Não podemos controlar algumas coisas

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O professor Baldrick estava encostado em sua mesa, as mãos apoiadas na beirada do tampo enquanto fitava o curioso silêncio de seus alunos. Todos eretos nas cadeiras, tinham olhos vidrados — embora ligeiramente perdidos —, prestaram atenção na aula, não fizeram perguntas, comentários, nem observações; dava para ouvir o canto dos passarinhos vindo do lado de fora da janela, o zumbido do vento entrando pela porta, o seu próprio suspirar cansado. Era o fim do período, fim da semana, todos sempre estavam imersos num misto curioso de agitação e exaustão. Por que estavam tão quietos?

Ao ver que nem mesmo o petulante Potter tinha algum comentário a fazer, pigarreou.

— Antes de falarmos sobre os relatórios de Romeu e Julieta, gostaria de saber se vocês tem alguma coisa para me perguntar, ou... — ele arqueou as sobrancelhas quando a maioria dos alunos ergueu a mão. Estranho. — Certo. Hm, vamos aproveitar o desejo do senhor Zabini de participar da aula. Por favor.

— Professor, eu estava pensando... Numa hipótese, sabe? Hm... Digamos que alguém tenha tido uma conexão... O que essa pessoa vai sentir, mais ou menos?

— Em termos de sintomas — o professor fez aspas com os dedos —, provavelmente sensações semelhantes de quando vemos a pessoa pela qual estamos apaixonadas. Depende.

— Depende do quê?

— Dos envolvidos, senhor Zabini. Alguns sentem as famosas borboletas no estômago, outros congelam no lugar, sorriem, depende — deu de ombros, sentindo que não sanou a dúvida do rapaz. — A nossa única certeza é que essas sensações, muito variáveis, são potencializadas. Então talvez você já tenha visto sua alma gêmea algumas vezes, mas em nenhuma delas sentiu como se estivesse perdidamente apaixonado.

— Professor! — Alvo ergueu a mão, animado. Baldrick assentiu, observando Scorpius Malfoy levar a mão ao rosto avermelhado. — Além dessas sensações, a prova da conexão é as marcas brilharem, certo?

— Certo, mas elas podem brilhar em todas as outras conexões entre as duas almas pelo resto da vida, não apenas na primeira.

Os dois sonserinos assentiram, aparentemente satisfeitos, e evitaram de olhar para Scorpius durante um tempo para não dar na cara; o próprio Malfoy parecia querer desaparecer dali, seu rosto vermelho de vergonha era um bom sinal. Outros alunos ergueram as mãos, curiosos sobre a lenda que levava todos a um lento delírio adolescente.

Scorpius fazia um esforço para sentir-se normal. Quer dizer, era humanamente impossível, mas ele estava tentando. Não tinha pregado o olho à noite, parecia ter ingerido amortentia, entrado numa sauna ou água fervente, a boca ficou seca a noite inteira, a mente girando em torno da única coisa que se mostrava fixa no meio daquele turbilhão: os olhos verdes marejados de Rose Weasley lhe encarando enquanto entrava em combustão.

Ele só estava esperando Adam terminar de falar com Aurora Sinistra, não tão impaciente quanto o Potter que resmungava ao seu lado, mas querendo muito ir dormir; sentia-se cansado. Só que de uma forma estranha, quando Dominique e Rose interromperam o rapaz, um certo formigamento começou a lhe incomodar no local da marca enquanto ele ouvia a pergunta da Weasley. Scorpius não era o melhor em Astronomia, mas sabia algumas coisas de cor devido às histórias sobre estrelas que Narcisa contava desde que era um bebê, todas relacionadas à astros, constelações e galáxias, algumas delas tomando a forma de parentes, como Andrômeda, Orion e Régulo. O seu atual gatinho, que havia deixado sobre os cuidados da mãe na mansão, se chamava Castor — nome de uma estrela da constelação de gêmeos, que por um acaso era seu signo; e lembrava-se de ter dado o nome de Antares a uma tartaruga que Draco lhe deu aos cinco anos de idade.

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