SEIS

62 22 0
                                    

29 de abril de 1980

    Querido diário,

    Depois daquele primeiro encontro horroroso eu não sabia o que pensar sobre ele. Eu não o entendia e me sentia confusa. Cogitei ser algum tipo de teste ou uma brincadeira, pensei até em não ir, mas me incentivei a tentar novamente e dessa vez fazer as coisas terminarem como eu queria...

Outubro de 1977...

     Na noite seguinte o desespero por uma roupa continuava o mesmo, revirei todo meu guarda roupa e nenhum combinação parecia boa o bastante.

─ Já disse que se você for enrolada em papel higiênico ele vai achar lindo. ─ Tai insiste e jogo no rosto dela uma blusa. ─ Calmaaa!

─ Depois do fiasco de ontem eu preciso de uma roupa que diga: vem quente que eu estou fervendo.

─ Você sabe que pode usar a boca pra essa função, não sabe? ─ ela provoca e dou de ombros.

─ Cadê a Kelly? ─ pergunto nervosa.

─ Deve estar chegando, ela disse que tinha uma surpresa. ─ ela comenta revirando alguns vestidos.

─ Acho que vou aceitar aquele vestido vermelho com o decote. ─ digo diante do espelho com um vestido azul em frente do corpo. ─ E se ele não estiver interessado? ─ questiono preocupada e Tai me ignora.

─ Chegueeeeeei! ─ Kelly entra aos gritos no quarto e com uma enorme sacola nas mãos.

─ Como você entrou? ─ pergunto sem entender.

─ Você me deu uma cópia da chave. ─ diz tranquila e se joga em cima da cama.

─ Vocês sabem o que significa emergência? ─ reclamo e as duas se entreolham e dão de ombros.

─ Se você continuar reclamando não te dou isso. ─ ela balança a sacola na minha frente.

─ O que é? ─ olho curiosa.

─ Abre! ─ Kelly incentiva e mesmo sem muita certeza puxo o lacinho da sacola e retiro o que tem dentro.

─ É lindo! ─ solto encantada com o lindo vestido vermelho.

     Corro para frente do espelho e coloco o vestido na frente do corpo e é perfeito. Um vestidinho todo rodado, com decote em V e alças fofas como se fossem duas abas... Esse é O vestido.

      Não perco tempo e vou logo vestindo, Kelly me ajuda com o zíper. Ficou ótimo, apertando nos lugares certos, com um ótimo comprimento e dessa vez vou com saltos finos.

─ Não exagerei? ─ questiono as duas.

─ Se ele for te levar novamente em um boteco, com certeza.

─ Eu exigi cadeira e mesa dessa vez. ─ lembro enquanto passo delineador.

─ Boteco também tem cadeira e mesa. ─ Tai brinca e tento não rir para não borrar o traço.

Olhos feitos...

─ Acabei! ─ As duas me analisam da cabeça aos pés e fazem sinal de positivo.

     Mantendo a velha chama da esperança peço que elas arrumem o quarto, porque hoje vamos subir, nem que eu tenha que bancar a neandertal e arrastá-lo pelos cabelos.

     Dessa vez quando chego à portaria ele está me esperando, e já faço cara feia.

─ Você pode ao menos fechar a camisa? ─ peço sem ânimo.

Diário secreto - Eu, tu e eles - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora