15 - Esse Olhos Verdes

12 4 0
                                    

"Quando estou dormindo ou acordado

Não consigo tirar você do meu cérebro

Quando estou no carro está ficando difícil

Para não relaxar na sua casa

Você está com sono? Estar acordado

Eu preciso beijar seu rosto

Esses olhos verdes, esses céus aliados

Espero que algum dia fiquem sim/Baby estou olhando para você e estou apavorado

Talvez eu soubesse que você seria tão difícil de encontrar"

—Camila Cabello, "Terrified".



Acordei com uma frase na minha cabeça.

"A gente não faz ideia de como mudou até que a mudança já tenha acontecido". Anne Frank.

Não saí debaixo dos lençóis enquanto não pude aceitar que fui realmente uma babaca, a raiva tinha o poder de me deixar irracional e rabugenta, imatura e emotiva logo em seguida e eu não conseguia rejeitar a fúria, tinha que esperar até que ela sumisse.

Agora, por exemplo, não sinto raiva. Nem um pingo. Só tristeza, amargura — como o gosto que está na minha boca —, insegurança e, para minha surpresa, vontade de sair.

Minha mãe dizia que se um cômodo te deixasse deprimida, você tinha duas opções: Poderia redecorar —um novo papel de parede, azul, ela preferiria ou vermelho que é uma cor poderosa. — Ou se mudar, era sempre uma melhor opção para ela, a cada um novo apartamento, paredes e móveis diferentes, uma nova cama e uma nova banheira.

Mas, ela sempre acrescentava, você sempre pode pensar em viajar.

Saio da cama e prendo meu cabelo com uma xuxa velha e calço meus sapatos. Evito olhar para o banheiro do quarto, pois foi lá que chorei sentada enquanto tomava banho.

Tranco o quarto e vou embora.

À calçada, penso em ligar para Adrian. Mas não penso nisso duas vezes, ele já está parado na minha frente.

—Oi. — Falo primeiro.

— Eu já ia ao seu quarto.

— Onde você dormiu?

Adrian dá um sorriso despreocupado para mim, sei que está é uma forma dele de desviar do assunto.

O encaro com severidade, minha mãe conseguia arrancar respostas de mim assim.

— Tenho amigos em Alexandria, aluguei o sofá de um deles. Não se preocupe. Como você está? Mais calma?

Enrubesço e esqueço o olhar de severidade. Assinto. Assinto uma segunda vez quando fica silêncio por tempo demais.

— Me desculpe. Ver meu tio me abalou muito. Ele e meu pai são... eram gêmeos.

— Que porra... — Adrian encara a calçada antes de encarar a mim — Me desculpe por ter chamado você de babaca ontem eu não fazia ideia da situação. Eu quem fui um babaca. Você não.

Sim, eu era sim. Mas apenas sorri e fingi deixar o assunto para lá. Ele passou tempo demais olhando para o meu rosto, sabe que andei chorando mas não comenta. Pergunto se ele ainda quer aprender a dirigir. Sim, ele quer.



Adrian desliga o motor do carro depois de fazer baliza.

— Quer começar?

— Comecei da última vez.

— Não sabia que seguíamos uma ordem.

Adrian dá de ombros.

Minha vez, então.

— Não me lembro do meu primeiro beijo. Aconteceu, eu lembro, na festa de quinze anos de uma colega de sala. Bebemos escondidas e acho que beijei o primo dela, só que tudo é um borrão. A festa foi linda, disso eu lembro.

Adrian solta uma risada e sinto o clima frio de antes se dissipar. Uma névoa incômoda indo embora, finalmente.

— Sua vez.

— Já que estamos no assunto de beijos, vou contar a experiência do meu primeiro beijo com Alison Carrilho. — Lanço um olhar questionador para ele, que ri — Alison é uma garota. Estávamos na sétima série, oitava talvez. Nossos amigos queriam muito que nós dois se beijássemos, e não pude dizer não se não meus amigos me chamariam de gay e não existe nada pior que isso para um garoto medroso. Fomos para a parte de trás da escola onde as salas de aulas não eram usadas com frequência então aconteceu. Era tanta pressão. — Ele ri —Também foi muito rápido. Nem pude perguntar a ela se beijo bem.

Fico calada.

— O que acha?

— Do quê?

— Eu beijo bem? — Sua voz ficou rouca, sussurrada. Estou a poucos centímetros dele, mas sinto como se sua boca estivesse colada ao meu rosto. Não respondo nada, em parte porque não quero inflar o ego dele, em parte porque quero saber o que ele vai fazer.

Devagar, Adrian se aproxima até que seu nariz quase se encoste ao meu. Misturamos as respirações. Nos encaramos.

— Não vai responder, Eve?

Mesmo sentada sinto minhas pernas enfraquecerem. Vendo que não respondo, Adrian coloca sua mão na minha bochecha, esquentando-a. Seus dedos fazem cócegas no meu rosto. Então sua língua suaviza seus lábios.

Ele me puxa para um beijo frenético.

Coloco minha mão em sua nuca. Agarro os fios com gentileza, quando seus dentes mordem meu lábio inferior eu gemo. Larguei sua nuca quando seus lábios desprenderam dos meus, por um segundo me perguntei se já tinha acabado, mas não. Sua boca começava a beijar meu pescoço, depois minhas bochechas e minha boca de novo, com mais força, com mais vontade me deixando em um dilema, queria respirar fundo, mas não quero acabar com isso.

Beijar ele era sensacional, quase indescritível. Quase. Eu podia não me lembrar de como fora meu primeiro beijo, porém, lembro do que não senti. Era assim que eu podia começar descrevendo o beijo de Adrian, com o calor que eu sinto que vai até os dedos das minhas mãos, com a vontade de nunca largar sua boca porque o jeito como mexia e o jeito como gemia me deixavam desprovida da racionalidade. Submersa no desejo.

Nos separamos.

Estou no colo dele, o banco foi afastado para trás, para longe do volante onde minhas costas batem. Sinto sua ereção, ele sabe que sinto.

Adrian cora.

— Está com vergonha?

— Não. — Mente.

Continuo ofegante em seu colo, Adrian está com a mão no minha cintura, seus dedos quentes encontraram minha pele, sei exatamente em que cicatriz está tocando e não me importo.

— Então... Eu beijo bem?

— Tão bem quanto sabe dirigir.

O aperto na minha cintura aumenta.

— Golpe baixo. — Murmura, colocando a boca no meu pescoço e os dedos da mão direita estão no meu peito. — Tem certeza?

Mordo a bochecha. Não respondo nada. Os dedos dele brincam com meu mamilo e seus dentes mordem o lóbulo da minha orelha, os lábios raspam na minha mandíbula vez ou outra.

— Você faz as coisas serem mais divertidas.

— Te dou uma média sete.

Adrian dá de ombros.

— Aceito. Por agora.

Volto ao banco do passageiro e tento da melhor forma ajeitar meu cabelo e minha roupa. Olho para meu rosto pelo retrovisor, noto a vermelhidão e o pequeno inchaço.

Sete VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora