Draco bebericou seu chá enquanto olhava para a lareira. Seus pais sentavam ao seu lado segurando suas próprias canecas. Seu pai, usando óculos de meia lua, lia um livro grosso de fantasia e sua mãe, com pantufas de lã, encarava o fogo crepitante parecendo cansada.
O natal era naquela noite e já estava em casa há uma semana. Não queria admitir e também não entendia ao certo a urgência que sentia em seu peito. Sempre esperava ansiosamente pelas férias, sempre sentia-se feliz e animado ao chegar em casa para as festas do fim de ano. Dessa vez, no entanto, sentia-se agoniado, queria que as férias acabassem para que pudesse voltar para a escola. Suspirou frustrado.
-Suspiros de frustração, inquietação, olhares perdidos e murmúrios ao ouvir música... me pergunto se toda essa ansiedade tem nome, sobrenome, varinha e endereço. –O pai comentou em voz baixa sem tirar os olhos das páginas de seu livro. Draco arregalou os olhos sem desviar da lareira.
-Não entendi. –Mentiu coçando a nuca.
-Eu também não, meu filho. Eu também não. –Lucius Malfoy bebericou seu chá.
Houve um silêncio infernal por um minuto. Draco cruzou as pernas e sacudiu seu pé suspenso enquanto fingia estar distraído. Narcisa observava o filho com certa diversão demoníaca.
-A pessoa está em Hogwarts? –A mãe perguntou em meia voz, também fingindo não estar interessada.
Draco pensou em fingir que não havia ouvido a pergunta, mas seria estúpido. A casa estava silenciosa a não ser pela movimentação dos duendes na cozinha. Sentiu seu corpo contrair.
-Que pessoa? –Sem coragem, preferiu fingir que não estava compreendendo a conversa dos pais.
-A que deixou essa marca que você tentou esconder com um cachecol. –Narcisa apontou em direção ao pescoço de Draco, que deu um pulo passando a mão sobre o pescoço. Havia sido muito descuidado. Lucius fechou o livro, marcando a página com um dedo.
-Já faz uma semana e apenas agora a marca está desaparecendo. –O pai notou sorrindo de canto. –Deve ter sido uma noite e tanto.
Draco sentiu a vergonha o invadir ao recordar as lembranças da última noite que passara na escola. Puxou o cachecol, o enrolando novamente envolta do pescoço e cobrindo até a altura de seu queixo.
-Sim, ela está em Hogwarts. –comentou baixo para a lã de seu cachecol, sentindo-se mal-humorado.
-Por que ela não foi para casa?
-A família dela... É complicado. –Draco se calou sem saber ao certo se devia ou não contar a verdade para seus pais. Era a vida de Hermione em jogo, quanto menos pessoas soubessem a verdade melhor, por outro lado, pensava se os pais não poderiam ajudar de alguma forma.
-Entendo, e porque você não a chamou para vir passar o natal conosco? –Narcisa voltou a perguntar, desta vez observando o filho bem de perto.
-Pelo mesmo motivo. –Draco fez uma careta olhando as folhas flutuando em seu chá.
Todos ficaram em total silêncio por algum tempo. Draco se sentia um tanto envergonhado e um tanto melancólico. Jamais pensou que em algum momento estaria conversando com seus pais com tanta naturalidade sobre uma menina. Lucius ainda o observava, agora com uma sobrancelha levantada.
-Sabe, acho que está na hora de um Malfoy saber fazer algo além de curtir a vida boa. –O pai comentou fingindo desinteresse enquanto bebia mais um gole de chá.
-O que quer dizer, querido? –Narcisa ergueu uma sobrancelha para o marido.
-Quero dizer, querida, que a melhor coisa que eu já preparei foi uma xícara de chá para você. –Ele ergueu a caneca e a esposa ergueu as sobrancelhas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Born to Die
Lãng mạnHermione Grindewald é a última sobrevivente de uma longa linhagem de bruxos brilhantes , mas que acabaram assassinados. Caçada desde criança, em uma tentativa desesperada de fugir e sobreviver, ela acaba em Hogwarts, sendo protegida pelo maior inimi...