Capítulo 1- Hogwarts

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Ela escondeu o rosto no meio dos fios de cabelos castanhos. Sabia que não era verdade, mas parte de seu cérebro insistia em dizer que todos em volta a encaravam. Começou a fitar o chão escuro da estação.

Há algumas semanas, aquela saída seria a última em sua lista de escolhas. Porém, agora, ela pensava que não havia outra. Desde o incidente no meio de agosto sentia como se todas as portas tivessem se fechado. Hermione segurou com força o cordão que trazia no pescoço, a última herança de seu avô.

Lançou mais um olhar em volta por baixo dos cílios. Ninfadora Tonks estava fantasiada como sua mãe e seu marido, Lupin, como pai da menina. Achava ridículo! Quem acreditaria em um trio tão desajeitado como aquele? Nem o disfarce dos dois adultos parecia bom o bastante.

E se aparecesse alguém? E se tentassem matá-la ali mesmo, na frente de todos aqueles trouxas? Mas sabia que por trás da bolsa que Tonks carregava tão próxima ao peito havia uma varinha escondida. E, apesar de Lupin parecer tão calmo com a mão no bolso, sabia que ele segurava o cabo da sua com força e determinação.

Alguns metros atrás, mais aurores caminhavam vigiando seus passos incansavelmente. O próprio ministro estava entre eles, com o olhar sério, vigilante e mal-humorado. Ela sentia-se como um pássaro em uma gaiola.

Até mesmo seu sobrenome fora trocado! Qual era o problema com o original? Bem, ela sabia também. Carregava grande curiosidade e um rastro de sangue em seu encalço. E então, de Hermione Grindelwald passou para a simples Hermione Jane Granger. Um nome trouxa, um nome comum que não traria nenhum tipo de lembranças desesperadoras e nem levantaria a curiosidade alheia.

Por deus! Acabara de perder seu pai, o último integrante da família que havia sobrevivido ao seu lado, será que todos aqueles idiotas não podiam ter um pouco de sensibilidade e respeito e deixá-la em paz em seu luto por ao menos um mês? É claro que não! Houve uma audiência e julgaram que ela corria riscos demais estando sozinha, então iria para Hogwarts.

Hogwarts! O último lugar no mundo em que gostaria de estar. A escola em que o diretor era nada mais, nada menos que o maior inimigo que seu avô já tivera. E também seu melhor e talvez único amigo que tivera em vida e em morte.

Seria vigiada por ele, por seus professores, seus melhores alunos, os homens de sua maior confiança. Ele a protegeria com sua própria vida, foi o que jurou ao ministro naquele fim de tarde escuro. Na verdade, Dumbledore lutara tanto por Hermione que quase a deixou comovida, como se ele lutasse por alguém de sua própria família. Perguntou-se se ele tinha essa mesma atitude com todos seus alunos. Ele prometera, para a incredulidade da menina, que ela seria protegida e teria paz por algum tempo.

Lá no fundo, ela desejava que fosse verdade. Desejava ter paz por pelo menos cinco minutos. Gostaria de fechar os olhos durante a noite e não imaginar se teria alguém por perto que gostaria de acabar com sua vida. Gostaria de ter uma vida comum, de ser uma trouxa, de ser uma simples nascida trouxa, de não carregar aquele legado tão triste em seu sangue. Gostaria de ter alguém por perto, de ter alguém em quem confiar, de ter alguém com quem pudesse verdadeiramente contar. Gostaria de ter seu avô outra vez.

Mas fizera uma promessa e a manteria até o fim de seus dias.

Não podia reclamar. Estavam mesmo tentando ser legais com ela, dando todo aquele apoio moral e dizendo aquelas palavras bonitas para quem acabou de perder alguém que gostava muito. Na maioria das vezes ela apenas sorria, agradecia, dizia que ficaria bem e então fazia qualquer pergunta idiota apenas para mudar de assunto.

Não tinha idéia do que iria acontecer naquele ano, já que seria o único que ela poderia permanecer na escola (aluna transferida, foi o que a professora McGonagall disse). Temia mais do que tudo a convivência com outros alunos. Ela nunca ficara perto de tanta gente.

Born to DieOnde histórias criam vida. Descubra agora