Strange barks.

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Jeon Jungkook

O tempo se passara desde que eu estava neste quarto e eu suspeitei que era hora de sair. Não queria ficar enfurnado neste cômodo para sempre, já estava ficando insuportável. Nada para fazer, nem sequer um livro para ler. Precisava me resolver com aqueles dois antes que eu enlouqueça aqui, minha cabeça já está começando a me pregar peças. Na verdade, só estou sendo muito dramático. Só estou aqui por algumas poucas três horas e nada mais, já estava na hora de sair mesmo. Quero um ar puro para respirar e um pouco mais de espaço para poder andar, e não será aqui que conseguirei. Me levanto, porém meu corpo desejava ficar mais tempo na cama. Batalhei contra a minha preguiça insana e fui até a porta amadeirada, destrancando-a com a chave, sentindo uma corrente de ar passar por mim assim que mantive-a aberta. Era gostosa, porém também um pouco fria a brisa que estava tomando. Não deixava de ser prazerosamente boa, também.

Porém, deixando de me enrolar a mim mesmo de uma coisa necessária, coloquei meus pés para fora de uma vez. Max ouviu-me fazer barulho e veio até mim, me cheirar. Afaguei a sua cabeça com as mãos, sentindo o seu dourado pelo entre o meio de meus dedos. Ele estava mais brilhante do que nunca, eu gostava disto. Até parecia que alguém havia lhe dado banho, mas não. Raramente ele tomava banho aqui, pois não era necessário sair muito com ele para as ruas, já que mamãe preferia se prevenir de qualquer acidente possível. Não poderíamos confiar cem por cento neste cão também. Sim, ele havia sido treinado por anos para ser especializado em apenas pessoas cegas, mas mamãe tinha medo de que ele desviasse seu caminho e a mandasse para um outro lugar muito diferente do que a sua rota inicial. Por isso que, sempre que ela saía, raramente era sozinha. Poucas vezes chegou a ir pra rua com Max, sem ajuda de ninguém, apenas os dois. Desde então, sempre dizemos que agora ele é apenas um cão de estimação, como todos os outros. Mas isso não significa que ele ainda não seja treinado.

Os ouvidos de Max são muito bem apurados e ele consegue ouvir coisas que estão acontecendo agora, praticamente do outro lado da rua. Ele é realmente um prodígio e nunca deixará de ter essas habilidades. Ele costuma ser um cachorro muito quieto, portanto, é de se estranhar quando escutamos algum latido vindo de sua parte. Quando late, pode ser porque viu algum grande bicho perto de casa ou é em algum alerta de perigo, não especificando qual a gravidade ou o tipo. Ele apenas levanta as suas orelhas para o alto e se mantém em uma postura firme, de cão bravo e espera até que nós resolvamos toda a situação. Depois de resolvido, ele cheira todo o local por onde passamos, para saber se não sente nenhum diferente cheiro ali, além do nosso. Quando digo que ele é extremamente inteligente, não estou brincando. Não é a toa que foi tão caro e ao mesmo tempo compensou tanto. Ele nos ajuda no dia-a-dia, dando sinais sobre tudo. Gosto muito de Max.

Minhas mãos ainda estavam na cabeça do dourado, porém ele saiu correndo repentinamente em sinal de alerta, latindo incessavelmente. Acabei de pensar sobre isso e ele começa a latir? Não sei se considero sorte ou azar. Espero que não seja nada. Apesar de sua audição ser melhor que a minha, sempre espero que ele esteja errado e tenha confundido, mas, por incrível que pareça, ele quase nunca se confunde, de tão bem treinado. Conforme tento o acompanhar, meus pais chegam logo atrás, curiosos para saber o motivo pelo qual o cachorro se mantia em guarda.

— Por que o Max está latindo? — Pergunto aos dois, mesmo sabendo que eles não saberiam responder.

— Não sei. — Respondem em coro. — Precisamos ver, podemos estar em perigo e nem sabemos. — Meu pai termina.

Como minha mãe não podia enxergar, pedimos para que ela continuasse na cozinha, apenas esperando a nossa volta. A nossa subida até onde Max estava foi lenta e cautelosa. Vimos então finalmente o motivo de toda a algazarra: ele estava latindo para o nada. Me arrepiei só de ver a cena, porém o chamei e ele desistiu de latir, abanando seu rabo em forma de felicidade. Descemos de volta para a cozinha, onde encontramos mamãe, de novo. Ela estava apenas batendo seus pés, nos esperando.

— O que aconteceu desta vez? — Era essa a sua pergunta.

— Bem, o Max estava latindo para as paredes. Não sabemos se ele viu algo ali, mas parecia bravo. — Meu pai a responde.

— Que estranho... Ele não é de fazer essas coisas. — O cachorro se aproxima dela e ela lhe dá um carinho caloroso. — Enfim, espero que não seja nada mesmo.

Por um segundo, o clima ficou tenso. Eu estava perto de meus pais, e havia acabado de brigar com os mesmos há umas horas atrás. Eu não sei o que deveria fazer. As desculpas deveriam vir da parte deles primeiro, então eu não poderia fazer nada se eles não tomassem a iniciativa. Me manti por mais um tempo ali, para saber se eles falariam algo, fingindo pegar um copo para beber água. Tudo estava num silêncio repugnante, até que meu pai quebra-o.

— Filho, podemos conversar? Agora mesmo, no caso. Precisamos discurir certas coisas aqui em nossa mesa, somos uma família. — Ele me chama para sentar, arrastando a cadeira para o lado de forma leve e chamativa.

Aceito o seu convite, trazendo o móvel de ferro para mais perto. Finalmente eles estavam me chamando para assumir os seus erros! Queria ver eles pedirem desculpas para mim, pelas coisas que disseram. Aquilo não foi certo e o mínimo que espero é que peçam pelo meu perdão. Não esquecerei as ações nunca, mas eu perdoarei, afinal, eles são meus pais. Mas espero ter deixado bem claro para eles como me sinto também, eles precisavam saber.  Essa conversa teria que chegar uma hora ou outra.

lovely blindness• jjk+kth.Onde histórias criam vida. Descubra agora