Eu termino de arrumar a garagem depois de ficar pelo menos duas horas alí. Minha mãe finalmente pararia de reclamar de mim e da minha bagunça. Pego o saco de lixo preto e aperto o botão para abrir o portão da garagem.
A rua estava bem calma, caminho bem devagar em direção a calçada e coloco o saco dentro da lixeira. Coloco as mãos nos bolsos do meu short e aproveito um pouco da brisa noturna.
Depois de alguns minutos na calçada, eu volto para dentro, aperto o botão e então começo a escutar uma voz.
– Ei! Socorro, socorro
Consigo ver o garoto correndo em direção a minha casa antes que o portão se feche totalmente. Fico pensativo, o que será que está acontecendo. Escuto batidas no portão e me assusto um pouco.
– Ei, por favor, me ajuda, eles estão atrás de mim – a voz era bem suplicante e era possível ouvir sua respiração afobada – Me ajuda, por favor.
Coço minha cabeça e fico pensando se aquilo não seria uma brincadeira de mal gosto ou até uma armadilha, mas meu coração acelera. Eu poderia deixar alguém que supostamente está em perigo? Não.
Pego o meu taco de beisebol que tem o meu apelido grafado, Chan, e aperto o botão da garagem que começa a abrir, o garoto nem espera o portão abrir totalmente, ele se agacha e entra.
– Fecha, por favor! – ele me olha, era possível ver o nervosismo e o medo estampados em seu rosto.
Bufo e aperto o botão para a garagem fechar.
– O que está acontecendo? – observo o garoto bem desconfiado.
Ele apoia sua mãos nos joelhos e tenta recuperar o fôlego, parecia que tinha acabado de correr uma maratona.
– Obrigado... Tem uns... Uns caras atrás de mim – ele respira fundo.
– Por que eles estão atrás de você?
– Bom, eles estavam tentando fazer alguma coisa com uma garota na rua em que eu estava passando, então eu meio que bati neles com um pedaço de madeira que encontrei. Eles se voltaram pra mim e a garota começou a correr, bom, e eu também, eles são bem mais fortes do que eu – ele dá um sorriso sem graça.
– Hum – eu ainda o olho desconfiado.
– Bom, se você me deixar ficar aqui por 10 minutos, eu agradeceria muito, eu só preciso despistar eles e eles nem me viram entrar aqui – ele olha para mim com uma expressão de pena.
– Como se chama? – pergunto tentando parecer indiferente, mas eu precisava de mais informações obviamente.
– Felix. Você poderia me dar um pouco de água?
– Não. Aonde você mora?
– Vermont Park – Felix responde rápido.
– Não é tão longe daqui, mas o que estava fazendo por aqui? – eu finalmente encosto o taco na parede novamente.
– Eu fui naquele centro de esportes ver se eu podia começar a fazer algumas aulas, mas...
– Entendi – o interrompo.
Depois de algum tempo em silêncio e se encarando, ele finalmente fala.
– Acho que já está seguro pra eu poder sair.
– Sim – coloco a mão no botão, mas me detenho antes de abrir – Vem, eu vou pegar água pra você.
Nós entramos em casa e Felix percorria todos os lugares que podia com os olhos. Percebo que tinha um quê de surpresa estampado em seu rosto, admito que a casa da minha família é grande, mas também não é uma mansão luxuosa.
Na cozinha, eu pego um pouco de água enquanto sinto o olhar do garoto me perseguir.
– Toma – lhe entrego o copo.
Ele toma toda a água em um só gole.
– Precisa de mais? – o olho sério e ele apenas faz que sim com a cabeça.
– Você tem uma grande casa – o escuto falar enquanto encho o copo novamente.
– É – devolvo o copo a ele.
Após ele terminar de beber a água, eu o acompanho até a porta.
– Muito obrigado, eu acho que não teria conseguido correr por muito mais tempo – ele dá um pequeno sorriso.
– Você vai andando para a casa?
– Sim – ele dá uma olhada na rua – não é muito longe, não vou demorar pra chegar lá.
– Ok – lhe dou um pequeno sorriso.
– Tchau... – ele faz uma cara confusa.
– Christopher, mas pode me chamar de Chan.
– Ok, então tchau, Christopher – ele fala e eu me arrepio ao ouvir meu nome sendo pronunciado com aquele tom de voz grave e suave.
– Tchau, Felix.
Nos encaramos por mais 2 segundos antes que ele se vire e comece a atravessar o gramado.
Um fato sobre mim: eu me preocupo muito com as pessoas, não gosto de vê-las se machucando ou correndo algum perigo. Bom, às vezes eu odeio esse fato sobre mim.
– Felix – falo alto para poder ser ouvido já que o garoto já estava na calçada.
Ele se vira e me olha confuso.
– Quer que eu te leve para casa?
5 minutos depois eu estava montado na moto entregando o capacete para ele.
Nós dois colocamos o capacete na mesma hora, ele me fala seu endereço e eu o coloco no GPS. Ele monta na moto e então eu dou partida.
Suas mãos estavam apoiadas na parte de trás da moto, mas quando acelero, ele as coloca em minha cintura. Me arrepio um pouco ao sentir seu toque, mas ele devia ter se sentido envergonhado já que tira suas mãos rapidamente.
Eu sigo as instruções do GPS tranquilamente e em 7 minutos chegamos no local indicado.
– Muito obrigado – ele me entrega o capacete e me oferece sua mão para me cumprimentar.
– De nada – pego o capacete e com a outra o cumprimento.
Suas mãos eram pequenas e estavam geladas.
– Vou indo – falo.
– Tchau – ele sorri e eu retribuo.
Outro fato sobre mim: sou uma pessoa muito perceptiva e, bom, não pude deixar de memorizar o rosto daquele garoto. Seus olhos castanhos, sua pele bem branca, seu cabelo loiro claro e aquelas sardas que acentuava ainda mais todos os outros traços.
Enfim, quando deito na cama naquela noite não consigo parar de pensar em Felix e eu não entendia o porquê.
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Stray with Me (Chanlix)
RomanceChan sempre soube quem era e mesmo assim nunca teve a oportunidade de experienciar e sentir o amor incondicional por alguém. Felix sempre tentou ser o filho perfeito e exemplar e constantemente se reprimiu para agradar as pessoas que ama. Esses dois...