Quatro Anos Depois
Eu estava com muito sono. Eu tinha ido dormir às duas horas da manhã já que tinha que terminar o trabalho pra faculdade. A semana de trabalhos e provas estava me matando. Acordar cedo, dormir tarde. Isso cansa demais!
Pelo menos hoje estava chovendo, eu amo a chuva desde que eu era pequena, e além disso, o barulho das gotas de água me acalma muito.
Eu coloquei o café pra fazer e fui me arrumar. Hoje era um grande dia, eu ia apresentar o meu trabalho e enfim, acabaria essa semana e eu poderia descansar.
Depois que eu tomei o café, peguei minha bolsa ,a sombrinha e saí. Desci as escadas do prédio cantarolando uma música que ouvi em algum lugar e quando cheguei na rua, senti as gotas de água pingarem no topo da minha cabeça.
Eu abri a sombrinha e saí a procura de um táxi. Já faziam quatro anos que eu morava aqui e eu ainda não tinha comprado um carro.
Eu precisava ver isso nesse fim de semana.
Certo, vamos pensar.
Eu vou dormir cedo hoje, descansar. Amanhã eu acordo cedo, tomo um café, arrumo minha parte do apartamento e saio. Talvez eu chame a Alice pra ir comigo, ela gosta dessas coisas.
Alice foi a primeira amiga que eu fiz quando cheguei aqui em Minas Gerais . Ela foi super legal comigo, me mostrou os lugares que eu precisaria frequentar, me mostrou apartamentos pra alugar e pra dividir, e nós somos amigas desde então. Ela ama carros e sabe tudo sobre eles. Ela será a companheira perfeita pra ir comigo comprar um.
Eu fiz outros amigos também, a minha colega de apartamento, a Diana, é super legal e animada, vai a festas no mínimo três vezes por semana - "Nós temos que aproveitar o nosso tempo e festas são essenciais para nós " é o que ela sempre fala - e no dia seguinte é a primeira a sair pra faculdade. Eu realmente não sei como ela aguenta. Mas pelo menos ela nunca trouxe nenhum cara pra cá, não que eu tenha visto.
O Yago, é outro amigo que eu fiz aqui. Nós somos amigos desde que a Diana o trouxe pro apartamento dizendo que iria fazer uma "sessão cinema" à uns dois anos . Nós conversamos pouco aquele dia, mas a Diana passou a trazê-lo pro apartamento várias vezes por semana. No começo eu não gostava muito, já que eu gostava de privacidade, mas com o tempo eu me acostumei e nos tornamos amigos. Eu sei tudo sobre a vida dele. Os pais são separados desde que ele tinha quatorze anos, ele morava com a mãe desde então. Ele faz faculdade de Engenharia Civil, está no último semestre, e é um ano mais velho que eu.
Eu ainda estava na rua do prédio quando lembrei que eu tinha esquecido o pen-drive com o trabalho. Tinha pensado tanto no carro e nos meus amigos que eu esqueci do principal pra hoje. Eu olhei no relógio. Ainda dava tempo de voltar até o apartamento e buscar, se eu fosse rápida.
Eu voltei meio andando meio correndo, rápido demais pela rua até chegar no meu apartamento. Eu subi as escadas bem rápido até chegar no terceiro andar e peguei minhas chaves. Eu abri a porta e fui direto pra escrivaninha do meu quarto onde eu tinha guardado o pen-drive.
Eu abri as gavetas e revirei uns papéis até que achei no canto, bem escondido o pen-drive. Eu o peguei, coloquei na bolsa e fui em direção a porta. Quando eu estava passando pela sala, eu vi o porta-retrato que tinha uma foto de quatro anos atrás, no dia que eu estava no aeroporto, esperando pra embarcar em um voo pra Minas Gerais .
Na foto eu estava sorrindo, com os olhos levemente vermelhos. Meus pais estavam do meu lado com minhas amigas e mais no fundo, o Mat. Eu não me arrependo da escolha que eu fiz. Eu estou amando a faculdade. Todos aqui são ótimos, eu fiz amigos, mas se eu pudesse escolher qualquer coisa, eu iria querer que ele estivesse aqui.
Às vezes eu me pego pensando como será que ele está hoje. Porque depois do dia em que eu fui embora, nós não nos falamos mais. Nenhuma ligação nem mensagem. E eu fico pensando... Será que ele arrumou uma namorada? Será que ele me esqueceu? Eu não sei se eu gostaria de saber da resposta, e tem vezes que eu simplesmente ignoro isso, eu queria que ele fosse feliz. Eu não posso ser egoísta agora e querer que ele simplesmente esteja sozinho e pense em mim pelo menos uma vez por dia. Isso seria ruim da minha parte.
No começo ele perguntava por mim. Conversava com a Giulia e com a Manuela e perguntava se eu estava bem. E elas me contavam com certeza.
Nesses quatro anos eu não voltei pra casa. Não foi justo com a minha mãe, eu sei. Mas além das lembranças que eu tinha sobre o que aconteceu lá , eu nunca tinha tempo. E normalmente eu passava as minhas férias trabalhando em uma loja de roupas e sapatos. Então não tinha como voltar e meus pais entendiam.
Eu parei de pensar nisso e olhei às horas. MEU DEUS. Eu tenho cinco minutos pra pegar um táxi, senão eu vou chegar atrasada na apresentação.
Não adiantou de nada eu ter acordado cedo se eu ia demorar tanto pra sair.
Eu saí do apartamento ainda mais rápido do que eu tinha chegado - se é que isso era possível - tranquei a porta e saí.
Desci as escadas de dois em dois degraus e saí pra rua. Abri a sombrinha e andei pelas calçadas procurando um táxi. Se eu tivesse saído cinco minutos antes... Não, eu não posso pensar nisso, eu vou chegar no ponto de táxi e pegar um, vou pra faculdade e vou chegar a tempo.
Eu comecei a atravessar a rua correndo. Um trovão soou no céu. E a última coisa que eu ouvi foi a busina do carro antes de sentir uma dor enorme no lado direito do corpo, minha visão escurecer e eu cair no chão.
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O último "Eu Te Amo"
RomansaEm cinco minutos , tudo pode mudar, todos os seus planos, sua carreira, e além de tudo, sua vida. Cinco minutos. Um acidente, uma mudança repentina de volta para a sua cidade natal que trará muitas lembranças do passado que Gabrielle tentava esquece...