II - FUSO HORÁRIO

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Eu sonhei durante muito tempo com a volta de Cedric, imaginando como iria ser, desejando isso. Durante esse tempo eu cheguei a escrever em meu diário qual seria a primeira coisa que falaria para ele. Eu te amo. Já que nunca consegui falar isso para ele, ao menos não fora dos meus sonhos, não em vida. Escrevi também qual seria a primeira coisa que iria fazer ao vê-lo novamente, a forma como o envolveria em meus braços mais uma vez e esconderia meu rosto na curva que seu pescoço fazia com seus ombros. Sentir mais uma vez seu perfume amadeirado. Ouvir novamente seu riso, aquele som que era como sinos aos meus ouvidos. Eu criei tantas cenas na minha cabeça, fantasiei com tantos momentos, tive tantos sonhos. Tantas coisas que nunca deveriam acontecer já que ele estava morto.

Mas nem em meu maior devaneio imaginei que seria dessa forma. Ver seu rosto mais uma vez sem que fosse realmente ele ali. Nem minha mente poderia ter tão cruel comigo quanto a realidade estava sendo.

Estávamos todos na sala, Bella, papai, eu e Edward, mas quase não falávamos nada. Meu pai por provavelmente não gostar do namorado da minha irmã, Edward talvez tenha se mantido calado por ter notado meu estranho comportamento, e eu... Eu não sabia como conversar com o namorado de Bella sendo que tudo que via ao encará-lo era meu próprio namorado. Meu namorado morto.

— E então, Anne? — Bella me chamou.

Meus olhos encontraram o rosto sorridente dela, que me encarava como se esperasse uma resposta para alguma pergunta que eu não tinha ouvido. Como poderia ouvir com tantos pensamentos correndo apressados em minha mente?

— E então, o que você acha?

Olhei todos os presentes um por um, demorando um pouco mais no namorado de Bella que parecia me olhar com confusão.

— Hã... Eu... — o que ela havia perguntado mesmo? — Me desculpe, Bella. Não estava prestando atenção. — resolvi falar a verdade em vez de dizer sim para beber um copo de veneno. Ou para a "você não está me ouvindo porque seu namorado morto é igual ao meu?" — Não estou me sentindo muito bem, talvez seja o fuso horário ou só cansaço.

— Você não acha melhor ir ao hospital? — a voz de Charlie soava preocupada.

— Meu pai é médico, ele poderia te atender se quiser. — ele disse algo pela primeira vez, ou foi a primeira vez que o ouvi falar algo já que estava ocupada demais divagando em meus pensamentos.

Céus, até a voz dele era exatamente igual a de Cedric. Destino, você precisava ser tão cruel?

— Não! — respondi meio que bruscamente, percebendo que talvez tenha parecido desesperada demais e tentei me acalmar — Obrigada, não é necessário. Vou deitar um pouco, tenho certeza que vai ajudar. Edward, muito prazer! Pai, Bells.

Acenei para eles e sorri, não esperando mais nenhum segundo para subir as escadas e me trancar em meu quarto. As lágrimas começaram a escorrer no momento em que a porta se fechou atrás de mim.

Me joguei na cama e deixei que tudo explodisse.

Chorando silenciosamente até finalmente adormecer.

No dia seguinte acordei com a sensação de que um exército havia passado por cima de mim, o aroma do café no entanto pareceu ter algum efeito positivo em mim. Sentei na cama e olhei em volta, ao olhar para a janela pude observar a chuva caindo fina lá fora, conseguia ouvir sons de movimentos vindos lá de baixo e as vozes abafadas de Charlie e Bella conversando. Logo ele sairia para o trabalho e ela para a escola.

Levantei ainda que desejasse dormir por mais mil anos e fui até o banheiro, e depois de ter feito tudo que precisava quase comecei a me sentir humana novamente. A imagem que refletia no espelho me encarava de volta com esperança, determinada a esquecer tudo o que tinha acontecido na noite anterior.

— Ok, Anne. Novo dia, nova vida, afinal foi para isso que veio para Forks, não foi? — meu reflexo me olhou com determinação, concordando comigo, mas eu podia ver a fagulha de tristeza que ainda tinha em meu olhar. — O que aconteceu ontem foi muito estranho, mas acredite, o namorado da sua irmã não é o Cedric! Eles são no máximo parecidos, apenas isso. Então agora você vai descer, vai cumprimentar seu pai e irmã, depois vai sair, andar pela floresta, praticar um pouco de magia e tudo vai voltar a ser como era antes.

Ajeitei meu casaco e acenei para mim mesma antes de sair do quarto e descer para o primeiro andar.

Encontrei Charlie e Bella na cozinha.

— Bom dia, filha.

— Dormiu bem, Anne? Está melhor?

Eu sorri para os dois e me sentei à mesa.

— Sim, estou bem melhor. Tanto que até pensei em dar uma volta pela cidade depois que vocês saírem. — ia me servindo uma xícara de café preto enquanto falava.

— Tenho certeza que vai gostar da cidade, talvez até convença sua irmã a sair um pouco por aqui em vez de ficar colada no namorado todos os dias.

Charlie realmente não conseguia esconder o quanto não gostava de Edward. Eu apenas ri e pisquei para minha irmã.

— Deveria ficar feliz que a Bella ao menos está saindo, pai. Na verdade deveria agradecer ao Edward por esse milagre. — já que estava aqui poderia ajudar um pouco minha irmã. — Você sabia que em Phoenix ela vivia trancada em casa? Eu só vejo melhoras.

— Finalmente alguém para me defender. — ela sorriu e cutucou nosso pai que apenas bufou irritado.

O resto do café da manhã foi calmo, Charlie falava uma palavra ou outra enquanto Bella e eu conversamos. Ela disse diversas vezes como gostaria que eu fosse para a escola com ela, eu apenas desconversei e tentei explicar que estava em uma espécie de férias da minha própria escola em Londres, mas confesso que a ideia parecia até tentadora. Mal não iria fazer.

Nosso pai saiu logo depois do café e Bella alguns minutos depois.

E eu fiquei completamente sozinha.

Aproveitei esse momento comigo mesma para subir e ajeitar minhas poucas roupas na cômoda, espalhei pelas paredes do quarto algumas lembranças que trouxe comigo de Hogwarts. Fotos com Hermione, Harry e Rony, um desenho que tinha ganhado de Luna, uma carta que Ginny me entregou no dia em que parti. Somente uma coisa que preferi não colocar na parede e deixei guardada na mala foi uma foto. A única foto que eu tinha com Cedric.

Terminei tudo em menos de uma hora, peguei minha varinha e logo em seguida comecei a colocar meu plano em prática.

Felizmente a casa de Charlie era cercada por uma mata fechada, o que fez com que eu não precisasse caminhar por aí por muito tempo. Demorei uns vinte minutos para encontrar uma clareira deserta o suficiente para que ninguém me visse ou me encontrasse fazendo algo suspeito.

Minha avó não queria que ficasse para trás neste tempo de "férias", então conseguiu uma permissão para que eu pudesse utilizar magia enquanto estivesse em Forks. Estritamente para prática e estudos, disse ela quando me entregou a permissão.

— Ok. Esse parece ser um bom lugar para praticar um pouco. — falei, retirando a varinha do bolso de minha calça jeans.

Foi quando eu ouvi som de passos pesados, folhas secas sendo esmagadas. Alguém estava ali.

Guardei minha varinha rapidamente e me virei na direção do som.

— Edward?

Não consegui esconder nem o choque em meu rosto ou a surpresa em minha voz ao ver o namorado de minha irmã se aproximar de onde eu estava, saindo de uma pequena trilha que eu nem mesmo tinha notado. Poderia ter usado ela, droga.

— Nós podemos conversar? Estava chegando em sua casa quando te vi vindo para cá.

— E não pensou em me chamar em vez de me seguir como um maluco por uma trilha para dentro de uma mata fechada? — acabei soando mais rude do que desejava.

— Me desculpe, você tem razão. — ele sorriu enquanto se aproximava. Parecia sincero em suas desculpas, até mesmo amigável, mas vê-lo se aproximar fez com que um arrepio percorresse meu corpo.

Ele não é o Cedric, Anne.

— Tudo bem. Mas e então, o que você quer conversar comigo?

Sombras do Passado ( twilight / hp au)Onde histórias criam vida. Descubra agora