Capítulo 6: Testemunhas

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Maurício tinha material suficiente para iniciar uma forte investigação sobrenatural. Paulo apesar de querer deixar tudo isso no passado, queria ajudar o amigo a entender o que aconteceu com seu irmão. Ronaldo levou Rebeca para um convento, de onde ela nunca mais passaria por maus tratos.

Rebeca aceitou viver entre os religiosos, mesmo odiando a coisa toda. Ela só queria paz e um lugar onde ela pudesse dormir sem ser acordada por pesadelos. Imaginou que a paz de um convento e proteção divina lhe tirariam as olheiras. Também, ela não tinha outro lugar para ir.

Maurício foi até a upa da favela. Rose, uma enfermeira do lugar o ligou depois de receber um paciente com um caso incomum. Ele tinha muitos contatos, olhos dentro do morro e era através deles que ele tinha cada vez mais convicção em sua teoria.

Um jovem de vinte anos chegou até a upa pedindo remédios para dormir, pois segundo ele, fantasmas faziam muito barulho do lado de fora da sua casa e ele não conseguia dormir de medo. O jovem não tinha histórico de problema mental, era atleta e estava começando a ir mal na faculdade. Ele precisava dormir ou perderia sua bolsa na federal. Estava desesperado e ansioso. Foi diagnosticado com depressão.

Maurício se sentou ao lado dele, que estava esperando para pegar os remédios.

— Alex? Certo? — O policial perguntou.

— Sim senhor. Eu fiz alguma coisa? — O garoto arregalou os olhos.

— Relaxa, até onde eu sei, não.

— Ah o senhor sabe, né? Qualquer neguinho pertubado e favelado já é motivo pra enquadro.

— Não diga isso, jovem! Não sou assim. Quero que você me fale sobre os fantasmas.

— Ah, esse caralho de fantasma não me deixa dormir, seu polícia. Ele fica raspando a parede a noite toda. Aí quando eu olho pela minha janela não tem ninguém. Eu escuto, mas minha mãe não. Ela diz que é estresse por causa da faculdade, mas eu sei que tô lúcido. Ninguém acredita em mim.

— Então você nunca viu ele? Isso só acontece de noite?

— Não, não vi. Só ouço o som dele raspando a parede e chorando, ou rindo. Não sei explicar. É pertubador e as vezes parece que tá do lado da minha cama. É sempre as duas horas da manhã, em ponto e pára quando começa a amanhecer.

— Você se importa se eu passar uma noite na sua casa? Esse assunto me interessa muito.

— Por mim de boa, chefe. Minha mãe é que quem manda lá, cê tem que ver com ela.

Os dois seguem para dentro da favela. Depois de becos e mais becos, eles chegam até a casa quase escondida de Alex. O detetive fala com a mãe do garoto, que não se importa, apenas quer ajudar o filho a melhorar.

Maurício ligou para Paulo, que se dispôs a ficar do lado de fora, mas primeiro eles iam ter que explicar tudo para o chefe local e pedir autorização de ficar ali de noite.

Maurício se encheu de coragem e foi buscar o chefe do tráfico. Foi recebido por muitos homens armados. Ele estava com muitos relatórios dentro da mochila e mostrou tudo para o traficante.

O traficante era um homem religioso. Acreditem. E tinha muito medo do assunto. Cada vez que Maurício abria um arquivo diferente ele fazia sinal da cruz. Os demais também começaram a ficar com medo e ficavam se olhando.

— Nós não matamos essas pessoas. Mas essa porra aí tá muito sinistra. Tô sentindo cheiro de armação. — O traficante gesticulava com as mãos.

— Eu não arriscaria meu pescoço se eu não soubesse disso. Você acha mesmo que eu, policial, viria aqui na tua cara se isso não fosse grave? Como estou dizendo, tem algo muito maligno nessas vielas e eu quero descobrir o que é. Isso é muito maior que nós ou nossa tensão social aqui.

— Faz assim. Pereira e Cezinho vão com você e seu amigo. Quero saber que porra tá acontecendo aqui. Sa baderna vai acabá porque o único demônio da favela sou eu!

— Você que manda, chefe.

A noite chegou rápido. Paulo ficou do lado de fora com os outros dois homens encostados numa moto, em completo silêncio. Maurício sentou no chão do quarto de Alex, que foi dormir cedo antes que o barulho começasse.

De repente, Alex acordou assustado.

— Tá ouvindo essa porra? — Alex olhou com os olhos arregalados para Maurício.

Obviamente, ele não ouviu nada. Alex cobriu o rosto e começou a chorar. Só se podia ouvir Alex até que os dois homens da moto deram um grito e arrancaram com a moto.

Maurício correu na janela e viu Paulo morto com  muito sangue na cabeça do lado de fora. Mas também viu um vulto muito escuro entrar debaixo da casa de Alex.

Nos três segundos que ele viu Paulo caído, o vulto e se virou para Alex, o garoto tinha desaparecido e dois olhos muito amarelos o encaravam um pouco mais alto que a sua altura.

Apenas mais um beco na favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora