Sombras do Passado ( twilight / hp au)

I - CEDRIC?

"Acho que me perdi no tempo em algum momento desde a morte do Cedric até agora, como se o tempo ao redor de mim tivesse desacelerado... Parado. Acho que por isso me sinto tão estranha ao falar que já fazem quase dois anos desde que ele se foi, porque para mim ainda dói como se tivesse acontecido ontem."

Parei de escrever por um instante e deixei meus pensamentos viajarem no tempo enquanto me permitia reviver tudo o que aconteceu desde aquele fatídico dia, repassando cada detalhe que me trouxe até o avião em que estou agora. Me lembro de ter gritado, chorado e até brigado com minha avó. Mas, no fundo, sempre soube que ela estava certa. Me afastar de Hogwarts foi, no final das contas, a melhor decisão que poderia ter sido tomada.

Hogwarts nunca foi um lugar fácil para mim. Ser neta de Minerva McGonagall sempre foi um fardo pesado. As expectativas eram altíssimas e todos esperavam que eu fosse tão fantástica quanto minha avó, enquanto outros aguardavam qualquer mínima falha para me crucificar. Isso tudo melhorou quando me aproximei de Cedric. Com ele, era fácil ser eu mesma e ignorar julgamentos. Eu não precisava me preocupar em ser Anne McGonagall, a neta da Professora Minerva. Eu poderia ser apenas... eu!

Suspirei profundamente e voltei a escrever.

"Foi difícil me despedir de Harry, Hermione, Rony, Ginny e todos meus outros amigos, mas tenho certeza que passar esse tempo com meu pai pode me fazer bem, mesmo que isso me faça passar mais tempo do que gostaria no mundo trouxa."

Outra semelhança entre minha avó e eu, é que ambas somos bruxas mestiças. Minha avó era filha de uma bruxa e um trouxa, e ela sempre me contou como sua mãe, minha bisavó, precisou esconder o que era, o que a fez viver infeliz. Talvez esse tenha sido o motivo pelo qual minha avó decidiu não se casar com meu avô, cujo nome nunca me foi revelado. Ela não queria seguir os passos de minha bisavó. Mas no final das contas já era tarde demais e minha mãe já estava em seu ventre.

Minha avó costuma dizer que sou muito parecida com ela, tanto fisicamente quanto em personalidade. Uma coisa que certamente compartilhamos é o gosto pela música. Herdei sua antiga coleção de discos e, até hoje, não encontrei um único álbum que não se tornasse minha obsessão por pelo menos um mês. O resto, infelizmente, nunca poderei comprovar já que minha mãe faleceu logo após me trazer ao mundo.

Assim como minha avó e bisavó, ela também se envolveu com um trouxa. Confesso que até hoje não sei o que minha mãe pode ter visto no pacato Charlie Swan, um homem simples e reservado, sem nenhuma ligação com o mundo mágico. Talvez ela tenha se encantado pela sua tranquilidade ou pela maneira como ele enxergava a vida de uma forma tão diferente da dela. Ou talvez eles tenham sido apenas um breve caso um do outro, enquanto buscavam fugir de seus problemas: ela, do mundo mágico e do fardo que nosso sobrenome carregava; ele, do término recente com sua ex-mulher.

Para mim, Charlie sempre foi como uma figura mítica, fantástica, mais uma sombra do que uma presença real. Eu o via apenas uma vez por ano, e em cada encontro precisava sorrir e inventar mil e uma mentiras para continuar escondendo minha verdadeira natureza. Eu o amava, mas havia crescido com histórias sobre um mundo ao qual ele jamais pertenceria e por mais que eu quisesse, ele nunca seria capaz de entender a profundidade e a complexidade do universo mágico que fazia parte de mim. Talvez por isso nunca tenho conseguido me conectar verdadeiramente com ele, mesmo o amando tanto. Afinal, como construir um relacionamento baseado em mentiras?

Viver entre dois mundos não é fácil, mas essa dualidade também me ensinou muito. Aprendi a valorizar a magia em suas várias formas, desde o encanto dos feitiços até a simplicidade de uma vida comum. E agora, mais do que nunca, vou precisar descobrir como essas duas partes de mim podem coexistir e, quem sabe, só quem sabe, eu consiga encontrar meu próprio caminho entre elas.