CAPÍTULO 8

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[A PARTIR DE AGORA É SO FICÇÃO DE VERDADE, OK?]

Se tem uma coisa horrível é fazer nossa mãe chorar. Eu não sou muito próximo de minha mãe, mas sempre que a vejo chorar é como se um pedaço de mim estivesse se destroçado e assim eu choro com ela. Na verdade é assim com todos os meus irmãos. Vê ela chorar por um motivo é uma coisa, mas saber que você é o motivo do choro é horrível. Hoje já é dia quatorze de setembro, faltam dois dias para o meu aniversário de quinze anos e eu não estou nada animado com isso. Afinal quem ficaria, com a vida desmoronando aos seus pés.

- Ela me ligou chorando. – Conta minha irmã. – Dizendo que tinha um filho alcoólico e outro gay agora. – Ela conta como se não fosse nada. Solto uma risada, mas eu não acho tão engraçado como ela.

Isso só me lembrou a decepção que eu sou para minha mãe. Eu só quero morrer e não ser mais a decepção dos meus pais. Deus por que você me fez assim? Por que você não me leva para junto de ti? Você também me acha uma decepção?  Eu te peço tanto para me concertar Deus e o senhor não parece me ouvir. Eu não quero ver a reação dos meus pais, ao saberem que sou uma aberração. Eu quero uma maneira de acabar com todo esse fardo, que estou carregando nas costa. Então Deus..? Por favor me leva, não me deixa sofre aqui na terra.

Não tentei mais suicídio, depois do dia da arma. Eu sou tão inútil que nem mesmo para morrer eu sirvo. Eu posso muito bem, descer a rua e pular na frente de um caminhão agora mesmo, mas sabe? Eu não quero fazer isso também, eu não quero cometer suicídio. Eu quero achar uma solução, onde eu fico vivo, mas será possível? Se a resposta for sim, qual é a solução? Fugir de casa? Eu não tenho dinheiro para fugir de casa, nem para onde ir. Eu seria pego na hora e voltaria para casa e ainda levaria uma surra por fugir.

- Homem de verdade não foge dos seus problemas, mas como você não é um, não é novidade! – Seria o que meu pai iria dizer.

Deve ser horrível para minha mãe, mas não quanto é para mim. Eu estou terrivelmente assustado e desesperado. Não sei mais a quem ou onde recorrer, minha situação. Me sinto um completo inútil, mas não irei tirar minha própria vida, não eu não irei fazer isso. Não é justo com meus pais e com meus irmãos. Eles podem não me amar, mas ainda assim irão se sentir culpados e julgar um ao outro por não ter me ajudado e eu não quero isso, para minha família. Quero todos unidos, porque se Deus atender meus pedidos, ele vira me buscar e quero todos eles unidos.

Já ouvi falar, que as pessoas sentem quando a morte está próxima. Eu não sei se o que estou sentindo é isso, mas eu quero escrever uma carta para minha família e outra para minhas amigas. Devo escrever só por precaução, que se algo acontecer eles não devem se sentir culpados e vou colocar, que quero ser cremado e que minhas cinzas sejam espalhadas, pela a estrada onde eu tenho tanto medo. Assim sinalizando o fim da minha dor e da decepção dos meus pais. Mas também esse lugar é onde todos os meus pesadelos se iniciaram.

- Acorda David! – Martha me chacoalha.

- Eu não estava dormindo. – Respondo sorrindo. Esse sorriso foi verdadeiro e libertador. O que há comigo? Cadê minha dor e meu medo?

- Ah, Tá bom. – Alana zomba. Reviro os olhos e volto a focar na aula.

Ficar na escola é chato e horrível, por causa de Diego, mas em casa é a mesma coisa por causa dos meus pais. E agora os dois estão no meu pé. Ele com certeza sabem de algo e querem discutir sobre isso, mas não estou dando abertura para tal conversa. Não me sinto pronto para contar que gosto de meninos, eles irão dizer que sou gay, mas eu não sinto que sou gay.. Eu deveria sentir algo? Mas uma hora ou outra eu terei que ter essa conversa com eles, no entanto não precisa ser agora na hora do jantar.

- David? – Meu pai para de comer e me encara. Continuo encarando o prato e sinto meu coração disparar e as mãos soar.

- Sim? – Respondo num fio de voz.

- Vou te fazer uma pergunta, só uma mesma e espero a verdade. – Diz. Não levanto a cabeça para o encarar, até a fome está passando e fazendo tudo que eu já comi se revirar.

- Filho..? Já faz um tempo que a gente está reparando em você. – Minha mãe é quem começa. Douglas para de comer e fica sério olhando, para a mesa. – E percebemos que tem algo estranho com você..

- Eu sempre fui assim. – Respondo rápido e Engulo em seco.

- Só escuta. – Ela pede sem alterar a voz. – Se está acontecendo algo, você não nos fala. E se as meninas sabem, não querem nos falar nada. Você anda cabisbaixo pelo os cantos. Não conversa mais com ninguém. – Diz remexendo a comida no prato. O silêncio é palpável e assustador.

- Eu gosto de um menino! – Disparo e as lágrimas começam a descer. Eu esperava todos os xingamentos do mundo, mas o que recebi foi bem pior: O silêncio.

Ninguém falou nada, apenas o barulho da minha respiração e do meu choro sai audíveis. Meu pai se levanta e se retira da cozinha sem falar nada. Grita comigo pai! Me bate! Mas não me deixa nesse silêncio assustador. Sem esperar palavra de ninguém saio correndo da cozinha e me tranco no quarto. Por que eu fiz isso? Eu poderia não ter contado!


Eu Desejo A.. (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora