SETE

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    Fecho meu diário sorrindo triste...

    Como somos bobos diante do amor. Muitas vezes fugimos dele por medo de sofrer, de nos magoar. Esquecemos que amor também é felicidade. Uma felicidade que anda lado a lado com a dor, de mãos dadas mais precisamente, como irmãos. Isso nos assusta e nos fascina.

    Uns querem o amor, querem os riscos, querem sentir a dor, querem a felicidade, a tristeza, as brigas, querem a fossa, querem sentir que estão vivos, que possuem um coração... Outros preferem evitar os riscos e se auto proteger. Dizer que sozinhos nos bastamos é mais fácil do que admitir que estamos com medo. E o que é o medo se não a manifestação das nossas incertezas, das nossas inseguranças... Aquela voz no fundo da cabeça que diz que não vai dar certo e que vamos nos magoar.

     Segundo a psicologia quando estamos com medo nosso corpo e mente entram em alerta, surgem duas opções instantâneas e involuntárias: lutar ou fugir, o corpo se prepara para as duas opções e eu tinha as duas bem claras na minha mente... Eu não entendia o que estava sentindo, então escolhi a saída que para mim era a mais fácil e menos dolorosa, eu fugi...

30 de abril de 1982

    Querido diário,

    Essa é uma das anotações mais embaraçosas. Como uma adolescente passei a evitar Noah, na verdade eu não sabia como lidar com as coisas que estava sentindo e querendo.

    Lembro bem da minha ingenuidade por achar que podia sumir da vida dele. Mais do que nunca passei a evitar a praia, se ele aparecia em meu prédio recebia sempre o mesmo recado: "ela está trabalhando". Com cinco dias ele desistiu, bom, achei que ele tinha desistido, em minha mente assustada eu acreditava que ele tinha percebido que havia sido apenas algo de uma noite, que o que eu queria dele era sexo e que assim que obtive ele deixou de importar. Era com esse discurso que eu tentava me convencer que não estava fazendo a maior burrada da minha vida.

    Mal sabia eu que eu não estava simplesmente evitando o cara com quem tive o melhor sexo da minha vida, não era um carinha sem importância que eu conheci na praia, era o homem da minha vida e eu estava mesmo disposta a deixá-lo escapar...

Outubro de 1977...

    Depois daquele dia eu passei a fugir de Noah, cogitei até voltar a morar com mamãe em São Paulo, mas já imaginei as discussões que viriam e, com certeza, ela tentaria, de novo, me casar com o primeiro velho milionário que aparecesse. Então, como uma adolescente de quinze anos, eu passei a me esconder, estava a ponto de mandar Luís, meu porteiro, dizer que eu havia me mudado, mas hoje quando acordei não havia recado dele, considerei uma vitória. Será uma boa sexta-feira, então coloquei meu uniforme e saí para o PS, hoje trabalho de manhã e vou cobrir uma amiga à tarde.

    A manhã passou voando. Deixei a sala dos curativos e fui para a triagem dos pacientes, área de grande movimento, felizmente as meninas estão comigo agora pela tarde, mas o lado ruim é que não estão falando comigo, estão com raiva por eu estar ignorando o rinoceronte.

─ Vocês não vão mais falar comigo? ─ questiono as duas que estão na sala de curativos, não tenho muito tempo.

─ Vai continuar ignorando aquela delícia de homem? ─ Kelly pergunta e reviro os olhos.

─ E vale ressaltar o homem com quem você teve o melhor sexo da sua vida... ─ Tai completa e cruzo os braços.

─ Primeiro Elvis, meu amor supremo, morre, depois você dispensa aquele deus grego... O que mais falta acontecer? ─ Kelly continua a reclamar e não as entendo.

Diário secreto - Eu, tu e eles - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora