𝙿𝚛𝚘́𝚕𝚘𝚐𝚘

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Estava chovendo muito, e ele ainda não havia chegado. Meu voo sairia daqui a vinte e sete minutos e ele ainda não tinha falado comigo.

Nós havíamos brigado, não nos falávamos desde que eu contei pra ele há uma semana. Mas ele vem, eu sei que ele vem, ele precisa vir ou eu terei que terminar pelo telefone. Eu não quero fazer isso.

Desde que eu recebi o e-mail dizendo que eu tinha sido aprovada na faculade, eu já sabia o que eu teria que fazer. Eu sabia que era ele ou meu sonho.

E vocês podem achar que isso foi egoísta da minha parte, mas eu escolhi meu sonho, eu tenho tudo planejado desde que eu tinha treze anos. Vou estudar, fazer faculdade, conseguir um emprego e ser feliz.

Ele obviamente não ficou muito feliz com isso, mas eu não posso deixar de seguir meus sonhos, minha vida apenas por um momento que eu nem sei se vai realmente durar.

É claro, eu amo ele, muito. Mas eu preciso aceitar essa chance. É uma chance em mil. Eu consegui tê-la. E eu não pretendo desperdiçá-la.

Eu estou com os meus pais esperando a hora de embarcar no avião. Minhas amigas já chegaram. Elas estão chorando muito. Mais do que o normal pra elas. Estão me abraçando de quinze em quinze segundos dando a desculpa de que "você vai ficar longe por um bom tempo, é nosso dever garantir que você não vai ficar com saudade dos nossos abraços...". Eu até gosto disso, as vezes elas são escândalosas, barulhentas e muito loucas, mas são minhas melhores amigas, e eu daria minha vida por elas, e sei que elas fariam o mesmo por mim.

Eu estava olhando pro relógio a cada minuto, mas não queria que ninguém percebesse, então disfarçava olhando distraidamente pra porta do aeroporto. No meio de um dos quinhentos abraços que eu estava recebendo, eu o vejo.

Ele está com uma calça preta, uma jaqueta escura, e um tênis esportivo e o cabelo dele está pingando por conta da chuva. E mesmo assim, ainda é o cara mais lindo que eu já vi na vida.

Ele corre os olhos pelo aeroporto e para quando me vê.  Então, abre um sorriso torto e começa a andar até mim.

Eu realmente não sei como eu vou fazer isso, terminar. Vai ser difícil. Muito difícil. Mas eu preciso fazer isso. É para o seu próprio bem, eu dizia pra mim mesma, tudo vai ficar bem, você vai superar, ele vai superar, e vocês dois vão viver felizes separados.

Quando ele chegou perto de mim, ele parou, me encarou e ficou em silêncio, ainda sorrindo.

Então, eu pedi licença às meninas e aos meus pais, dizendo que eu precisava conversar com ele e começamos a andar. Eu tinha dezenove minutos.

Depois que nós afastamos um espaço considerável pra que elas não nos ouvissem, eu cheguei mais perto e, juntando toda a coragem que eu tinha em mim eu disse, rápido demais :

-Mat, nós....ah nós não podemos mais ficar juntos.

Ele parou de sorrir e olhou pra mim. Ele me encarou, e eu vi que as chamas e o calor que haviam naqueles olhos estavam se apagando. E isso doía mais do que podia imaginar.

Rápido demais. Eu tinha ido rápido demais. Um namoro que durou bons e lindos dois anos. Dois dos melhores anos da minha vida eu passei ao lado dele. Eu sinceramente não achava que o namoro iria durar no começo. Eu pensava que isso era apenas o primeiro namoro que eu lembraria com carinho, mas o tempo foi passando e eu percebi que isso não ia acabar. Não tão facilmente. Não tão rápido.

Ele deixou a emoção transparecer e apenas disse :

-Por quê?

-Bom, eu vou me mudar pra outro estado, eu provavelmente não vou voltar e além disso você sabe que não daria certo. Essas coisas nunca dão certo sabe? Namoro a distância. Distância. Exatamente isso que acontece. Um dos dois fica distante do outro até que param de se falar e um acaba sendo traído. Simplesmente não tem como dar certo... - meus olhos ficaram marejados assim como os dele. Eu nunca gostei de mostrar os meus sentimentos. Eu sempre os escondi e os guardei às sete chaves e nunca os mostrava pra ninguém. Mas com ele nunca foi assim. Eu sempre dizia exatamente o que eu pensava e o que eu sentia.

- Mas nós deveríamos tentar. Eu tenho certeza de que podemos fazer dar certo. Isso tudo!

Eu não podia fazer isso. Simplesmente não podia. Eu não podia desistir de terminar. Eu tinha que convencê-lo de que era melhor assim. Eu precisava fazer isso.

-Mat... Eu tenho quinze minutos agora, eu preciso ir. Por favor não faça isso. Nós dois sabemos que vai ser melhor assim. E eu não tenho muito tempo então... - Eu pulei nos braços dele e o abracei com toda minha força. Eu comecei a chorar, minhas lágrimas estavam molhando a camiseta dele mas eu sabia que ele não se importava. Ele me apertou de volta e eu continuei - Você é muito importante pra mim. Você merece todas as coisas boas do mundo e merece ser feliz!

Eu o soltei e limpei meus olhos, ele também tinha chorado, mas já tinha limpado as lágrimas. Ele me olhou profundamente e me beijou. Um último beijo. O beijo era cheio de palavras não ditas. Cheio de promessas quebradas. Cheio de amor que ainda estava lá, mas não duraria. Não assim.

Nós interrompemos o beijo em busca de ar, e quando ele me olhou e eu vi, eu vi a tristeza misturada com o amor que agora ele lutava pra esconder. Ele sabia que esse era o fim, o nosso fim. Mas ele entenderia. Um dia ele entenderia, tudo isso. Ele saberia que isso foi o melhor.

Em silêncio eu limpei as lágrimas e andei até os meus pais. Era agora. Eu iria embora e, em algumas horas, estaria em um estado diferente, aprendendo o que eu sempre quis.

"Última chamada para o voo TP155. Última chamada para o voo TP155" 

Era a chamada para o meu voo. Era a minha vez de ir.

Eu abracei meus pais, cada uma das minhas amigas e abracei o Mat.

Quando eu o abracei, ele sussurrou no meu ouvido , tão baixo que eu quase não ouvi :

-Eu te amo. Muito

Quando o abraço acabou, eu percebi que se eu dissesse que também o amava, eu estaria perdida. Eu não conseguiria fazer isso. Então eu peguei minha mala, olhei cada uma das pessoas que estavam ali e falei, sem olhar pra ele :

-Eu amo vocês pra sempre.

Eu me virei e saí.

E não sabia se já estava pronta, mas eu sabia que eu iria superar isso. E tudo daria certo.

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