Enfim e infelizmente chegou o sábado. Significa que estou livre da escola por hoje e amanhã, do mesmo modo que significa que não terei minha amigas para me fazer rir e terei que ficar em casa com meus pais. Tudo se tornou chato e insuportável para mim. Nada mais me faz sentindo. O que houve comigo? Cadê a pessoa que era cheia de vida?
Ouço vozes na minha cabeça, todas falando a mesma coisa repetidamente, mas tem uma que tenta me alerta para não ouvir nenhuma delas. Todas exceto uma voz, pedem para eu acabar com meu sofrimento, para eu me enforcar. Dizem que não irá doer, ou então passar gilete que está escondida novamente no braço. Uma das vozes fala para eu afundar uma faca no meu peito. Outra pede para eu me jogar na frente de algum carro, mas a voz benigna? Me pede para não pensar muito e não seguir nenhum dos conselhos.
Abro os olhos e olho a hora no meu celular, são oito horas da manhã. Daqui a pouco minha mãe vem me acordar falando que já são meio dia e se eu não levantar tenho que ouvir sermão dos meus pais. Me levanto e vou escovar os dentes.
Super estranho escovar os dentes para poder tomar café, mas é isso que eu sempre faço e logo após o café, volto para escovar os dentes, é algo estranhamente normal para mim. Passo pela a sala e meu irmão ainda está dormido. Ele chegou de madrugada bêbado em casa, é uma coisa que já acostumamos, menos, claro meu pai. Meu pai sempre arruma um motivo para brigar com ele. Não sei como minha mãe suporta meu pai.
Abro a tampa do vaso sanitário e sento. Meu estômago se acostumou a fazer o número dois todo dia de manhã e inclusive essa é minha hora de reflexão ou melhor dizendo, as hora que as vozes aparecem para me infernizar ou me dá uma saída para esse sofrimento e tristeza.
" Vai garoto bobo, acaba com sua vida e com essa dor. "
" Vamos lá não vai doer nada! "
" A morte te chama meu menino, não tem como negar.. "
A última voz me faz chorar. Será mesmo que a morte me chama? Talvez eu possa seguir essas instruções e acabar com essa droga de vida. Droga de dor. Droga de vida! A morte está me chamando e eu vou me permitir seguir ela. Levanto do vaso me limpo e dou a descarga. Escovo os dentes e saio do banheiro com a frase ecoando na minha cabeça.
- Bom dia.. – Sussurro para meus pais que estão tomando café. Meu pai apenas me olha e volta a ver as notícias no celular.
- Acordou cedo. – Minha mãe fala. Sorrio fraco e coloco café para tomar.
- Vou vacinar um bichos e você vai para me ajudar, já que esse vagabundo. – Apontou com a cabeça para Douglas. – Só come, dorme e bebe. – Fala e assinto mesmo a contra gosto. Se tem uma coisa pior do que escola é passar um tempo com meu pai, ele parece ser um sugador de felicidade.
- Uhum.. – Concordo de cabeça baixa. Evito mexer no celular na frente do meu pai, para não correr o risco de apanhar ou ficar sem o celular.
Meu pai termina o café dele e sai da mesa, minha mãe se levanta também e começa a tirar as coisas da mesa. Todo dia ajudo minha mãe a arrumar a casa, na verdade sou eu que arrumo ela inteira. Levanto depois de acabar o café e levo meu copo para a pia. Começo arrumando os quartos.
- Acorda Douglas! – Tento acordar meu irmão. Ele sempre dorme na sala, o que é ruim porque sempre tenho que arrumar a bagunça dele. – Acorda, que eu quero varrer a casa! - Reclamo e ele me olha. Se levanta levando o coberto e segui para o quarto.
Enrolo o colchão e coloco embaixo da cama que seria dele. Arrumo os sofás. Tiro a poeira da estante, onde fica a televisão e sigo para a cozinha. Limpo a mesa e depois começo a lavar os pratos. Depois começo a varrer os quartos e a sala. Depois de acabar estou morto, mas preciso ir vacinar esse animais, com meu pai.
Meu pai parece ser um ogro, que não tem pena de nada. As vezes ele bate nos cachorros aqui de casa, fico com ódio, mas não posso falar nada, porque será eles ou eu, de qualquer modo queria que fosse eu, mas minha mãe não deixa nenhum de nós se intrometer.
Douglas é o filho que mais dá trabalho, no entanto é o preferido dos meus pais. Meu pai só falta matar ele, mas no outro dia é as mil maravilhas com ele. Vai entender isso. Assim cresci de algum modo independente.
- Vai para onde? – Douglas pergunta sentando na mesa.
- Tenho que ir vacinar uns bichos com pai. – Me lamento e ele sorrir. Apesar de tudo eu gosto do meu irmão, as vezes assistimos filme ou novelas e rimos muito. – Tu quem deveria ir, porque assim ele não brigaria comigo por não querer espancar os bichos.
- Estou cansado e você sobreviver. – Ele ignora meu pedido de socorro. Saio para encontrar meu pai, que já está gritando comigo.
Saímos de moto até o tal sítio, no qual ele vai vacinar os animais. Ele não é veterinário, mas por criar muito animal ele se vira bem com os animais. Tem filhos que gostam de sair com os pais, mas com meu pai eu tenho ódio.
- Se for para judiar assim e paro de ajudar. – Reclamo ao ver ele apertando o pescoço do bode pequeno. Ele me olha com fúria.
- Se você sair eu piso no seu pescoço. – Ameaça. Sinto vontade de chorar por dó do animal que está berrando de dor e por raiva e medo.
Depois de vacinar os animais voltamos para casa. Minha mãe estava falando com uma de minhas irmã e pediram para falar comigo. É a Juliane, minha irmã mais velha. Atendo o telefone, já sabendo do que se trata.
- Tudo bem? – Ela pergunta.
- Hum.. sim e aí? – Pergunto de volta.
- Também.. Eu sei que tu não está bem e pai e mãe perceberam. – Ela conta e sinto meus olhos marejarem.
- Eu não posso contar a Eles.. como contar que estou triste e por causa deles e de um menino.. – Confesso. Meu irmão apareceu na sala e eu saí disfarçando para ele não ver que estou chorando.
- Mas ficando desse jeito eles vão descobrir. – Ela fala. Minha irmã é compreensível eu sei, mas ela ta me colocando pressão.
- Eu vou disfarçar melhor.. – Digo limpando as lágrimas.
- Tem certeza que não quer vir para cá? – Pergunto novamente. Penso em dizer sim, mas minha mãe nunca deixaria e meu pai colocaria mil e uma questão para eu não ir.
- Tenho.. preciso desligar agora.. tchau. – Me despeço e desligo.
Deixo as lágrimas descerem enquanto estou sozinho. Quando isso vai passar? Eu poderia seguir uma das vozes e acabar com a minha vida, assim acabando com a preocupação de todos. O resto do dia é chato e normal. A noite assisto novela com meus pais e meu irmão. Meu pai nada falou sobre ontem a noite com meu irmão. Ele fingiu uma amnésia.
- COMO ASSIM GAY, DAVID? – Meu pai grita com ódio. Minha mãe apenas observa decepcionada. Meu irmão não está em casa para me ajudar ou me julgar também. Minhas pernas estão tremendo de medo.
- Isso deve ser influência do celular. – Minha mãe inquire. Não consigo responder nada.
- Não é nada disso e acho que.. – Começo com medo, mas ele me interrompe.
- Nem ouse falar que é uma bichinha, eu não aceito isso na minha família. – Respirou fundo e fechou os punhos. Esperei o soco que veio em seguida.
- Pai.. – Tento falar mais ele disfere um tapa no meu rosto.
- EU VOU TE MATAR ABERRAÇÃO. – Esbraveja. Ele pega uma faca que surgiu do nada. Minha mãe não faz nada para impedir. – EU NAO TENHO FILHO VIADO, PREFIRO UM FILHO BANDIDO. – Dito isso afundar a faca no meu peito.
Acordo respirando ofegante e assustado. Olho ao meu redor e está tudo escuro ainda. Passo a mão no meu peito e vejo que felizmente fora somente um pesadelo, sento na cama e começo a chorar silenciosamente. Por que isso comigo Deus?
Deito novamente com medo dos pesadelos, mas deito mesmo assim. Será que vai ser assim se eles descobriram. Todos dizem que sou gay, mas eu não sei, porque gosto de uma menina e gays não gostam de meninas ou gostam? Deito a cabeça no travesseiro e me enrolo. Fecho os olhos e apago ou morro por algumas horas.
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Eu Desejo A.. (✔)
Conto(+13) Você já se perguntou se algum dos pedidos feito na hora dos parabéns já se realizou? Será mesmo só superstição? David é um garoto de 16 anos, passando pela a descoberta da sua sexualidade, aceitação e quebrando seus preconceitos internos. Filh...