Nós fomos feitos para quebrar

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— Eu não acredito em você, Rose Weasley!

Rose piscou, atordoada, desviando a atenção do livro para olhar ao seu redor. Por alguns instantes considerou estar ficando louca, já que a biblioteca estava vazia naquele domingo, mas o sussurro da voz parecia vívido demais, carregado de um falso tom acusador, meio divertido, típico de Dominique. Antes de voltar a ler as páginas amareladas de um capítulo sobre a Teoria da Numerologia Moderna, sentiu o corpo todo estremecer mediante o toque gélido de dedos finos sobre os seus ombros.

— Você acha que pode se esconder para sempre? — Dominique grunhiu baixinho, estourando em risadas ao ver o pulo da prima na cadeira.

Santo Merlin — com a mão do coração, Rose tentava respirar fundo, os olhos arregalados observando a garota se escorar na mesa, ao lado direito.

— Está assustada, heim? E bem escondida, devo dizer, levei um tempão para te achar aqui — um sorriso ingênuo permeava os lábios rosados da garota enquanto via seus ombros relaxarem. — Nem a Madame Pince soube dizer exatamente onde você estava. Pra que se esconder tanto?

— Sempre sento por aqui, Dominique — era uma verdade. Aquela cadeira, em especial, parecia ser mais confortável do que as demais e os livros das estantes não exalavam um cheiro ruim. — Estou atrasada com os meus deveres de Aritmancia.

— É difícil ficar em dia quando se tem uma alma gêmea como o Malfoy, imagino — sem uma resposta convincente, Rose abaixou a cabeça, sentindo suas orelhas preencherem-se de calor. Ficaram em silêncio por alguns instantes, Dominique sem vacilar em seu olhar curioso. — Não vai me contar?

— Do que você está falando? — blefar talvez não fosse a melhor coisa a se fazer, mas se apresentava como única reação. Não tinha certeza se estava pronta para contar alguma coisa, até mesmo porque ainda parecia sentir os efeitos colaterais de tudo que havia acontecido no banheiro.

— Não venha se fazer de desentendida pra cima de mim — sorriu, debruçando-se sobre a mesa. — Até o professor Baldrick viu tudo! Ele entrou no Três Vassouras com uma cara de quem tinha acabado de ver os alunos fazendo arte, se é que me entende, encostou no balcão junto com a Sinistra e o Flitwick e, pelo tanto que o rosto dela se iluminou, pensei que Júpiter ia colidir com a Terra só pra escutar a fofoca quentinha e espalhar para os outros astros.

— Você bebeu hoje, Dominique? Seja sincera — ela tentou não achar engraçado, principalmente por sentir o rosto esquentar por tamanho constrangimento.

Engoliu em seco ao cogitar a dimensão das fofocas, o corpo inteiro gelando só de pensar na vergonha que seria se o episódio do banheiro chegasse aos ouvidos de McGonagall. Mas, na reunião da monitoria daquela tarde, ela sequer fez menção a qualquer coisa relacionada ao equinócio, sua maior preocupação era ter certeza de que todos estavam respeitando o horário de dormir e que as detenções estavam sendo bem executadas. Com as orbes fixas na pilha de livros em sua frente, as sobrancelhas quase juntas de preocupação enquanto revisava tudo o que a diretora tinha dito, Rose sentia sua cabeça rodar. Era impossível alguém ter presenciado aquilo, nem mesmo Murta estava rondando por lá como às vezes fazia; isto é, a não ser que a sereia... Rose pôs a mão na boca, aterrorizada com a possibilidade de alguém ter visto tudo pelos olhos da sereia. Não, não, não, soltou todo o ar de seus pulmões, tratando de livrar-se da ideia. James Sirius teria sido expulso caso a sereia fosse uma delatora.

Quando voltou a se preocupar com o olhar inquisidor de Dominique, entreabriu os lábios, sentindo as bochechas ferverem.

— Ele pelo menos beija bem?

— O-o quê?

Scorpius, Rose — chiou, estalando os dedos na frente dos olhos da prima. — Ainda não acredito que vocês saíram do Três Vassouras para trocar saliva na frente de todo mundo, mas o que importa é ele beijar bem; ninguém merece uma alma gêmea que fique com a língua morta na hora ou sei lá.

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