EU SOU O MENSAGEIRO!

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  Antes mesmo de subir no palco, Joaquim conseguia ouvir Tabajara proferindo seus dizeres proféticos em relação a ele.
  —Temos vivido tempos difíceis —dizia Tabajara em tom alto para que todos escutassem —,temos sofrido com uma terrível falta de mantimentos, como me dói ter que presenciar meu povo tendo de racionalizar seus alimentos para que todos possam ter do que comer, faltam antídotos para nossos enfermos, materiais para nossos produtores, tecidos para novas vestes, estamos presenciando tempos difíceis, uma crise horrenda que resulta das terríveis maldições dos demônios vermelhos, mas os deuses são por nós, nossos clementes e majestosos deuses sempre estiveram a nos guardar e desta vez não será diferente. Vendo nossa atual situação, nossos maravilhosos deuses decidiram que é chegada a hora da semente de prata desabrochar e a Grande Árvore Dourada nascer!
O enunciado de Tabajara fez com que os aldeões vibrassem, comemorando com palmas, pulos e gritos de alegria e adoração aos deuses.
  —Podem comemorar, meus irmãos —prosseguiu Tabajara, após uma pausa para apreciar a comemoração do povo, o que fez seus olhos brilharem e suas pupilas dilatarem —, o momento em que nossas dores e tristezas terão fim está mui próximo! Assim como os espíritos de nossos ancestrais, filhos daqueles que andaram com os deuses e presenciaram a ascensão de nossa gente, profetizaram à mim, agora profetizo à vocês: “aproximando-se o dia do nascer da Grande Árvore Dourada, eis que um mensageiro será enviado dos campos do jardim divino dos deuses, esse mensageiro anunciará o nascer da Grande Árvore Dourada, o fim do sofrimento e o começo da paz e alegria eterna.”
  Os aldeões comemoram ainda mais eufóricos, com mais dizeres de adoração e agradecimento aos deuses.
  —Meu povo, meus irmãos, meus iguais, meu sangue, neste momento de abundante alegria, é com imenso prazer em meu coração e espirito, que digo que o grande mensageiro dos campos do jardim sagrado já está entre nós e desejo que teus olhos contemplem-no!
  Joaquim escutava atenciosamente o discurso de Tabajara, sentado em um dos degraus da pequena escada que levava para cima do palco, quando ouviu um guarda o chamando e sinalizando para que ele subisse no palco, o menino confirmou com a cabeça, se levantou, e subiu os degraus da escada até chegar ao palco, onde foi recebido com calorosos aplausos e palavras de adoração de todos os aldeões presentes, incluindo os guardas e o próprio chefe da vila, que levava um imenso sorriso no rosto. O garoto se sentia como se fosse uma figura extremamente popular, o que o deixou um tanto constrangido e sem reação.
  —Contemplem, irmãos, o grande mensageiro!
  Joaquim continuou quieto, congelado, apenas observando a multidão, sem saber como reagir, mas após alguns segundos parado como se fosse uma estátua, o menino começou a gostar daquela situação, aqueles aldeões estavam tão alegres com sua presença, o idolatravam como se fosse um super-herói, ele era importante para eles, aquilo fez o pequeno e humilde garoto se sentir especial, um pequeno sorriso brotou em seu rosto, um pequeno sorriso que se transformou em um grande sorriso, um grande sorriso que deixou de ser apenas um sorriso e se tornou um grito:
  —EU SOU O GRANDE MENSAGEIRO!
  O grito de Joaquim fez os aldeões vibrarem ainda mais, uns perdiam a voz de tanto gritar, outros chegavam a se desmanchar em lagrimas e soluços e alguns até mesmo desmaiavam.
  O menino continuou apenas observando toda aquela euforia, estava se divertindo, até Tabajara ordenar que a multidão se acalmasse e ficasse em silêncio para que o garoto pudesse discursar. Pego de surpresa, Joaquim se viu novamente perdido e desconfortável, ele não sabia o que devia dizer, o silêncio dos nativos o causou ainda mais desconforto, mas mesmo assim ele se esforçou para fazer as palavras surgirem em sua mente e saírem por sua boca.
  —Eu... eu me chamo Joaquim, tenho 11 anos e... e eu tenho uma televisão.
  Os aldeões permaneceram em silencio, todos estavam prestando atenção em Joaquim, mas pareciam confusos com as palavras dele.
  —Então... —Joaquim prosseguiu —Eu não sei bem como vim parar aqui, mas... eu sou o mensageiro e... a mensagem que eu tenho é que a Grande Árvore Dourada vai nascer e... e ela vai ser bem grande e... vai ter muita fruta, eu acho.
  Os nativos continuam em silencio, com a atenção completamente voltada para Joaquim, esperando que ele dissesse algo mais, mas o garoto não sabia mais o que dizer, ele olhou para Tabajara esperando alguma ajuda, mas tudo que recebeu do chefe foi um sorriso simpático e um balançar de cabeça em afirmação. Então o menino voltou seu olhar para a multidão e pensou num jeito de dar fim ao seu “discurso".
  —E... acho que é só isso, mesmo —disse Joaquim, encerrando seu pronunciamento.
  Dessa vez, com as palavras finais de Joaquim, os aldeões voltaram a comemorar, com seus gritos, palmas, pulos,choros e desmaios, até que em meio a todo o barulho da euforia dos aldeões, um grito se destacou.
  —OS CAÇADORES VOLTARAM!
  O grito fez com que, aos poucos, os aldeões se acalmassem e desviassem a sua atenção de Joaquim, dirigindo seus olhares para trás. O grito continuou sendo repetido, até que todos deixassem de vibrar e começassem a se dirigir rapidamente e euforicos para a entrada da aldeia.
  —O que foi isso? —Joaquim perguntou confuso à Tabajara.
  —Aparentemente nossos caçadores retornaram —Tabajara respondeu enquanto ia em direção a escada para descer do palco —,perdoe-nos por deixar teu pronunciamento desse modo, mas em tempos como esse, a volta dos caçadores também é motivo digno de comemorar, hoje é de fato um dia abençoado.
  —Entendi.
  —Vamos, Juquim —Niara o chamava enquanto corria em sua direção, se aproximando do palco —, vamos ver o que os caçadores trouxeram!
  Antes que descesse do palco, Joaquim notou sons de choros e gritos desesperados vindo da direção em que a multidão havia se dirigido.
  —CURANDEIRAS! CURANDEIRAS! TRAGAM AS CURANDEIRAS!

A Grande Árvore DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora