Chan

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– Você namora, Felix? – pergunto meio sem pensar e logo me arrependo.

Quem começa uma conversa com uma pergunta assim. Nós estávamos sentados na beira da piscina, com os pés na água e ainda molhados.

Ele me olha por alguns segundos, cerra os olhos por um momento.

– Não, não namoro, acho que eu não tenho muito tempo para isso agora, sabe? Meus pais me matariam se eu namorasse agora – ele solta um riso fraco e eu assinto para ele – E você? – nos olhamos.

– Não, eu tenho tempo, mas ninguém me parece interessante...

– Então você deve ser exigente – ele ri e eu também.

– Não, não é isso, é que não tive aquele boom com alguém – ele me olha e ri enquanto balança a cabeça de forma negativa.

– Eu sei do que você está falando – ele fala e sorri.

– Sabe? – eu olho para ele curioso e ele arregala os olhos.

– Eu não... Eu nunca tive aquele boom com alguém – ele fala bem rapidamente e sinto uma oscilação em sua voz.

– Quantos anos você tem, Felix? – pergunto por curiosidade ele não parecia ter a mesma idade que eu.

– 17 e você? – ele fala e eu me sinto aliviado, mas não sabia porquê.

– 21 – dou um pequeno sorriso para ele que retribui.

– Então você está estudando e se preparando para continuar trabalhando com o seu pai? – ele me olha sério.

– Não – respondo rápido – eu estudo música na UTS...

– Sério? – ele pergunta impressionado.

– Sim – ele ri – a música é minha paixão, espero conseguir trabalhar com isso algum dia.

– Boa sorte, não é um ramo fácil, mas acho que você dá conta – ele sorri e eu retribuo – Eu toco guitarra e baixo.

– Sério? – agora é minha vez de olha-lo impressionado – Eu tenho uma banda, sou o vocalista e toco guitarra.

– Nossa, que foda...

– Nós não temos um baixista ainda, se você quiser posso conversar com o pessoal e ver se você pode tocar com a gente – ele dá de ombros.

– Eu nunca toquei pra alguém, tipo eu faço só por diversão, pra mim mesmo – ele fala nervoso.

– Você dá conta – rio e ele também ficando um pouco menos tenso.

– Eu tenho que ir – ele se levanta e eu também.

– Ok, hum, você pode me passar seu número e se o pessoal da banda topar, eu mando mensagem pra você, você só tem que pensar nisso – dou de ombros e sorrio.

– Beleza, eu vou pensar... – ele sorri.

– Vamos lá pegar nossas coisas...

Nos trocamos no vestiário e depois voltamos para os armários onde havíamos deixado nossas coisas.

– Me fala seu número – ele fala enquanto pega seu celular na bolsa.

Eu estava feliz por ele ter pedido meu número. Passo o número para ele.

– Me envia uma mensagem para eu poder adicionar o seu número.

Ele concentra seu olhar na tela do celular e então escuto meu celular vibrar dentro do armário. Pego-o e havia lá uma mensagem de um número desconhecido.

Número desconhecido: Felix aqui

Sorrio ao ler a mensagem e me viro ainda sorrindo para o garoto que também sorrio.

– Oi Felix – Rio e ele também.

– Então, eu vou indo, muito obrigado por me deixar nadar, fazia tempo que não nadava desse jeito foi revitalizador e obrigado por me chamar pra sua banda – Ele ri.

– De nada, Felix – ofereço minha mão para cumprimentá-lo.

– Falou, Christopher – ele aperta minha mão.

Sorrimos fraco uma última vez e então ele se vai.

Conforme os dias vão se passando, eu resisto ao impulso de mandar mensagem para Felix. Primeiro, porque eu mesmo não sabia porquê eu queria falar com ele e segundo, nós nem nos conhecíamos ele poderia achar isso estranho.

Seis dias depois de encontrar Felix no clube, meu pai me visita em meu apartamento perto da faculdade.

– Eu vim trazer os currículos dos inscritos no programa para você avaliar, estou sem tempo e a Vivian também – meu pai fala enquanto se senta no meu sofá.

– Mais trabalho, ótimo – falo desanimado – Você sabe que eu tenho as coisas da minha faculdade para fazer, né?

– Filho, vai ser rápido, basicamente você tem que olhar quem tem as maiores notas, as maiores médias e maior número de atividades complementares, só são 15 currículos.

– só 15? – falo ironicamente.

– Quer que eu falo para o seu irmão vir te ajudar?

– Não, prefiro fazer sozinho – falo sério e pego os papéis da mão do meu pai – Eu fiz suco de laranja, pega ali na geladeira.

– O bebê está crescendo – meu pai ri e se levanta indo para a cozinha.

– Eu tenho que te entregar quando? – pergunto enquanto folheio os papéis.

– Na segunda – ele dá um sorriso descarado para mim.

– Ótimo – bufo.

Mais tarde naquele dia, eu resolvo começar a dar uma olhada nos currículos já que teria um fim de semana um pouco agitado.

O terceiro currículo era o de Felix, suas notas eram bem melhores que as minhas quando eu estava no ensino médio.

– Nossa, me pergunto como ele dá conta de fazer tudo isso – rio sozinho.

Felix fazia muitas atividades complementares incluindo matemática avançada e química orgânica.

Fico feliz por ele ser o melhor, mas isso não ocorre até o final já que o último inscrito tinha uma nota mais alta que Felix. Bufo enquanto olho para aquelas notas, era uma diferença mínima entre 9.2 e 9.5, respiro fundo.

Eu tinha visto Felix nadar, ele realmente era bom e eu pude ver em seus olhos que ele realmente gostava de fazer aquilo.

– Chan, você não pode fazer isso – digo a mim mesmo ao pensar em fazer algo a respeito.

Respiro fundo e me levanto, precisava  me distrair para não fazer nenhuma cagada, então calço meus tênis e resolvo dar uma corrida pelo bairro universitário.

Enquanto corria, pensava nas notas e se eu devia ajudar Felix, penso em Felix sorrindo, em a gente curtindo na piscina, em ele nadando, em ele de sunga.

– Que droga

Volto para o apartamento, pego meu notebook e começo a digitar uma cópia do currículo do melhor inscrito, porém modifico algumas notas para que sua média total desse 9,1. Se eu estava orgulhoso disso? Não, eu não estava, mas eu queria Felix lá, por razões que não queria admitir a mim mesmo.

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Muito obrigado por lerem, por favor favoritem e compartilhem para me incentivar a continuar escrevendo. Sintam-se a vontade para comentarem, eu amo interagir com os leitores.

Stray with Me (Chanlix)Onde histórias criam vida. Descubra agora