— Trouxe uma coisa para você, Maurício. — Paulo jogou um arquivo sobre a mesa do colega.
— Mais um? — Ele deixou o lápis cair da boca.
— Dois! Garotos de dezesseis e quinze anos. Estavam fazendo tiktoks perto de casa e desapareceram. Eles eram chaveirinhos dos traficantes, então...
Maurício bateu na mesa com um tapa.
— Vão arquivar o caso! — Ele abriu o documento.
— Mais um sumiço sem vestígios. Isso tem aumentado muito durante os anos. O governo tem certeza que é os bandidos e eu mesmo, acho que todas essas pessoas viraram cinzas dentro de pneus.
— Paulo. Você acredita em mim? Depois de todos esses anos investigando comigo, perdeu a fé?
— Não cara. Não é isso, eu me lembro daquilo lá em cima, mas até hoje não vimos mais nada e não tem como creditar uma investigação contra " demônios". — Paulo fez as aspas nos dedos.
— O Padre Ronaldo vai nos ajudar, ele disse que pode exorcizar esses espíritos. — Maurício colocou a pasta na última gaveta do arquivo, com muito cuidado.
— Aquele cara é um bêbado. Vai é para o inferno junto.
— Ele é um homem da igreja e está conosco desde o início. De um pouco de fé.
— Você que sabe. Fui.
Paulo saiu da mesa de Maurício o deixando sozinho com seus pensamentos.
Sete anos antes, Paulo tinha acabado de ingressar para a polícia civil e sentiu que teria que deixar a favela. Começou a mudança de noite. Maurício e o seu irmão, Marcelo, que era quem iria lhe alugar uma quitinete longe dali, resolveu ajudar já que estava sem nada pra fazer.
Quando eles estavam descendo as escadas do morro, Paulo deixou cair uma panela cheia de talheres e os dois pararam para juntar tudo. Foi quando apareceu uma sombra no chão e começou a cercá-los para dentro de um beco escuro.
Eles conseguiram fugir e saíram correndo, desesperados com a experiência sobrenatural. Enquanto desciam as escadas gritando desesperados, não perceberam que Marcelo não os acompanhava.
Ele ouviu uma voz gritando por socorro. Se virou e viu uma senhora manchada de sangue e um menino sentado na frente de outro beco escuro.
Ela gritava pedindo ajuda, que seu filho havia visto o diabo e estava passando mal. Marcelo se amaldiçoou e voltou para pegar o menino, que não parecia ter mais que oito anos, no colo. Mas uma figura negra com um sorriso de muitos dentes extremamente pontudos e brancos apareceu por detrás do menino e o engoliu inteiro.
A mulher, como em transe, arrumou a postura e entrou no beco, desaparecendo para sempre, assim como Marcelo.
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Apenas mais um beco na favela
HorrorTerror +16: Entidades Tráfico, milícia, polícia? Tantos assassinatos dentro da favela. Pessoas pobres costumam morrer sem serem notadas. A favela era só um grande campo cheio de gado para demônios escondidos entre as vielas. Será que alguém um dia...