CAPÍTULO 6

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As vezes involuntariamente eu fico imaginando como seria a vida, se eu não existisse. Tipo: Se minha mãe nunca tivesse ficado grávida e ela tivesse apenas meu irmão Douglas, será que eles seriam felizes só os cinco? Diariamente sinto que minha existência é um erro e meus pais, de certo modo confirmam esse meu pensamento.

Eu sou uma pessoa fria, até sem sentimentos eu diria, no entanto eu tenho raiva e tristeza. A tristeza é um sentimento, assim como a raiva. Então eu tenho sentimentos, não os bons, mas de qualquer jeito eu tenho. Todo dia é a mesma batalha: abrir os olhos e ter que enfrentar minha realidade.

- Achei que já tinha saído para beber. – Me sento na mesa. Douglas está tomando suco com cara de sono.

- Parei! – Ele conta. Me seguro para não rir. Não é que eu não acredite nele.. na verdade é sim! Ele sempre diz isso, mas nunca para mesmo.

- Não dou uma semana. – Digo e ele me encarar incrédulo, mas sorrir. – Cadê os pais?

- O pai saiu para olhar uns gados e a mãe tá na feira. – Responde e eu assinto.

Eu ainda estou usando roupas de manga longa, por ainda está bem marcado os cortes. Hoje estou me sentindo mais amargo que os outros dias. O tempo está fechado, como se fosse chover e uma única frase se repete na minha cabeça " Acaba com essa dor pequeno David! ", é como se um imã também me puxasse para as facas ou até mesmo com as cordas que há na casa.

A morte não é um saída, eu ouvi uma escola uma vez, mas as vezes é a única porta que se abre para você. Claro que você pode escolher esperar por outro, mas quanto tempo? A que custo? E minha vida não vale nada mesmo. Meu país tomariam um alívio, ao saber que o filho " Defeituoso ", finalmente fora consertado ou até mesmo exterminado.

Douglas sai de casa e eu sou o único a ficar em casa. Sem motivos além da tristeza começo a chorar desesperadamente. Pego uma faca e aponto para meu peito, mas me falta coragem de afunda-la em meu peito e desisto. Uma dor devastadora atingi meu peito, como uma flecha certeira e afiada.

- A arma! – Corro em direção ao quarto dos meus pais, a fim de acabar com essa dor horrível!

Meu pai tem uma arma de caça, que se o tiro for realmente de perto pode ferir alguém, não chega a matar. Mas se eu disparar dois ou três, talvez me mate e eu finalmente descanse. Procuro que pela a arma com a respiração ofegante e a vista embaçada por causa das lágrimas.

Depois de muita procura acho ela, embaixo do colchão. Fico admirando a arma com uma parte de madeira e o cano de metal. Eu ouço como se ela falasse comigo: " pegue-me e puxe o gatilho! Isso o livrará dessa dor, que te atingi pequeno ", a voz é suave e hipnotizadora. Pego-a e com a falta de ar chegando eu miro o cano na minha cabeça e respiro fundo.

- Agora tudo acaba! – Respiro fundo e aperto o gatilho. Um " Track ", soa e fecho os olhos, mas não sinto nada. Será que morri?

Abro os olhos e vejo que infelizmente ainda estou vivo. Aperto novamente e outro " Track " soa, mas nada sai. A arma está sem bala. Droga! Procuro pela os chumbos desesperadamente e com mais fome ainda de aperta o gatilho e acabar com tudo de uma vez. Quando finalmente acho, estou com as mãos trêmulas e chorando mais ainda.

Tento falhamente colocar o chumbo na arma. Ouço um barulho e ouço a voz da minha mãe. Com muita pressa guardo a arma no lugar dela e limpo as lágrimas. Tento controlar a respiração para poder sair do quarto. Sigo para fora do quarto, sem que ela perceba.

- Onde o Douglas está? – Pergunta colocando as compras em cima da mesa. – Tá com conjuntivite? – Pergunta me examinando com os olhos.

- Acho que sim. – Minto. Ajudo ela a guardar as coisas e logo ela começa a fazer o almoço. Falei que o Douglas havia saído a pouco tempo e a resposta dela foi " Já foi beber! "

Depois de ajudar no almoço e não ter fome para comer nada, me tranquei no quarto. Todos os garotos - Nem todos na verdade. -, tem o pai como algo para se inspirar. Algo que ele querem ser iguais quando crescerem, mas eu não sinto isso. Eu não quero ser igual ao meu PAI. Ele é um cara legal, quando não está pisando na minha existência ou quando não está querendo bater em mim. Acho que na verdade, ele só está cansado. Eu sou o quinto filho, ou seja  todo o amor que eles tinham para dar, foram diminuindo a cada filho, até chegar em mim e não ter mais nada.

Meu pai sempre acha um motivo para querer arrumar confusão com meu irmão e isso é horrível. Eu não sei por quanto tempo mais eu posso suporta tudo isso. Eu estou cheio de sentimentos, de pensamentos. Não posso esvaziar minha cabeça, por não ter em quem confiar. Se eu falo para minhas irmãs, elas com certeza falaram para meus pais. Eu me sinto excluído até mesmo pelo os meus irmãos. Todos estão vivendo suas vidas, sem depender dos pais e eu? Eu estou aqui preso? Com eles e sofrendo, sem ter ninguém para me ajudar.

Talvez morrer seja um possibilidade agradável. Mas para onde eu iria? Céu ou inferno? Existe mesmo um céu? E o inferno? Como é após a morte? O que você vê quando está morrendo? Tantas perguntas e nenhuma delas tem reposta. Já ouvi pessoas falarem, que engasgaram e quase morreram sem ar. E que viu toda a sua vida, passar na sua frente, desde de quando a pessoa se entendia por gente. É uma coisa estranha de se acreditar. Será que é assim mesmo? Nos livros e nos filmes, as pessoas sentem que vão morrer e se despedem dos seus entes queridos e " boom ", morrem tragicamente. Mas os filmes, nem livros mostram o que acontece com essa pessoa - Além de está ser enterrada.

- Douglas não tem mesmo vergonha na cara! – Meu pai começa, tentar arrumar confusão. Douglas está almoçando bêbado e não parece está totalmente em si ou ouvindo algo.

- Já vai começar? – Minha mãe pergunta para meu pai.

- Vai defender ele? Por isso não toma..

- Já chega! Deixa o outro comer. Se quer falar algo para ele, espere até ele melhorar e você fala. – Minha mãe fala. Meu pai tenta discuti, mas logo sai pisando duro.

Escondo minhas mãos trêmulas em baixo da mesa para ninguém ver. As vezes eu sinto realmente ódio do meu pai. Tipo: quando ele bate em alguma animal, quando ele arruma briga por nada dentro de casa, quando ele fala coisa ruim da minha mãe, quando ele briga comigo por nada. É realmente ódio, mas logo passa, ainda assim fico com ressentimento. De casa só as mulheres são casadas e tem filhos. Igual na família do meu pai, os homens casam, mas não vivem com as mulheres. Os irmãos de meu pai moram isolados e sozinhos em um lugar qualquer. Meu pai é o único que ainda está casado. Não sei se espero que isso dure. Nessa parte eu e Douglas puxamos a meu pai, nenhum de nós namora ou tem filhos e nem pretendemos ter.

- Por que pai só acha de falar quando ele tá bêbado? – Pergunto para minha mãe, entanto assistimos algo qualquer.

- Para arrumara confusão. É sempre assim. Quando ele está bêbado, ele quer esfolar, quer matar. Mas quando ele tá bom é Douglas para cá, Douglas para lá. É Douglas para tudo. – Ela fala bebendo um pouco de chá.

É sempre assim como ela falou. Meu pai é uma amor de pessoa quando ele está sadio, mas quando está bêbado só pensa em matar. Tenho a certeza que ele também é o filho preferido e eu sou só o caçula da família e só isso. A única hora que nós quatros ficamos em paz e parecendo uma família unida é na hora do " roda, roda jequiti ", onde ficamos quebrando cabeça parra acertar os nomes. Minha mãe cochila no sofá e eu, meu pai e Douglas ficamos  discutindo para saber qual é a palavra. Ainda assim tudo é motivo de briga. Se meu irmão solta um pum - Ele parece ter o estomago podre. -, ninguém fala nada, além de tampar o nariz. Se eu faço isso, eles quase me batem. E ainda não existe isso de filho favorito, mas tudo bem. Uma hora tudo isso acaba.

Já pensei em fugir muitas vezes, mas para onde eu iria? E com que dinheiro? Eu tenho apenas 15 anos ainda, logo seria trazido de volta para casa e logo ganharia uma surra do meu pai, se bem que acho que eles ficariam felizes, se eu sumisse não? Eles não e importam comigo, eu acho. Ou se eu importo, eles não demonstram. Eu me criei fechado para sentimentos e com meus pais, é mais fechado ainda. Até  questão da fimose eu não tenho coragem de falar com eles sobre isso. Tudo é estranho para falar com eles.


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