Ninguém pode mudar o destino

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Scorpius mal se lembrava da noite anterior. Seu corpo inteiro doía, como se tivesse levado uma maldição cruciatus, e sua cabeça estava zonza, como se precisasse dormir pelo resto do dia; não passava das seis da manhã quando, por sentir uma dor insuportável no braço esquerdo, acordou. Levantou da cama depressa, tropeçando na bagunça dos seus colegas por causa da visão turva, cambaleando até o banheiro, a mão direita apertando firme o ponto de onde a dor despontava. Sentia sua pele ser perfurada, como se algo lhe rasgasse do braço até o punho. Apoiando-se na pia do banheiro com dificuldade para respirar, tentou fazer o mínimo de barulho possível.

Estava assustado demais para olhar para baixo e, como se seu reflexo fosse amenizar o impacto de alguma forma, olhou para o espelho. Seus olhos cinzentos, arregalados pela dor repentina, registraram o próprio rosto pálido e o suor frio grudando a raiz de seus cabelos. No entanto, nada poderia tê-lo preparado para o que encontrou no próprio braço. Levantando a manga curta do pijama, viu sua marca.

Se comparado às marcas que viu na Torre de Astronomia, relativamente pequenas, a dele era enorme. Um caule cheio de espinhos aparecia pouco abaixo de seu ombro e serpenteava por toda a parte interna de seu braço até chegar ao pulso. No entanto, havia algo na extremidade do caule, e Scorpius precisou encarar aquele ponto difuso por uns bons segundos até que percebesse: era uma rosa. Uma única rosa.

Mas... Por que doía? Ninguém pareceu sentir sequer um beliscão na noite anterior. O que aquilo queria dizer, no fim das contas?

Scorpius só percebeu que devia ter ficado muito tempo ali, alisando e analisando a própria marca, quando um punho nada suave esmurrou a porta do banheiro, seguido de uma reclamação quase que inaudível ao ser interrompida por um bocejo. Jogando um pouco de água no rosto, o Malfoy mal colocou os pés de volta no quarto quando Alvo passou rapidamente por ele e trancou-se no banheiro. De certa forma, aquilo o deixava momentaneamente aliviado — poderia evitar um questionário completo do rapaz por mais um pouco de tempo. Colando o braço esquerdo contra o corpo, foi rapidamente até a própria cama e colocou o uniforme, olhando para os dois lados sempre, para garantir que ninguém veria sua marca por hora.

Felizmente, a manga comprida tapava tudo e seu dia seria repleto de compromissos que impediriam qualquer ser vivente — que não fosse ele mesmo, é claro — de ver a coisa em seu braço. Tomou o café da manhã sozinho, encontrou Alvo indo para o salão enquanto voltava para o dormitório, vestiu seu uniforme de quadribol e foi a passos sonolentos para o campo, onde o time da Sonserina se encontraria para mais um treino antes do próximo jogo contra a Corvinal. Chegou antes da própria capitã, Megan Creevey, o que resultou numa longa espera. Teve tempo para sentir a dor desaparecer, e também para ser preenchido por uma sensação no mínimo estranha

Ele tinha uma alma gêmea. Não era único como seus pais. O grande problema foi que, ao sorrir com isso, uma súbita tristeza acometeu seu coração aliviado; por onde começaria a procurar para conseguir encontrá-la?

— Nós temos uma vantagem contra os corvinos — Megan prendia seus longos cabelos loiros enquanto olhava de forma mortal para o time. — Não somos fracotes, não vamos deixar essa história de marca nos distrair do que realmente importa e, o mais importante — sorriu, colocando as mãos na cintura —, vamos fazer o Scamander comer terra, entenderam?

— Não — Alvo respondeu num bocejo. — Vamos derrubá-lo da vassoura?

— O equinócio afeta a pele, Potter, não o cérebro.

Ninguém ousou dar risada; Megan Creevey não aceitava brincadeiras quando fazia referência aos demais capitães, principalmente se um deles fosse seu ex—namorado, já que suas intenções eram, de fato, verídicas. Na época em que terminaram, não houve nenhuma briga até o jogo da temporada onde eles acabaram, sem querer, colocando um pouco mais de intensidade no que era para ser um debate sobre uma suposta manobra injusta da Corvinal — que, por sua vez, não passou de um grande truque da garota para que a Sonserina pudesse levar alguma vantagem. Havia armado tudo junto dos batedores antes de entrarem no campo. Isso consolidou Megan como uma capitã ardilosa, assustadora e terrivelmente brilhante.

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