Capítulo 5: A samaritana

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Uma coisa que não falta dentro de favela são inúmeras igrejas, cheia de falsos moralistas, corruptos, adúlteros e essa putaria toda porque uma coisa que sabemos: ninguém é santo!

Inúmeras denominações buscando a deus dentro de todo complexo gigante que era aquele lugar.

Na cabeça de Maurício, o mal vivia escondido das igrejas e da presença de Deus. Então tratou de achar um homem que iria acreditar na sua história e lhe ajudar.

Paulo e ele saíram de um turno dobrado e foram direto até o padre, pois este havia ligado dizendo que tinha novas informações.

Um menino de oito anos havia desaparecido e as suspeitas é que o tráfico havia o pego para vender seus órgãos. A mãe, paroquiana, estava desesperada e inconsolável. Então o padre lhe contou a lúdica história dos demônios da favela. Ela riu e preferiu acreditar que isso era maldade humana.

Mas o padre não havia os chamado ali somente por aquilo. Ele descobriu documentos muito antigos do que poderia ser a primeira vítima dos demônios.

Em 1890 uma senhora chamada Alauani Bonti, negra, refugiada e guerreira, chegou até o morro junto com outros escravos alforriados. Eles começaram a erguer os primeiros barracos e prestar os primeiros cultos aos seus exus.

Tudo parecia ir bem, mas a vida não era fácil para um recém alforriado e eles passaram a amargar uma miséria extrema e desumana.

Mãe Alau, como era chamada, convocou seus guias e durante o ritual todos desapareceram. Curiosamente, todos os homens do morro se tornaram pais e conseguiram bons empregos.

Maurício comemorou. Então decidiram buscar parentes vivos e acabaram achando uma moça de treze anos, que estava em uma casa de apoio até encontrar um lar.

Eles foram até ela. Aos treze anos, a menina magra e muito pálida já era viciada em drogas fortes e foi protituida pelo pai desde os oito anos. O pai foi morto pela polícia numa tentativa de assalto e a mãe desaparecida há anos.

Ao chegarem de frente para ela, Maurício desabou.

- Que se foda. Como uma garota dessas vai saber algo sobre? - Ele olhou para os demais.

- Deixa que eu falo, imbecil. - Paulo sorriu sem graça para a menina. - Então querida, eu sou... - Ele foi interrompido.

- Rebeca. Só meus clientes me chamavam de "querida".

- Claro, me desculpe.

Ela desdenhou e enrolou a mão no ar para que ele continuasse.

- Então, Rebeca. Você sabe alguma das suas origens? Você sabia que sua trizavó foi uma... - Ele é interrompido novamente.

- Uma bruxa? Uma macumbeira desgraçada dos infernos? Sei.

- Eu ia dizer, uma negra alforriada e uma das primeiras moradora do morro.

- Ah sim. Isso também. É a história da família. Ninguém quer esquecer isso na família. É mais bonito para eles se orgulharem de uma história de séculos atrás do que do seu próprio caráter. Se é que me entendem. - A menina cruzou os braços.

- Porque fala assim de Alau? Parece ter tanto ódio. - Maurício perguntou.

- Odeio essa maldita coisa de religião. Na minha casa tinha um altar para ela e eu tinha que ficar olhando nos olhos dela enquanto qualquer porco nojento me comia.

- Claramente você tem muitos traumas para tratar, minha filha. - O padre demonstrou compaixão.

- Eu não sua filha, seu maldito pedófilo! Você e essa sua raça maldita de padres vão todos para o inferno.

Alguns segundos de silêncio trazem um clima extremamente desconfortável. Então Paulo explicou tudo a ela. Sobre sua trizavó, sobre os desaparecimentos e perguntou se ela sabia alguma forma de expulsar aquelas criaturas desse mundo.

Ela olhou cada ficha com atenção e então balançou a cabeça negativamente. Seus olhos se enxergam de lágrimas e ela pediu para ser deixada a sós.

Eles foram embora, mas foram chamados para voltar duas horas depois. Ela tentou se matar e foi dopada. Foi a primeira vez que ela tentara algo tão grave.

Os três se sentiram culpados e Ronaldo ficou do lado dela rezando por dois dias, até que ela despertou.

Apenas mais um beco na favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora