Se isso é um sonho, por favor, não me acorde

247 16 2
                                    

 A semana que se seguiu passou relativamente rápida em comparação com as anteriores, talvez pela considerável falta de acontecimentos relevantes. A febre das marcas já não queimava tanto quanto na segunda-feira passada, e Alvo afirmava, saltitante, que talvez estivesse conseguindo amolecer as barreiras que Hubi tinha erguido. No entanto, boatos ainda eram combustível para o motor dos jovens repletos de hormônios que compunham o corpo discente, e o assunto da vez era a suposta conexão que as paredes da Torre de Astronomia presenciaram — isso, aliado ao fato de que Rose e Scorpius pareciam mais próximos que nunca e que nem Adam, nem Alvo sabiam mentir, acabou colocando o casal sob os holofotes.

Para a Weasley, não era uma tarefa difícil ignorar os burburinhos que a acompanhavam, principalmente porque tinha a sensação de que já tinha gasto todas as horas que tinha com sua alma gêmea. Quase explodiu de felicidade nas inúmeras vezes em que Scorpius lhe serviu de companhia silenciosa, ou quando ele se dispôs a ajudar com algum pergaminho ou outro, um relatório particularmente engenhoso... Mas aquela sensação enregelada, que persistiu uma semana inteira, a mantinha numa distância segura com relação ao rapaz.

O Malfoy, por sua vez, estava prestes a arrancar seus cabelos. Não parecia ser capaz de desvendar o que incomodava tanto sua alma gêmea — e nem precisava de uma justificativa astral para notar que algo estava errado, os anos de convivência mostravam que provavelmente tinha acontecido alguma coisa —, mas sentia-se ainda pior em dar tanta importância àquilo. Afinal, foi ele quem sugeriu que os dois não ficassem juntos e, contradizendo as próprias palavras, foi ele quem deu o primeiro passo para aquele primeiro beijo na bochecha, e se esse era o motivo, talvez fosse sensato de sua parte manter-se quieto. Por isso, durante uma semana inteira, foi incapaz de proferir uma palavra sequer, mas fez companhia para a ruiva, esperando que ela se sentisse confortável para conversar sobre ou que ele mesmo decidisse tomar alguma atitude.

Scorpius sabia que, em partes, estava certo. Era confuso, conflitante, estranho pensar na situação deles: receberam a marca, tiveram uma conexão, o mundo parecia esperar um happy ending o mais rápido possível, ele sentia seu corpo se consumir em fogo ou sabe-se lá o quê quando olhava para Rose, sua mente deixava acesa uma placa em neon com os dizeres "vocês não vão dar certo" todas as noites antes de dormir, e ainda ousava produzir sonhos numa busca incansável pelo local da marca na pele dela. Como ele iria conseguir tomar uma atitude razoavelmente certa se, mesmo racionalizando tudo, voltava ao ponto de partida? Não estaria sentindo nada caso as marcas não tivessem aparecido, nunca teve nenhum sentimento por ela; seria mesmo possível estar se apaixonando por causa de um equinócio ou tudo não passava de um grande delírio?

Para completar o show de angústias, não se via confortável em fazer nenhuma pergunta das várias que havia anotado para o professor Baldrick; todos pareciam estar atentos demais aos seus movimentos.

Porém, mesmo não desejando pôr lenha nas histórias que circulavam, deveria contribuir com elas de alguma forma caso quisesse amenizar a complexa situação em curso. Foi pensando nisso que, antes do jantar, convidou Rose para lhe acompanhar no passeio à Hogsmeade, que foi reagendado para aquele sábado. Ela levou alguns minutos para responder. Longos minutos. Ficou em silêncio, encarando-o com uma feição sinistramente normal, como se ponderasse sobre o lado bom e o lado ruim de aceitar o convite. Scorpius se sentiu um pouco constrangido e exposto por ser alvo das dezenas de olhares da manada de alunos que seguia rumo ao Salão Principal; não estavam próximos nem nada, mas a aura que os rodeava se provou bastante auto-explicativa, e com as fofocas que já os circundava, era impossível não captar o tom sugestivo que aquelas feições, conhecidas e desconhecidas, lhes direcionavam.

— Tudo bem — aceitou por fim, num suspiro. Scorpius sorriu, ligeiramente aliviado e contente, mas percebeu que ela não compartilhava daquela mesma sensação. Ao menos, não era o que demonstrava. A ideia súbita e um pouco ridícula de que ela já teria, de alguma forma, se desapaixonado, o acometeu, preenchendo seu rosto de um calor característico quando olhou para o lado e focou nas teias de aranha no teto.

AntaresOnde histórias criam vida. Descubra agora