CAPÍTULO 4

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Hoje eu realmente não me sinto bem. Os cortes da semana passada, está cicatrizando e eu me sinto infantil por ter feito isso. Hoje um segunda feira fria e sem vida, exatamente como me sinto. Nessa semana que passou eu contei os segundo para 2019 chegar logo, mas se ele chegar como será minha vida?

Levanto da cama com um pouco de frio e segui para o banheiro. Eu estou parecendo um zumbi. A cada dia fica mais difícil se olhar no espelho. Minha pele morena está ficando sem cor e sem vida, não tenho motivos para sair no sol. Meus olhos negros estão combinando com as olheiras. E os lábios combinando perfeitamente com a linha curva para baixo.

Ligo o chuveiro e entro. A água gelada em contato com as cicatrizes causa um certo incômodo, mas é prazeroso,  é um aviso de que permaneço humano. Não posso dizer que me sinto vivo, quando eu estou apenas a arrastando a vida. Melhor dizendo eu não acordei, apenas abri os olhos. Saio do banho e visto o uniforme e um moletom. Uma calça também uniforme e um tênis. Tento arrumar meus cachos, que já estão grandinhos e saio do banheiro. Voltei e escovei os dentes.

Eu sempre quis ter cabelo grande, sempre achei muito bonito. Mas para meu pai isso é só para mulheres e eu sou " homem ", Então nunca deixei crescer. Meus pais até hoje mandam no meu corte de cabelo ou seja não tenho escolha em nada. Até a roupa que uso, são eles que decidem.

- Bom dia, mãe. – Sento na mesa para tentar tomar café.

- teu pai te leva hoje. – Ela fala. Eu não quero mais ir com ele.

- Não precisa, vou com uns amigos. – Minto. Nem há como ela saber que é mentira, pois ela não conhece meus amigos, amigas na verdade.

- Então tá. Você não tá bem. – Ela me encara.

- Eu? – Forço um sorriso. – Estou melhor que nunca. – Bebo o café para não mostrar que o sorriso sumiu.

Tomo o resto do café em silêncio. Me despeço dela e sigo para o ponto de ônibus. Pode parecer egoísmo, mas se eu descobrisse uma doença sem cura, onde eu só teria dois dias de vida eu ficaria feliz. Eu sei que todo dia uma pessoa luta contra o câncer e que elas dariam tudo para ter uma vida " Normal ", eu daria tudo até mesmo minha vida, porque minha vida não é normal.

Estou evitando conversar com minha irmãs, mas sei que elas falam com minha mãe e tenho medo delas falaram sem querer. No ponto de ônibus a mesma coisa de sempre, cumprimento quem conheço no automático. O ônibus demora, mais que o normal e consequentemente chegaremos na segunda aula. Seguimos o mais rápido possível para escola. Minhas amigas guardaram meu lugar, logo a frente da cadeira de Diego. Não mostrei o incômodo que estava sentindo, apenas sentei calado. Virei para trás e ele levantou o olhar para mim, mas desviou.

- Achei que não ia vim – Julia fala.

- O ônibus atrasou. – Respondo colocando o material na mesa.

- Isso é raro, mas para mim é normal. – Ela sorriu.

- É verdade Ju. – Marta concordou rindo e eu e Alana fizemos a mesma coisa.

- O ônibus é uma lata velha. – Comento ainda rindo. Na escola que é onde considero um lugar ruim, é onde eu consigo realmente sorrir.

- Isso porque não viram por dentro. – Se lamenta rindo.

A aula começa e tentamos nos calar, mas é impossível pois elas estão falando de garotos e consequente é motivos para boas risadas e cochichos.

-  David e o grupinho, se não fizerem silêncio irei separar o grupinho ai. – A professora de inglês, avisa. Seguramos a risada e nos calamos.

Eu Desejo A.. (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora