Capítulo 1 - A Psicoproblemática

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          — Mas eu não sei. Estou sentindo as emoções voltando aos poucos, sabe? Mas as emoções negativas, como raiva e tristeza, estão voltando primeiro. — Esmeralda fez uma pausa e pousou as mãos sobre as coxas. — Mas eu prefiro sentir dor do que não sentir nada de novo.
          A psicóloga foi tomada por ares de compreensão. Ela nunca havia estado no limbo da falta de sentimentos da depressão, mas tinha estudado e atendido pacientes o suficiente para ter empatia por aquela afirmação. A verdadeira definição de que não precisamos ser para entender.
          — Você tem escrito?
          Ok, nesse sentido Esmeralda era uma péssima paciente. Ela conhecia muito bem seu diagnóstico, mas era péssima em fazer as "tarefas de casa" que sua psicóloga passava. Especialmente as que envolviam escrever. Não que ela não gostasse de escrever (ao contrário, ela amava), ela só não gostava de se sentir compelida a isso. A garota timidamente fez um "não" com a cabeça e o olhar-resposta de reprovação da profissional foi quase instantâneo. Elas ficaram quietas. Esmeralda sentiu que devia uma explicação.
          — Eu sei que eu seria uma paciente mais fácil de tratar se eu fizesse todos os meus "temas de casa", mas eu só não funciono assim. Ou eu me esqueço, ou não sinto a mínima vontade de fazer e... Não sei, mas penso que escritos assim não devem ser forçados.
          — Sim, na minha linha de terapia é comum a gente designar tarefas pra vocês durante a semana, mas não cumprir com elas não te torna uma paciente mais "difícil". Penso que tu funciona de um jeito, Esmeralda, e que talvez caiba a nós fazer algumas adaptações pra que tu consiga fazer essas tarefas. Faz sentido pra ti?
          "Não, não faz sentido. Eu acabei de dizer que não funciono com essas tarefas".
          — Faz...
          — Tá bom... — mesmo claramente não tendo acreditado naquela resposta, a mulher prosseguiu: — Que tal se as tarefas fossem mais práticas? Eu lembro que no início tu te deu muito bem quando eu te pedi pra começar a levantar da cama e tomar banho todos os dias.
Esmeralda desencostou as costas do encosto do sofá e projetou o tronco para frente apoiando os cotovelos nos joelhos.
          — Como assim? Que outra coisa mais prática eu poderia fazer agora? Digo, considerando que eu já levanto da cama e tomo banho todos os dias.
          — Bom... Nosso tempo acabou, mas eu quero que você faça um hobby. Qualquer coisa que te dê prazer. Não precisa me dizer agora o que é, só pense em alguma coisa e faça pelo menos uma vez durante a próxima semana, ok?
          — Ok...
          — Depois de se despedirem, Ana levou Esmeralda até a porta do consultório. Esme passou pela salinha de espera minúscula e vazia, mas não sem antes dar um pouco de atenção ao quadro que enfeitava uma das paredes: três folhas distintas.

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