Capítulo 8: Verdade?

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  Silvio sai do quarto com os olhos arregalados. A história que o amigo acabara de lhe contar além de assustadora e sádica, lhe deu náuseas em vários momentos. A médica responsável se aproximou perguntando se ele estava bem, mas ele não a ouviu se aproximar.

Quando a doutora perguntou o que ele achava de Maurício, ele foi categórico: ainda está traumatizado. Ela entrou no quarto sorrindo e foi verificar seu paciente mais famoso no momento.

A imprensa do lado de fora do hospital acampava e como abutres, vigiavam cada movimento dado nas saídas do edifício. Quando Silvio saiu, uma chuva de flashes e gravadores o deixou tonto, fazendo com que ele não conseguisse responder metade do que lhe perguntavam.

Maurício se deitou e esperou sua refeição chegar. A enfermeira abriu as cortinas para entrar sol, mas foi advertida a mantê-las como estavam.

Silvio voltou para a delegacia e abriu um relatório sobre o colega, mas não conseguia escrever nada. Não queria que ele fosse dado como demente, apenas um homem ainda em trauma. Escolheu bem as palavras sem mencionar absolutamente nada que o colega lhe disse.

O delegado leu, mas notou que Silvio não estava bem. Suava frio e parecia estressado. O chefe o mandou para casa e antes de sair ele fez uma pergunta.

— Doutor, você acredita no sobrenatural?

— Tenho temor a Deus e uma das minhas amantes. Acho que sim, porquê?

— Porque eu não tinha pensando nisso até hoje. Sabe, essa coisa toda de demônios.

O delegado ergueu uma sobrancelha e riu.

— Vai dormir, Silvio. Você está trabalhando demais. Preciso que você esteja bem para me ajudar com o Maurício.

— Claro. Até amanhã, doutor.

— Vai.

Silvio foi para casa e não conseguiu dormir. De onde morava era possível ver uma favela, ele olhava pela janela do prédio e mil coisas passavam pela sua cabeça. Então levou um susto quando sua filha lhe abraçou pelas costas.

— Pai! Calma, sou eu. Você está bem?

— Estou sim. Tá indo aonde? — Ele notou a filha bem arrumada.

— Estou indo gravar tiktok na casa da Paula.

— Negativo. Ela vem aqui.

— Mas pai... A gente ia gravar na laje dela.

— Eu não quero que você pise na favela nunca mais, ouviu? — Ele pegou a filha pelos ombros e chacoalhou.

— Tá maluco? O que deu em você? Eu sempre vou lá e nunca aconteceu nada.

— Não vai e pronto. As coisas mudaram. Se você for vista lá vai ser pega. Descobriram que você é filha de policial. Vão te matar na hora.

— É mentira! Você está sempre tentando acabar com a minha diversão.

— Vai lá então! Arrisca! Eu já tô sofrendo pela sua morte. Pela tragédia anunciada.

A garota olha nos olhos do pai e acredita nele. Pega o telefone e começa a falar com a amiga sobre o ocorrido. Ela decide não sair.

Ele sabia o medo que a filha tem, sabia como lidar com ela. Deu certo. Mas era de bandido que Silvio estava com tanto medo?

Apenas mais um beco na favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora