peso que suas pernas aguentarem, mas fique atenta aos braços, eles te segurarão quando as pernas não ajudarem.
-- Você vai ficar aí, não é? -- Ludmilla perguntou. -- Mamãe, eu vou andar! -- Exclamou com entusiasmo.
-- Vou ficar com você todo o tempo. -- Brunna disse, esperando Silvana dar um beijo no rosto da filha por cima da barra antes de se afastar de novo.
Durante todo o tempo Ludmilla fez todos os exercícios sem reclamar, colocando máximo empenho em tudo, mas houve uma hora em que seu corpo estava extremamente cansado, que ela já não aguentava muito. Brunna soube ler seus movimentos, a colocando na cadeira novamente. Apesar da evidente exaustão, Ludmilla parecia tão feliz que acabou por segurar a mão de Brunna e plantar um beijo sobre a delicada pele.
-- Obrigada, Bu. -- Pediu alegremente, fazendo Brunna sorrir diante do gesto.
-- Obrigada você por tentar. Agora preciso continuar o trabalho, tenho mais alguns pacientes. Nos vemos amanhã pela manhã. -- Brunna disse, pois já fazia parte de sua rotina visitar Ludmilla e Silvana todos os dias. -- Fiquem com Deus. -- Brunna disse, se inclinando para deixar um beijo no rosto de Ludmilla, sem embargo, foi surpreendida quando a menina virou o rosto, fazendo seus lábios se encontrarem.
Brunna corou assim que se afastou e seus olhos, automaticamente, foram para Silvana. Será que a mulher pensava que sempre que elas ficavam sozinhas faziam isso? Céus, o embaraço a dominou completamente.
-- Huh, eu... -- O riso calmo de Silvana contradizia o aparente constrangimento em seu rosto.
-- Vá, querida. Está tudo bem. -- Silvana disse e Brunna assentiu, segurando a mão de Ludmilla e depositando um beijo ali.
-- Nos vemos, princesinha. -- Disse sutilmente, vendo Ludmilla assentir freneticamente.
-- Até amanhã, Bu. -- Ludmilla disse, fazendo Brunna sorrir antes de sair. Apesar do evidente embaraço, ela ainda assim podia sentir seus lábios formigando e seu coração agitado.
Sem perceber um sorriso brincava em seus lábios.
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Em um Piscar de Olhos (Brumilla)
FanficLudmilla Oliveira tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o...