Talvez o mundo possa ser nosso essa noite

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Estava difícil prestar atenção em algo ou, simplesmente, parar de pensar sobre a realidade que havia batido em sua porta; a falação interminável do professor Binns apenas deixava as coisas piores. Rose sempre gostou de História da Magia, era a aluna mais empenhada em formular questões e dar as respostas que os demais não sabiam, mas não se sentia concentrada o suficiente para ajudar seus colegas lufanos a não morrerem de sono. Até mesmo porque a maioria estava contente, sussurrando sobre as malditas marcas, delirando sobre um futuro totalmente incerto, fazendo o professor reclamar das conversas paralelas a cada quinze minutos.

— Rose — Roxanne chamou baixinho, arisca quanto ao alvo dos olhos fantasmagóricos do professor. — Você não comentou nada sobre a sua marca.

Deveria responder? Ou simplesmente dar ombros? Talvez fosse uma pergunta à qual devesse se acostumar, passaria um bom tempo de sua vida tendo que deparar-se com o inegável e deprimente fato de que era uma alma única. Ela respirou fundo, o coração batendo dolorosamente em seu peito conforme se encontrava cada vez mais imersa numa situação tão patética; virou o rosto para a prima esperando que sua expressão fosse mais clara do que palavras, olhos cansados de ficarem marejados, maçãs do rosto vermelhas por estarem excessivamente secas.

— Tem certeza? — ela aproximou para falar mais perto de seu ouvido. Rose assentiu, voltando a encarar seu pergaminho vazio de anotações. — Procurou direito?

— Sim — engoliu a seco, apoiando os cotovelos sobre a carteira numa tentativa de aguentar o peso que passara a sentir em seus ombros.

Ela estendeu a mão por cima da de Rose, apertando-a carinhosamente. Na pele negra de Roxanne, enrolada ao seu pulso como se fosse um relógio, estava sua marca: l'estoile¹, uma carta de tarot cujo desenho era uma mulher abaixada à beira de um rio, o céu cheio de estrelas de oito pontas. Durante todo o dia, Rose se deparou com diversos desenhos — por vezes bem estranhos — e com toda a euforia dos alunos do sétimo ano. Apenas alguns eram discretos para não sair exibindo a marca, ou sensatos para poupar os ouvidos alheios de histórias sem pé nem cabeça. O Clube de Duelos, que ocupava o último tempo da segunda-feira, talvez devesse ter o nome mudado para algo relacionado a fofoca e tumulto, visto que era mais atrativo escutar os murmúrios aleatórios do que prestar atenção nos alunos que subiam ao palanque.

Por sua vez, a Weasley estava atenta à terrível performance de Lorcan, que perdia vergonhosamente para Alice Longbottom, do sexto ano, embora ainda aparentasse estar se divertindo com a derrota. Ela era realmente boa em Feitiços, o professor Flitwick vivia elogiando a garota para qualquer um que quisesse ouvir; Rose se lembrava de uma semana em que ela havia conjurado um patrono corpóreo no clube, era uma adorável salamandra de fogo.

— Não precisa nem comentar — Lorcan disse num sorriso enquanto andava em sua direção, passando os braços pelos seus ombros, dando um beijo nos cabelos ruivos. — Alice deveria duelar com o Flitwick, não comigo, um mero mortal tão... tão aceitável.

— Isso significa que você tem que se empenhar mais — respondeu, observando a movimentação de escolha da próxima dupla.

A primeira a subir os degraus foi Megan Creevey, uma sonserina que Rose conhecia apenas de vista: era a capitã do time da Sonserina, ex-namorada de Lorcan e motivo de algumas das reclamações de Alvo durante o verão. Haviam boatos de que ela ainda não havia superado totalmente o término, principalmente nos jogos de quadribol, mas não era algo que sequer ocupava os pensamentos de Rose; era típico de sonserinos arrumar problemas por bel prazer, não seria uma grande surpresa ela desafiar Lorcan para um agni kai² numa tentativa de humilhá-lo ou armar uma enrascada durante a temporada de jogos. Quem subiu para duelar com ela foi Scorpius, cuja expressão não era das mais descansadas.

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